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Dólar sobe com exterior após trégua entre China e EUA; Ibovespa fecha em alta de +0,04%

O dólar encerrou a sessão desta segunda-feira, 12, em alta no mercado local, acompanhando a onda global de valorização da moeda americana, especialmente na comparação com divisas fortes. O acordo sobre tarifas entre Estados Unidos e China, ainda que provisório, amenizou temores de uma recessão na maior economia do mundo e trouxe de volta o apetite por ativos americanos.

Investidores deram uma pauta na rotação global de carteiras iniciada em meados de abril, que havia favorecido emergentes como o Brasil, e voltaram a formar posições em dólar e bolsas em Nova York. Commodities como minério de ferro e petróleo se recuperaram, o que mitigou parcialmente as pressões sobre o real.

Com máxima a R$ 5,7060 à tarde, o dólar à vista fechou em alta de 0,52%, a R$ 5,6840. Dado o repique de hoje, a moeda americana volta a apresentar ganhos em relação ao real no mês (+0,13%). No ano, o dólar acumula baixa de 8,03%.

Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY subiu mais de 1,5% e não apenas rompeu o teto dos 101,000 pontos como se aproximou dos 102,000 pontos, com máxima aos 101,977 pontos. Os maiores ganhos da moeda americana foram em relação ao iene e ao franco suíço, divisas tidas como refúgio em momentos de aumento da aversão ao risco.

O economista Vladimir Caramaschi, sócio-fundador da +Ideas Consultoria Econômica, vê o movimento de valorização do DXY e, por tabela, do dólar em relação ao real como um reflexo de um “alívio temporário” nos mercados, após o acordo entre EUA e China. Ele observa que a queda da aversão ao risco e a alta das commodities tenderiam em tese em elevar o apetite também por moedas emergentes, mas pesou mais hoje sobre a formação da taxa de câmbio a pausa na rotação global de carteiras.

“Diria que hoje é um movimento de ajuste nos mercados. Mas a tendência ainda é de uma diversificação em relação ao dólar, até por questões estruturais, o que pode favorecer o real”, afirma Caramaschi, para quem o repique da taxa de câmbio hoje não tende a se sustentar, embora o dólar possa voltar a subir esporadicamente.

No fim de semana, Estados Unidos e China firmaram acordo com suspensão de 90 dias das tarifas de importação superiores a 100% que impunham mutuamente. Os EUA reduzirão as tarifas sobre produtos chineses de 145% para 30%. A China, por sua vez, diminuirá suas tarifas sobre produtos americanos de 125% para 10%.

No início da tarde, o presidente Donald Trump disse que foi alcançada uma “redefinição total” com a China nas negociações na Suíça e que não quer prejudicar os chineses, que foram muito “amigáveis”. “Conversarei com Xi Jinping no fim desta semana… talvez”, disse Trump, em referência ao líder chinês.

Pela manhã, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, disse, em entrevista à Bloomberg TV, que “é implausível” que as tarifas sobre a China caiam abaixo de 10%. Ele afirmou que a China deve impulsionar o consumo e abrir seu mercado, alertando com a possibilidade de volta das tarifas para níveis anunciados em abril.

Caramaschi, da +Ideas Consultoria Econômica, observa que, apesar da alta das taxas dos Treasuries e da redução das apostas sobre cortes de juros pelo Federal Reserve neste ano, com expectativa de menor desaceleração da atividade nos EUA, o tarifaço de Trump já provocou uma disrupção nas cadeias globais que pode afetar inflação e crescimento.

“A pausa de 90 dias nas tarifas é uma ótima notícia para a economia global. Mas dificilmente, com tudo o que está acontecendo, não vamos ver um impacto estagflacionário nos Estados Unidos”, afirma o economista. “É preciso saber se teremos após 90 dias um acordo mais duradouro. Mas é certo que vamos ter um status quo distinto, com mais protecionismo”.

Ibovespa

O Ibovespa ensaiou engatar leve alta em direção ao fechamento, após a indecisão entre ganhos e perdas na maior parte da sessão, em que operou bem distante do que se viu nesta segunda-feira, 12, em Nova York. Por lá, o apetite por risco foi induzido desde cedo pela trégua comercial de 90 dias firmada por Estados Unidos e China, o que melhora a perspectiva para ambas economias, as maiores do mundo.

Assim, após o ingresso de recursos na B3 ter sido favorecido a partir de abril pela rotação de carteira – ante o receio de que os EUA pudessem ingressar em recessão -, a desconexão vista nesta segunda entre São Paulo e Nova York sugere que uma reversão possa estar a caminho, com a retomada da demanda por ativos americanos. O dólar fechou em alta de 0,52%, a R$ 5,6840, e avançou também ante referências como euro, iene e libra, entre outras, que integram a cesta do índice DXY.

