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Dólar recua e fecha a R$ 5,64 com quadro fiscal dos EUA no radar; Ibovespa cai 1,59%

O dólar exibiu depreciação moderada em relação ao real nesta quarta-feira, 21, em mais um dia marcado por enfraquecimento global da moeda norte-americana, em meio às preocupações crescentes com o quadro fiscal dos Estados Unidos. O aumento da aversão ao risco e a queda do petróleo limitaram, porém, o fôlego de divisas emergentes, em especial latino-americanas.

Além do ambiente externo, a formação da taxa de câmbio reflete questões domésticas. De um lado, os juros elevados ajudam a amparar o real. De outro, receios fiscais inibem apostas mais firmes, sobretudo de investidores locais, em uma nova rodada de apreciação da moeda brasileira.

Com máxima a R$ 5,6780 e mínima a R$ 5,6407, o dólar à vista encerrou a sessão em baixa de 0,48%, a R$ 5,6422.

A moeda apresenta perda de 0,48% nos três primeiros pregões desta semana e de 0,61% no mês. Em 2025, o dólar recua 8,71% em relação ao real, que apresenta o melhor desempenho no período entre as divisas da América Latina.

“O mercado em geral está um pouco mais nervoso hoje. A exceção é o câmbio, que está mais comportado. O dólar perde valor no exterior contra outras moedas, como o euro e o iene, e o real está acompanhando esse processo, em virtude da correlação”, afirma o economista-chefe do Integral Group, Daniel Miraglia.

Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY caiu e rompeu o piso dos 100,000 pontos, com mínima aos 99,336 pontos. No fim da tarde, rondava os 99,600 pontos. O Dollar Index já acumula perda de mais de 1% na semana. Pares do real como os pesos mexicano e colombiano foram das raras exceções a amargar perdas em relação ao dólar.

As bolsas norte-americanas caíram mais de 1%, ao passo que as taxas dos Treasuries subiram, com o retorno dos papéis de 10 e 30 anos avançando mais de 2%. Além do rebaixamento do rating dos EUA pela Moody’s, há o impacto do receio dos investidores com o plano de corte de impostos do presidente Donald Trump, que pode agravar o déficit público.

Miraglia, do Integral Group, destaca que as taxas longas de juros estão subindo não apenas nos EUA, mas também em países europeus, como Alemanha e Itália, e no Japão, onde atingiram os maiores níveis em 40 anos.

“Quando as taxas de juros longas sobem desse jeito, em especial hoje, há uma fuga do risco, o que leva à queda das bolsas”, afirma Miraglia. “Esse processo de aversão ao risco tende a continuar até o mercado se acomodar com o novo nível dos juros. Isso vale para o mercado brasileiro, que se beneficiou recentemente muito de fluxo de capitais que saíram dos EUA.”

Por aqui, investidores aguardam a divulgação na quinta-feira do relatório bimestral de despesas e receitas, com provável contenção de gastos, entre bloqueios e contingenciamentos. Permanecem temores de que o governo Lula adote novas medidas sociais que impliquem em mais despesas.

Especula-se que encontro da Junta de Execução Orçamentária (JEO) desta quarta-feira debateria o desejo do presidente de antecipar o ressarcimento aos lesados pelo esquema de fraudes no INSS. A Advocacia Geral da União (AGU) calcula que os pedidos de reembolso de aposentados e pensionistas do INSS já somam R$ 1 bilhão, apurou o Broadcast(sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado).

Apesar das incertezas, a Terra Investimentos revisou para baixo a estimativa para o dólar no fim de 2025, de R$ 6,00 para R$ 5,80. A projeção para a taxa de câmbio em dezembro de 2026 caiu de R$ 6,20 para R$ 6,00.

Ibovespa

Após ter fechado a terça-feira, 20, pela primeira vez aos 140 mil pontos, o Ibovespa caiu desde a abertura e teve um dia de correção mais aguda nesta quarta-feira, 21, retrocedendo à casa dos 137 mil, do meio para o fim da tarde, e encerrando no menor nível desde o último dia 12 – data que antecede o início de uma série de recordes históricos. Nesta quarta-feira, oscilou entre 137.538,35 (-1,84%) e 140.108,61 pontos, na máxima do dia que correspondeu à abertura.

Ao fim, mostrava perda de 1,59%, aos 137.881,27 pontos, com giro a R$ 24,0 bilhões. Na semana, cede 0,94% e no mês avança 2,08% – no ano, sobe 14,63%.

Em porcentual, a queda desta quarta-feira foi a maior registrada pelo Ibovespa desde 4 de abril, então em baixa de 2,96%.

Na etapa vespertina, a piora do Ibovespa acompanhou a de Nova York (Dow Jones -1,91%, S&P 500 -1,61%, Nasdaq -1,41%), mas também na curva do DI – após reportagem do Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) mostrar que as devidas compensações do INSS, em razão de descontos irregulares no pagamento de benefícios, já chegam a R$ 1 bilhão. Na B3, as perdas nas ações de grandes bancos foram a 2,26% (Bradesco ON) e em Vale ON, o principal papel da carteira, a 1,28% no fechamento. O dia foi negativo também para Petrobras (ON -0,85%, PN -1,12%) e para as demais ações de primeira linha.

