Opinião

Entre a Vida e a Terra: É Possível Viver sem destruir?

Vivemos um paradoxo insustentável: nunca se falou tanto em desenvolvimento, inovação, progresso e inteligência artificial e, ao mesmo tempo, nunca se destruiu tanto o planeta que nos abriga. A compatibilização entre a existência humana e a preservação ambiental deixou de ser um tema de nicho ou preocupação de ambientalistas radicais. Tornou-se um imperativo existencial, civilizatório e urgente. Em outras palavras: se não formos capazes de preservar o ambiente que garante a nossa própria sobrevivência, deixaremos de existir como civilização.

A pergunta que nos impõe a contemporaneidade é direta: como sustentar a vida humana sem comprometer os ecossistemas que a tornam possível?

Durante séculos, a humanidade operou sob a ilusão de que a natureza era uma fonte inesgotável de recursos. Por aqui, até o próprio nome do IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) carrega, desde sua criação (Lei nº 7.735/1989), um pressuposto implícito: o de que os recursos naturais são, em sua essência, renováveis, ou seja, passíveis de uso contínuo desde que bem geridos. Contudo, essa noção pode ser considerada ultrapassada sob a ótica ecológica contemporânea, que reconhece que nem todos os recursos naturais são efetivamente renováveis diante da escala, intensidade e irreversibilidade da interferência humana. A renovabilidade depende de tempo ecológico, de ciclos naturais e de equilíbrio climático, todos profundamente impactados pela ação humana.
Desmatamos, poluímos, secamos rios, extinguimos espécies. Em nome da produção, da eficiência e do lucro, destruímos biomas inteiros. O resultado? Crises hídricas, mudanças climáticas, pandemias zoonóticas, escassez de alimentos e conflitos socioambientais em escala global.

O que está em jogo é mais do que a “natureza”: é a própria ideia de futuro. A falsa oposição entre desenvolvimento e conservação precisa ser superada. E mais: a preservação ambiental não é inimiga da economia, ela é sua condição de existência no longo prazo. Não existe produção sem água, não há agronegócio sem solo fértil, não há energia sem clima estável.

A Constituição brasileira, desde 1988, já reconhece que todos têm direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado. Mas esse direito, como tantos outros, segue sendo ignorado na prática. É preciso mudar a lógica: parar de tratar o meio ambiente como entrave burocrático ou custo político. É tempo de assumir que a sustentabilidade não é um convite, é um chamado!

Não se trata de romantizar a natureza nem de pregar um retorno a formas primitivas de vida. A ciência, a engenharia, a tecnologia e a inteligência artificial têm um papel decisivo na construção de uma economia regenerativa, baseada em energias limpas, cidades verdes, produção circular e agronegócio regenerativo. O que falta não é conhecimento. Falta coragem política, responsabilidade institucional e compromisso ético com as futuras gerações.

Compatibilizar existência humana e preservação ambiental é, antes de tudo, um ato de maturidade coletiva, talvez até uma consciência econômica genuína. É compreender que o planeta não nos pertence, somos apenas uma parte dele. E se quisermos permanecer, temos que aprender a cuidar e frutos dele tirar. Porque, no fim das contas, a pergunta nunca foi se a Terra vai sobreviver. A pergunta é: nós sobreviveremos ao que estamos fazendo com ela?

André Luís Torres Baby

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