Mix diário

Com foco na derrubada de decreto, Ibovespa sobe quase 1%; dólar cai 1,02% e fecha a R$ 5,4986

O Ibovespa teve uma recuperação em linha com a perda do dia anterior, replicando o padrão lateralizado que tem prevalecido na B3 ao longo de junho, que manteve o índice na faixa de 136 a 137 mil pontos na maior parte do mês, excetuando-se duas sessões – na quarta-feira e no dia 9 – nas quais tocou em fechamento a casa dos 135 mil.

Assim, depois de ter renovado máxima histórica aos 140 mil pontos em 20 de maio, o Ibovespa mostra uma acomodação, à espera de novos catalisadores que o impulsionem, mas sem grande inclinação a uma correção mais aguda, para baixo. No melhor momento do intervalo, o índice retornou aos 139 mil, no fechamento do dia 16.

Nesta quinta-feira, o índice oscilou entre mínima de 135.755,55 pontos e máxima de 137.352,98 pontos, saindo de abertura aos 135.767,29 pontos. No fechamento, mostrava ganho de 0,99%, aos 137.113,89 pontos, com giro financeiro a R$ 22,0 bilhões na sessão. Em junho, segue no zero a zero (+0,06%), preservando alta de 13,99% no ano.

A recuperação quase integral da perda de 1,02% observada na quarta se ancorou no desempenho das blue chips, quase todas em alta nesta quinta-feira, com Vale ON, o principal papel da carteira à frente, com avanço de 3,01% no encerramento. Outro carro-chefe, Petrobras ON e PN, teve alta de 0,74% e 0,80%, pela ordem. Entre os grandes bancos, exceção para a principal ação do segmento, Itaú PN, em baixa de 0,74% – os ganhos do dia entre as principais instituições financeiras chegaram a 1,60%, em Banco do Brasil ON (na máxima do dia no fechamento, assim como Bradesco PN, +0,91%).

Na ponta ganhadora do Ibovespa, Azzas (+5,97%), Natura (+4,97%), Vivara (+4,26%), TIM (+4,03%) e MRV (+3,63%) – o alívio no mercado de juros e o sentimento de maior apetite por tomada de risco impulsionaram ativos mais sensíveis ao ciclo da economia, como os dos setores de consumo e construção. No lado oposto, contudo, também apareceram nomes como Localiza (-7,28%), Vamos (-7,14%), Vibra (-2,26%) e RD Saúde (-1,68%).

“Dia positivo para o apetite por ativos no Brasil, o que inclui queda de 1% no dólar frente ao real abaixo de R$ 5,50 no fechamento. A derrubada do decreto de aumento do IOF – a primeira de um decreto presidencial em décadas – mostra força do Congresso em relação à tentativa de se impor medidas arrecadatórias, no sentido de aumentar impostos para cobrir rombo nas contas públicas”, diz Rodrigo Alvarenga, sócio da One Investimentos, acrescentando que vários partidos da base, inclusive os detentores de postos ministeriais, votaram pela supressão do decreto.

Nesta quinta, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, disse que a equipe econômica tem de duas a três semanas para definir uma solução para a derrubada do decreto que elevava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). O prazo está ligado ao próximo relatório bimestral de avaliação de receitas e despesas, em 22 de julho. “Foram sinalizados alguns caminhos e vamos ver qual deles vai prosperar para que a gente possa seguir em frente, cumprindo o Orçamento e evitando o cenário mais drástico na execução orçamentária”, afirmou o secretário.

Após a derrubada do decreto, Ceron afirmou que se o governo não conseguir encontrar fontes de receita, “naturalmente vai ter contenção ainda maior”. “A contenção maior vai ter efeitos em políticas públicas; é volume relevante dada a contenção já feita”, acrescentou o secretário do Tesouro. A equipe econômica calcula que o impacto da decisão do Congresso sobre o aumento do IOF é de R$ 12 bilhões.

Ainda na quarta-feira, antes de o Legislativo aprovar o projeto que sustou o decreto do IOF, a ministra responsável pela articulação política, Gleisi Hoffmann, disse que havia risco de descumprimento da meta fiscal de 2025, além de maior dificuldade de efetivação da meta de 2026. Gleisi comentou também que os bloqueios e contingenciamentos terão que ser elevados de R$ 31 bilhões para R$ 41 bilhões.

