Em dia de agenda esvaziada e de moderado ajuste negativo em Nova York, o Ibovespa conservava o nível de 139 mil pontos pela quarta sessão seguida, em leve baixa na maior parte da sessão. Em direção ao fechamento, contudo, com Petrobras um pouco mais firme no campo positivo (ON +0,32%, PN +0,41%) e a neutralização das perdas em Vale (ON +0,02%), o índice virou e ganhou algum ímpeto, encerrando o dia pela primeira vez na casa dos 140 mil pontos. No fim da sessão desta terça-feira, contribuiu para a virada e ganho de ímpeto do Ibovespa a notícia de que o Morgan Stanley elevou a recomendação para ações brasileiras, de neutra para overweight.
Para o Morgan, há sinais de enfraquecimento do apoio à plataforma política atual no Brasil, reporta de Nova York a correspondente do Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estados), Aline Bronzati.
Para o banco norte-americano, o Brasil está “barato”, e um cenário otimista, agora, é o mais provável. Na avaliação do Morgan Stanley, o calendário eleitoral no Brasil abre oportunidade de mudança na política fiscal.
Desde o início da série de renovações de recordes de fechamento, no último dia 13 – uma semana atrás -, o índice da B3 vinha alternando ganhos e perdas em base diária, tendo atingido na segunda-feira, durante a sessão, pela primeira vez a marca de 140 mil pontos. Nesta terça, conseguiu quebrar o vaivém, obtendo leve alta de 0,34%, aos 140.109,63 pontos, entre mínima de 138.965,50 e nova máxima histórica intradia a 140.243,86 pontos, com giro a R$ 21,7 bilhões. Na semana, avança 0,66% e, no mês, tem alta de 3,73% – no ano, o ganho é de 16,48%.
Até vir a cereja do Morgan Stanley, o dia era fraco, sem nada que contribuísse para fazer muito preço ma sessão, diz Felipe Papini, sócio da One Investimentos. Ele destaca também a relativa recuperação do dólar frente ao real nesta terça-feira, após a moeda americana ter sido afetada na segunda-feira, ante pares e emergentes, pelo rebaixamento da nota de crédito dos EUA pela Moody’s. Aqui, o dólar subiu 0,25%, a R$ 5,6693.
“O rebaixamento da nota de crédito dos EUA aumenta a percepção de risco fiscal, o que tende a elevar os juros de longo prazo (na curva de rendimento dos Treasuries), já que os investidores exigem uma rentabilidade maior para o risco país”, acrescenta. E foi o que aconteceu, na segunda como nesta terça, com o vencimento de 2 anos – mais correlacionado à perspectiva de curto prazo para a taxa de juros do Federal Reserve – mostrando yield mais baixo na maior parte da sessão, enquanto os rendimentos dos vencimentos mais longos, de 10 e 30 anos, avançaram mais uma vez.
Na B3, Petrobras teve leve alta na contramão do moderado ajuste do petróleo em boa parte da sessão. O dia foi de recuperação parcial para Banco do Brasil (ON +1,84%) após o tombo de 12% da última sexta-feira e que se estendeu à sessão da segunda, ainda que suavemente. O fechamento também foi positivo para Bradesco (ON +1,71%, PN +0,97%), mas de leve revés para outros papéis do setor bancário que vêm de ganhos, como Itaú (PN -0,13%) e Santander (Unit -0,10%).
Na ponta vencedora do Ibovespa, destaque nesta terça para JBS (+4,79%), Marfrig (+4,31%) e Vamos (+4,21%). No lado oposto, Cogna (-7,79%), Yduqs (-5,07%) e Natura (-3,17%). “O mercado manteve movimentações pontuais. As empresas do setor de educação recuam diante de novas pressões sobre o modelo de ensino a distância, e a Marfrig mostrou leve recuperação após quedas recentes ligadas à gripe aviária”, aponta Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.
Dólar
Após dois pregões seguidos de queda, o dólar apresentou leve alta na sessão desta terça-feira, 20. Operadores atribuem o tropeço do real a ajustes de posições, em dia de pouco apetite ao risco e depreciação de divisas emergentes mais ligadas a commodities, apesar de novo afrouxamento monetário na China.
O dólar até chegou a abrir em leve baixa no mercado local, mas trocou de sinal ainda na primeira hora de negócios, passando operar com sinal positivo no restante do pregão. Com máxima a R$ 5,6801 à tarde, a moeda fechou em alta de 0,25%, a R$ 5,6693. No mês, a divisa recua 0,13%. No ano, as perdas são de 8,27%.
Embora tenha avançado em relação a divisas emergentes, o dólar voltou a recuar na comparação com moedas fortes, ainda sob o impacto do rebaixamento do rating americano pela Moody’s na última sexta-feira. O índice DXY flertou com rompimento do piso dos 100,000 pontos ao longo do dia, com mínima aos 100,050 pontos.
“O dia hoje foi mais de ajustes para o real, com a agenda mais esvaziada. De forma geral, o mercado ainda está tentando digerir o rebaixamento do rating dos EUA”, afirma o chefe da mesa de câmbio da EQI Investimentos, Alexandre Viotto. “Nos episódios de rebaixamento por outras agências, geralmente os investidores saíram de ativos americanos em um primeiro momento, mas voltaram logo em seguida porque os preços ficam atraentes”.
