Se nada for feito, até ao final do século a temperatura na Terra vai subir entre 3,7 e 4,8 graus Celsius.
“A mensagem da ciência é clara: para se evitarem interferências perigosas no sistema climático temos de mudar de abordagem”, disse Ottmar Edenhofer, co-presidente do comité que redigiu o relatório sobre formas de mitigar o aquecimento global. Trata-se da última parte da avaliação do IPCC sobre o que se sabe em relação às causas e os efeitos das alterações climáticas e que servirá de base às difíceis negociações internacionais para concluir, no próximo ano em Paris, um novo acordo de redução das emissões de gases com efeito de estufa (GEE).
A última avaliação do organismo das Nações Unidas datava de 2007 e, dois anos depois, os governos comprometeram-se a limitar as emissões de forma a garantir que a temperatura na Terra não sobe mais do que dois graus Celsius em relação à média da era pré-industrial – os cálculos actuais mostram que desde então os termómetros já subiram 0,8ºC.
A partir desse limite o aquecimento terá consequências drásticas, incluindo uma subida rápida do nível do mar, cheias, secas e outros fenómenos extremos que vão diminuir a capacidade de produção de alimentos, pôr em risco a saúde e aumentar a instabilidade, sublinhou o IPCC em Março, quando apresentou o segundo capítulo da análise.
Mas nem os alertas dos cientistas, nem as recentes catástrofes naturais foram suficientes para que os governos passassem das palavras aos actos. Segundo o IPCC, entre 2000 e 2010, as emissões de GEE aumentaram 2,2%, com os Estados Unidos (a maior economia mundial) e a China (o país em maior expansão) a liderarem a lista de poluidores.
“Se não houver uma redução das emissões até 2030, será mais difícil não ultrapassar os 2ºC e as opções serão mais reduzidas”, alerta o relatório, fruto da colaboração de mais de mil cientistas, e do qual foi neste domingo divulgado um “sumário para decisores políticos”.
Para evitar uma catastrófica subida nas temperaturas, será necessário que até à metade deste século, as emissões de GEE baixem entre 40 a 70% por comparação aos níveis de 2010, mantendo progressivamente a descida até 2100. O que implica, dizem, triplicar ou mesmo quadruplicar o investimento nas energias de “baixo carbono” – definição em que se integram as renováveis, o nuclear e os combustíveis fósseis associados a tecnologia de captura e armazenamento de CO2, o principal gás com efeito de estufa.
“Não digo que seja uma mudança sem custos, ou que haja almoços grátis nas políticas climáticas, mas este é um almoço pelo qual vale a pena pagar”, disse Edenhofer, sublinhando que o mundo “tem uma janela de oportunidade de uma década, no máximo duas” para inverter caminho.
Nos cálculos do IPCC, a a aposta em energias mais limpas não põe em causa os padrões de vida atingidos nas últimas décadas, alegando que a transferência do investimento nos combustíveis fósseis para as renováveis (em expensão em vários países) irá reduzir em apenas 0,6% o crescimento previsto para a economia mundial até ao final do século. “Este relatório prova que a redução das emissões é suportável, mas que se continuarmos a adiar os custos vão aumentar”, afirmou Samantha Smith, responsável do World Wild Fund.
Público