“Temos reforçado, nos nossos calls, que a chance de mudança da meta fiscal de 2026 é elevada. Mesmo com as receitas adicionais do IOF, a revisão de gastos tributários – ainda não enviada pelo Executivo – e a MP 1303, seria preciso contingenciar de R$ 25 bilhões a R$ 30 bilhões no ano que vem”, observa em nota o economista-chefe da Warren Investimentos, Felipe Salto. “Sem as receitas novas do IOF e com todas as incertezas em torno das demais medidas, o contingenciamento requerido para cumprir o piso da meta do ano que vem torna-se ainda maior.”

Dólar

O dólar acentuou o ritmo de baixa ao longo da tarde e furou o piso de R$ 5,50, acompanhando o recuo mais expressivo tanto da moeda norte-americana no exterior quanto das taxas dos Treasuries, diante de apostas crescentes em cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos). O real apresentou nesta quinta-feira, 26, o melhor desempenho entre as moedas mais líquidas, incluindo desenvolvidas e emergentes.

Operadores atribuem o fôlego extra do real, em parte, à percepção de um quadro benigno para a economia brasileira, com arrefecimento da inflação revelado pelo IPCA-15 de junho. Além disso, houve reforço do compromisso do Banco Central com a busca pela meta de inflação na apresentação nesta quinta do Relatório de Política Monetária (RPM).

As expectativas em torno da corrida presidencial de 2026 também estariam contribuindo para a apreciação do real, segundo analistas. A derrubada do decreto do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) na quarta pelo Congresso mostraria enfraquecimento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e chances de vitória de um candidato mais à direita no espectro político, em tese favorável à política fiscal mais austera.

Com mínima a R$ 4,4996, o dólar à vista encerrou o pregão em queda de 1,02%, a R$ 5,4986 – menor valor de fechamento desde o dia 17 (R$ 5,4968). Após o tombo desta quinta, a moeda norte-americana volta a apresentar baixa na semana (0,48%). As perdas em junho são de 3,86%, o que leva a desvalorização acumulada no ano a 11,03%.

No exterior, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes – caiu ao menor nível em três anos em meio à notícia de que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, considera antecipar a nomeação do próximo presidente do Federal Reserve, em substituição a Jerome Powell, cujo mandato termina em maio de 2026. No ano, o Dollar Index cai pouco mais de 10%.

A economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, afirma que o enfraquecimento global do dólar, com perda de fôlego da economia norte-americana e as apostas para cortes de juros nos EUA neste ano, ditou o comportamento da taxa de câmbio. O real teria se destacado, entre outros pontos, pela leitura benigna do IPCA-15 de junho, que sugere um quadro inflacionário mais controlado.

“Isso acaba trazendo uma visão mais positiva para a economia, o que favorece a moeda. A instabilidade política com a derrubada do IOF, que tem um impacto fiscal importante, não abalou o real”, afirma Quartaroli, ressaltando que o país continua a “atrair capital especulativo” em razão da taxa de juros elevada.

O IPCA desacelerou de 0,36% em maio para 0,26% em junho, abaixo da mediana dos analistas consultados pelo Projeções Broadcast, de 0,31%. As previsões iam de 0,20% a 0,37%. Economistas ouvidos pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) apontam uma composição mais positiva da inflação, com menor pressão no setor de serviços.

A apresentação do RPM reforçou a mensagem do comunicado da reunião deste mês do Comitê de Política Monetária, quando a Selic foi elevada de 14,75% para 15%, de que a taxa básica de juros ficará em nível elevado por “período bastante prolongado” – o que tende a manter a atratividade do real para operações de carry trade e a desencorajar o carregamento de posições em dólar.

A derrubada do IOF não se traduziu ainda em aumento dos prêmios de risco embutidos na taxa de câmbio, apesar dos impactos negativos sobre a receita, que lançam dúvidas sobre o cumprimento das metas fiscais. Em relatório, o economista-chefe da Warren Investimentos, Felipe Salto, afirma que a derrota do governo “torna quase certa a mudança” da meta fiscal de 2026.

À tarde, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Cerson, disse, contudo, que não vê em declarações de representantes do Executivo e do Congresso o intuito ou qualquer indicação no sentido de alterar a meta de 2026. Ceron também afirmou que a equipe econômica tem de duas a três semanas para encontrar uma solução para compensar a questão do IOF. O prazo está ligado à divulgação, em 22 de julho, do próximo relatório bimestral de receitas e despesas.

O economista-chefe do Integral Group, Daniel Miraglia, afirma que parte do mercado já começa a operar de olho na eleição presidencial. A derrubada do IOF sugere que parte expressiva do Congresso começa a abandonar o governo Lula, cuja popularidade está em baixa, e a se posicionar para dar apoio a um candidato da oposição.

