Opinião

Igualdade de Gênero: Respeito, Dignidade e a Beleza das Diferenças

Falar sobre igualdade de gênero é, antes de tudo, reconhecer que igualdade não significa replicar opressões, inverter papéis ou apagar as diferenças naturais entre homens e mulheres. Igualdade é, sim, sobre construir relações justas, éticas e humanas, onde o gênero jamais seja critério para determinar quem merece respeito, segurança, reconhecimento ou afeto.

A luta das mulheres não é, e nunca foi, para sermos tratadas como homens. Não se trata de negar as diferenças, sejam elas físicas, emocionais ou comportamentais, que fazem parte da própria constituição dos gêneros. Pelo contrário, é justamente na valorização das diferenças que se constrói uma sociedade mais harmônica, justa e saudável. O que se busca é que essas diferenças não sejam usadas como justificativa para inferiorizar, excluir, agredir ou limitar ninguém.

A sensibilidade feminina, tantas vezes mal interpretada como fragilidade, deve ser compreendida como uma dádiva da existência. A capacidade de acolher, de perceber detalhes, de intuir, de se conectar emocionalmente e de construir afetos profundos é uma riqueza imensurável, que deveria ser valorizada socialmente, e não desconsiderada ou subestimada.

Da mesma forma, quando um homem demonstra cuidado, carinho, proteção e respeito, quando metaforicamente oferece “flores” a uma mulher, isso não a inferioriza, não a diminui, nem a coloca em posição de fragilidade ou dependência. Pelo contrário, isso representa maturidade emocional, sensibilidade e reconhecimento da beleza das diferenças que enriquecem a convivência humana.

Esse entendimento, no entanto, exige uma construção consciente, delicada e profunda. Trata-se de uma linha tênue, muitas vezes mal interpretada, onde é necessário diferenciar cuidado de opressão, proteção de controle, gentileza de submissão, valorização de hierarquização. O desafio da sociedade moderna é, justamente, aprender a caminhar por essa linha com equilíbrio, sabedoria e respeito mútuo.

Quando falamos de igualdade, é fundamental compreender que ela não significa homogeneização, nem a negação das diferenças naturais, biológicas, emocionais ou sociais que existem entre homens e mulheres. Ao contrário, a verdadeira igualdade se manifesta quando compreendemos que equidade é a base do equilíbrio da existência.

E aqui se faz essencial recordar um princípio milenar (antigo e sábio princípio, atribuído a Aristóteles), que é base não só do Direito, mas também da vida em sociedade: “Devemos tratar os iguais como iguais e os desiguais na medida de suas desigualdades.” Esse não é um conceito de privilégio, tampouco de submissão. É, na verdade, o princípio da equidade, que reconhece que, para que haja justiça, é preciso considerar as particularidades de cada ser humano.

Aplicado às relações de gênero, esse princípio significa entender que homens e mulheres possuem a mesma dignidade, o mesmo valor e os mesmos direitos, mas que trazem consigo diferenças naturais — físicas, emocionais, psicológicas e sociais — que não podem ser ignoradas, tampouco transformadas em instrumento de opressão.

Tratar os desiguais na medida de suas desigualdades não é discriminar, mas sim oferecer a cada um aquilo que lhe é devido para garantir que todos caminhem em condições de dignidade, respeito e plenitude. É reconhecer que a mulher pode ter necessidades emocionais diferentes, uma constituição física distinta, uma sensibilidade própria, e que isso deve ser visto como força, como valor, e não como limitação.

A verdadeira igualdade está fundamentada em direitos, dignidade e humanidade. É a busca incessante para que, independentemente do gênero, todas as pessoas sejam tratadas com equidade, consideração e respeito. Isso significa entender que as necessidades específicas de cada um — sejam elas físicas, emocionais ou sociais — devem ser consideradas, acolhidas e respeitadas, e não vistas como fraqueza ou inferioridade.

É importante deixar claro que essa visão não parte de um posicionamento feminista, assim como não concorda com conceitos ou práticas machistas. Ambas, muitas vezes, quando levadas ao extremo, podem reforçar lógicas de rivalidade, embate e desconexão, quando o que se busca é, na verdade, diálogo, construção e equilíbrio.

A verdadeira coragem está em romper, de forma consciente e firme, com os ciclos de violência, preconceito e desigualdade que, por séculos, sustentaram uma sociedade excludente, opressora e, muitas vezes, desumana para com as mulheres. E romper com esses ciclos exige mais do que leis: exige transformação cultural, educação, sensibilidade e, sobretudo, humanidade.

É preciso, sim, esclarecer, dialogar e conscientizar sobre como nós, mulheres, desejamos ser tratadas. Isso inclui reconhecer as diferenças que nos constituem — físicas, emocionais, biológicas — não como motivos para nos limitar, mas como elementos que enriquecem a convivência, fortalecem os vínculos e ampliam o entendimento sobre o que realmente significa viver em sociedade.

Portanto, igualdade de gênero não é sobre apagar fronteiras naturais, não é sobre competição, não é sobre anular a masculinidade, nem sobre exacerbar a feminilidade. É, antes de tudo, sobre respeito, sobre direitos, sobre humanidade e sobre a beleza das diferenças. É sobre construir, juntos, uma sociedade onde nenhuma mulher precise mais justificar sua existência, sua dignidade ou seu valor — e onde homens e mulheres possam se encontrar no equilíbrio, na admiração mútua, no cuidado recíproco e no reconhecimento da riqueza que existe em sermos diferentes, porém absolutamente iguais em dignidade e valor.

Olinda Altomare é magistrada em Cuiabá e cinéfila inveterada, tema que compartilha com os leitores do Circuito Mato Grosso, como colaboradora especial.

Olinda Altomare

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Olinda Altomare é magistrada em Cuiabá e cinéfila inveterada, tema que compartilha com os leitores do Circuito Mato Grosso, como colaboradora especial.

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