Na ponta perdedora, Marcopolo (-6,94%), Vamos (-6,60%) e Ultrapar (-6,33%). No lado oposto, Raízen (+5,95%), Cosan (+1,32%) e PetroReconcavo (+1,21%).

No exterior, o leilão de Treasuries nesta quarta-feira influenciou o comportamento dos ativos americanos, com o mercado exigindo uma taxa mais alta para financiar a dívida pública, aponta o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus. “O mercado está preocupado com o endividamento, com o fiscal dos Estados Unidos, e por isso deu essa pesada à tarde”, afirma.

“Apesar do otimismo com o cenário doméstico, o mercado ainda está de olho no que acontece lá fora. Além da redução da nota de crédito dos EUA pela agência de classificação de risco Moodys na semana passada, uma das maiores preocupações no momento é com o aumento do déficit fiscal dos Estados Unidos”, reforça Luise Coutinho, head de produtos e alocação da HCI Advisors.

Ela acrescenta que o Congresso americano, no momento, discute orçamento proposto pelo presidente Donald Trump, que prevê grandes cortes de impostos e pode deteriorar, ainda mais, o “rombo nas contas públicas”. “Essa incerteza nos Estados Unidos enfraquece o dólar frente a outras moedas, e leva os juros dos títulos americanos a subir bastante – um movimento que acaba influenciando a curva de juros no Brasil também”, destaca Luise.

As ações do setor elétrico (Eletrobras ON -1,17%, Copel -1,20%, Cemig -1,31%) recuaram em bloco no dia em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou a Medida Provisória da reforma do setor, que será encaminhada ao Congresso ainda nesta quarta, segundo disse, no início da tarde, o ministro da Casa Civil, Rui Costa.

O presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), Marcos Madureira, classificou como positiva a MP, mas admitiu preocupação com a antecipação do cronograma de abertura de mercado livre de energia para a baixa tensão, conforme anunciado pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.

Na mesma entrevista coletiva de Silveira, Rui Costa disse que a expectativa é de que o preço de energia tenha queda gradual, de 2026 a 2027. E o ministro de Minas e Energia informou que a abertura do mercado livre foi antecipada para junho de 2026, e que a reforma do setor irá beneficiar mais de 100 milhões de pessoas.

Juros

A curva de juros abriu e ganhou inclinação nesta quarta-feira, 21 por desconforto fiscal tanto em relação aos Estados Unidos quanto no Brasil.

O avanço dos Treasuries foi o maior fator de pressão. Mas também houve desconforto pelo aval do presidente Lula sobre a MP do setor elétrico – enviada ao Congresso -, risco para arrecadação, e após apuração do Broadcast mostrar que os pedidos de reembolso de aposentados do INSS já somam R$ 1 bilhão, com o mercado ponderando como o governo conseguirá fazer uma compensação. Tudo isso na véspera da divulgação do relatório bimestral.

A taxa do contrato de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 fechou em 14,750%, de 14,734% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2027 subiu a 14,055%, de 13,965%, e o para janeiro de 2029 avançou para 13,665%, de 13,523% no ajuste de ontem.

Os DIs espelharam o movimento das taxas dos Treasuries, que ampliaram alta após um leilão de US$ 16 bilhões em T-bonds de 20 anos, com juro máximo de 5,047%, nesta tarde. Este fator se somou à pressão vista desde cedo mediante preocupação sobre um projeto de lei do governo Donald Trump que mira ampliar isenções fiscais.

“Há preocupação de que o déficit americano possa crescer ainda mais nos próximos anos, elevando a dívida. Acho que é a principal preocupação do mercado, e que está fazendo preço, ainda mais considerando que a notícia vem após o rebaixamento da nota de crédito americana pela Moody’s na última sexta-feira, de Aaa para Aa1”, comenta o estrategista-chefe e sócio da EPS Investimentos, Luciano Rostagno.

Segundo o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, desde ontem a maior parte da pressão na curva de juros doméstica vem, na verdade, do exterior.

Ainda assim, as máximas nos vértices médios e longos dos DIs coincidiram com a reportagem do Broadcast de que a Advocacia Geral da União (AGU) calcula que pedidos de reembolso de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) que tiveram descontos indevidos já somam R$ 1 bilhão.

“Aparentemente os valores serão expressivos, então há preocupação de como será feita uma compensação no Orçamento, enquanto o governo está tendo muitas dificuldades para conseguir fechar as contas e atingir a meta do arcabouço fiscal”, afirma Rostagno, da EPS Investimentos.

Já a MP do setor elétrico tem como uma das propostas a gratuidade no consumo mensal de até 80kWh para famílias beneficiárias da “Tarifa Social de Energia Elétrica”. Por este viés, também traz preocupação ao mercado, segundo o estrategista-chefe da EPS Investimentos.

Estadão Conteudo

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