As bolsas americanas apresentaram leve queda hoje, ao passo que as taxas dos Treasuries tomaram caminho distinto. O retorno do papel de 2 anos, mais ligado ao rumo da política monetária, operou em entre estabilidade e ligeiro recuo. Já as taxas de 10 e 30 anos subiram, com as preocupações fiscais.
Com a trégua de 90 dias na guerra comercial entre EUA e China e o Federal Reserve dando sinais de que não tem pressa em reduzir os juros, não há no momento um gatilho mais forte para provocar alterações significativas nos preços dos ativos globais, afirma analistas.
Viotto, da EQI, também não vê fatores domésticos capazes de provocar oscilações mais agudas do real no curto prazo, apesar do repique momentâneo do dólar no fim da semana passada, diante do desconforto com a possibilidade de pacote de medidas do governo Lula, que busca recuperar a credibilidade arranhada pelo escândalo do INSS.
“As declarações da equipe da Fazenda dizendo que não vai haver medida que comprometa o fiscal deram uma acalmada no mercado”, afirma Viotto, acrescentando que a sinalização ontem do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, de que a taxa de juros será mantida em território restritivo por período prolongado ajuda a ancorar a taxa de câmbio.
Fontes ouvidas pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) afirmaram que a Junta de Execução Orçamentária (JEO) se reuniria hoje à tarde para discutir os pontos ainda em aberto do Relatório Bimestral de Avaliação de Receitas e Despesas que será divulgado na próxima quinta-feira, 22. Trata-se do primeiro relatório do ano e deve trazer os ajustes considerados necessários para a execução orçamentária e financeira de 2025, à luz do desempenho das receitas e das pressões de despesa do exercício.
A ampliação de recursos para o novo “vale gás” só deverá ser tratada na discussão do orçamento de 2026, visando ampliar o números de beneficiários do programa, segundo fontes técnicas do governo. As fontes reforçam que o limite do programa neste ano segue sendo aquele já estabelecido na Lei Orçamentária Anual (LOA), em cerca de R$ 3,5 bilhões.
De acordo com o Projeções Broadcast, a mediana do mercado indica que haverá um congelamento de R$ 10,0 bilhões no Orçamento federal no relatório bimestral desta semana. Já levando em conta os efeitos desse congelamento, a estimativa intermediária do mercado para o resultado primário do governo central em 2025 é de déficit de 0,26% do Produto Interno Bruto, descontados os créditos extraordinários para pagamentos de precatórios da União.
Juros
Os juros futuros subiram durante esta terça-feira, 20, em movimento de realização de lucros após o recuo visto ontem em reação a falas do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, mas a alta perdeu força no fechamento dos negócios. O ajuste ao longo do dia foi puxado inicialmente pelo avanço dos rendimentos dos Treasuries e do dólar. Depois, ganhou força com o leilão de NTN-B que teve lotes e risco maiores para o mercado, além de desconforto com a questão fiscal após declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 fechou em 14,73%, de 14,71% ontem no ajuste, e para janeiro de 2027 avançou de 13,92% para 13,96%. O DI para janeiro de 2029 encerrou com taxa de 13,50%, de 13,49%.
A agenda local e externa sem destaques deu espaço para o mercado embolsar parte dos ganhos recentes. Pela manhã, segundo o estrategista-chefe e sócio da EPS Investimentos, Luciano Rostagno, a curva local acompanhou o movimento de avanço dos Treasuries, que ainda repercutiam o rebaixamento da nota soberana dos EUA pela Moody’s, com o corte de juros pelo Banco do Povo da China ficando em segundo plano.
À tarde, o ambiente doméstico teve mais peso. “Houve certo incômodo com as declarações do Lula, especialmente na área de habitação”, afirma Rostagno.
Na XXVI Marcha a Brasília em Defesa dos Municípios, o presidente disse que o governo lançará três novas políticas públicas ainda neste ano e anunciou um programa de crédito para reforma de casas em complemento ao Minha Casa, Minha Vida, cujos recursos virão do Fundo Social. Ainda que as medidas não sejam novidade, remeteram ao estresse da semana passada, provocado pelas informações de bastidores de que o governo prepara um pacote de medidas na tentativa de melhorar sua popularidade, o que foi negado pela Fazenda.
Por outro lado, o Broadcast apurou que a ampliação de recursos para o novo “vale gás” só deverá ser tratada na discussão do orçamento de 2026, visando ampliar o números de beneficiários do programa. As fontes reforçam que o limite do programa neste ano segue sendo aquele já estabelecido na Lei Orçamentária Anual (LOA), em cerca de R$ 3,5 bilhões.
Na gestão da dívida pública, o Tesouro trouxe lote robusto de NTN-B para o leilão, de 4 milhões, o maior do ano, segundo a XP Investimentos, que destaca ainda a abertura da curva logo após a divulgação do edital. “A oferta de títulos teve aceitação total pelo mercado. Destacamos o fechamento das taxas de todos os títulos ofertados, em linha em linha com a retração dos juros reais nas últimas semanas”, disseram os profissionais da instituição. O risco em DV01 foi de US$ 2,43 milhões, ante US$ 530 mil na semana passada.