“Parte do mercado leu essa derrota do governo como um sinal de que Lula não vai vencer a reeleição. Ao mesmo tempo, o Congresso colocou o governo em uma sinuca de bico, recusando a agenda de aumento de impostos e forçando a um contingenciamento maior para cumprir as metas, o que é positivo”, afirma Miraglia.

Juros

Com dados melhores do que o previsto de inflação e sem novidades na comunicação mais firme do Banco Central (BC) sobre o cenário de Selic elevada por um período maior de tempo, os juros futuros encerraram o pregão desta quinta-feira em queda, movimento mais evidente a partir dos vencimentos intermediários. A principal influência de baixa na curva foi o IPCA-15, divulgado hoje pelo IBGE, que mostrou descompressão mais forte que o esperado.

A prévia da inflação oficial desacelerou de 0,36% em maio para 0,26% em junho, abaixo da mediana de 0,31% prevista por 30 instituições consultadas pelo Projeções Broadcast. A média dos núcleos do indicador também perdeu fôlego na passagem mensal, de 0,40% para 0,31%, ao mesmo tempo em que outros dados sinalizaram uma dinâmica inflacionária mais benigna: o índice de difusão, que mede o porcentual de componentes com alta no mês, ficou em 55,77% na medição atual, ante 66,49% na anterior. Já a inflação de serviços subjacentes, que reúne preços mais sensíveis à política monetária, recuou de 0,45% para 0,42% na passagem mensal, abaixo da mediana de 0,46% prevista pelos analistas ouvidos pela Broadcast.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 terminou a sessão em 14,930%, de 14,945% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027, em 14,185%, de 14,233% ontem. A taxa do DI para janeiro de 2029 caiu de 13,406% no ajuste da véspera para 13,300% no fechamento de hoje.

Segundo Marcelo Bacelar, gestor de portfólio da Azimut Brasil Wealth Management, os dados conhecidos hoje corroboraram uma tendência mais moderada de inflação notada desde maio. O IPCA-15 do mês atual foi a terceira leitura consecutiva de resultado abaixo do esperado pelo mercado, destacou. A Azimut previa alta de 0,31% para o índice. “São números bons de inflação que vêm na contramão do nível de atividade mais forte no primeiro trimestre e ajudam as expectativas de curto prazo a serem revisadas para baixo”, diz o gestor.

Bacelar observa que o consenso do boletim Focus para a alta do IPCA este ano estava em 5,5% há um mês, caiu a 5,24% na última semana e, após o IPCA-15 de junho, tende a diminuir ainda mais. Isso ajuda o mercado a trabalhar com expectativas inflacionárias menores mais para frente, avalia ele, o que explica o fechamento observado hoje nos juros futuros, afirma o gestor. Os dados mais fracos de inflação se somam à comunicação mais dura da autoridade monetária, acrescentou.

Mais cedo, o BC divulgou seu Relatório de Política Monetária (RPM), que endossou o recado já dado na última ata e comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) de que a Selic vai ficar no atual patamar de 15% por um horizonte prolongado. Os juros futuros recuaram em toda a curva, especialmente nos vértices longos na sessão de hoje, observa Alexandro Nishimura, economista e diretor da assessoria de investimento Nomos, com o mercado ponderando entre o tom rígido do último comunicado do Copom e a chance de um alívio monetário à frente, caso a inflação siga perdendo fôlego.

Na gestão da dívida, o Tesouro realizou hoje o último leilão do segundo trimestre, vendendo integralmente o lotes de 28 milhões de LTN e 112,5 mil das 300 mil NTN-F ofertadas. Mesmo com risco 11% (DV01) maior para o mercado ante o leilão da semana passada, a operação não teve interferência no comportamento da curva do DI. Na semana, o Tesouro emitiu R$ 39,1 bilhões – 1,32% abaixo da semana anterior, mas 5,56% acima da média do ano, informa a Warren Investimentos. “Nesse ritmo, o estoque da dívida deve encerrar 2025 em R$ 8,8 trilhões, com um colchão de liquidez capaz de cobrir 12 meses de vencimentos”, afirma Luis Felipe Vital, chefe da área de estratégia para dívida pública da corretora.

Estadão Conteudo

About Author

Deixar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Você também pode se interessar

Mix diário

Brasil defende reforma da OMC e apoia sistema multilateral justo e eficaz, diz Alckmin

O Brasil voltou a defender a reforma da Organização Mundial do Comércio (OMC) em um fórum internacional. Desta vez, o
Mix diário

Inflação global continua a cair, mas ainda precisa atingir meta, diz diretora-gerente do FMI

A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva disse que a inflação global continua a cair, mas que deve