No encerramento, o Ibovespa mostrava-se estável, em viés positivo (+0,04%), aos 136.563,18 pontos, enquanto, em Nova York, o avanço desta segunda-feira foi de 3,26% para o índice amplo (S&P 500) e de 4,35% para o tecnológico (Nasdaq).

Na B3, o giro foi a R$ 24,4 bilhões, com o índice de referência entre mínima de 136.355,93 e máxima de 137.519,33 pontos na sessão, em que iniciou aos 136.516,27. No mês, o Ibovespa sobe 1,11% e, no ano, acumula ganho de 13,53%.

Com a redução de 125% para 10% nas tarifas recíprocas proporcionada pela trégua entre Estados Unidos e China – ainda que a Casa Branca tenha mantido uma tarifa adicional de 20% sobre os produtos chineses -, os investidores retomaram nesta segunda o apetite por ações em Nova York, com a percepção de que uma recessão nos EUA será evitada em meio à descompressão da guerra comercial.

Na B3, a recuperação também proporcionada nos preços das commodities impulsionou Vale (ON +2,51%) e Petrobras (ON +2,71%, PN +2,39%), o que ao fim se impôs à correção entre os grandes bancos, que vêm de boa temporada de resultados trimestrais – a baixa desta segunda chegou a 2,01% na principal ação do setor (Itaú PN), no fechamento. Na ponta ganhadora do Ibovespa, destaque para Braskem (+6,05%), Prio (+5,15%) e Magazine Luiza (+4,65%). No lado oposto, IRB (-4,51%), Marcopolo (-3,52%) e Rumo (-3,03%).

“Otimismo global decorre de o acordo entre Estados Unidos e China ter vindo acima do que se esperava, nesta janela de 90 dias, o que contribuiu muito para o impulso que se viu hoje nas commodities”, diz Tales Barros, head de renda variável na W1 Capital, observando que o desempenho das ações das duas empresas de maior peso no Ibovespa, Vale e Petrobras, acabou determinando a direção do índice, mesmo em dia de correção nos bancos.

Ainda assim, Vale ON, apesar do avanço na casa de 2,5%, fechou na mínima do dia, a R$ 54,28, assim como Petrobras PN, a R$ 31,65.

Juros

Os juros futuros fecharam a segunda-feira em alta, com exceção dos vencimentos curtos, que ficaram de lado. O mercado reagiu ao acordo entre EUA e China, sob a leitura de que reduz o risco de recessão nos EUA e, consequentemente, alivia o impacto sobre as demais economias, o que trouxe pressão de alta para o dólar e para os rendimento dos Treasuries e levando a reboque a curva doméstica. As taxas curtas rondaram os ajustes anteriores, com o mercado à espera da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) amanhã e sem grandes alterações nas medianas para a inflação no Boletim Focus.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 fechou em 14,805%, de 14,797% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2027, em 14,04%, de 13,98%. A do DI para janeiro de 2029 subiu de 13,35% para 13,46%.

Como os vencimentos longos vinham de quatro sessões de queda, havia espaço para recomposição de prêmios, mas ainda assim todo este trecho se mantém abaixo dos 14%. “O mercado faz esta correção justamente em função do acordo entre EUA e China, pela melhora da percepção de risco de recessão, que também traz alta para a taxa dos Treasuries. Aqui segue lá fora”, resume o estrategista-chefe e sócio da EPS Investimentos, Luciano Rostagno.

Os rendimentos da curva americana avançaram dada a migração de fluxo para as ações, por sua vez, puxada pela melhora do apetite ao risco. O dólar teve valorização generalizada, chegando a tocar novamente R$ 5,70 no intraday, mas perdeu força durante à tarde, fechando a R$ 5,6840 no segmento à vista. Pelo acordo, os EUA reduzirão as tarifas sobre produtos chineses de 145% para 30%. A China, por sua vez, diminuirá suas tarifas sobre produtos americanos de 125% para 10%. O acordo vai vigorar por 90 dias.

Internamente, a agenda não trouxe destaques que pudessem influenciar os DIs curtos ou as apostas para a política monetária, com a montagem de posições limitada pela espera pela ata amanhã. “O documento pode ajudar o mercado a precificar os próximos passos do Copom”, afirma Rostagno.

A precificação da curva do DI mostrava nesta tarde um mercado dividido entre alta e manutenção da Selic para a reunião de junho. Segundo o estrategista, a curva apontava nesta tarde 52% de probabilidade de aumento de 25 pontos-base e 48% de chance de estabilidade nos atuais 14,75%. A taxa terminal projetada era de 14,97% e a curva sugeria corte marginal da Selic, de 8 pontos, a partir de dezembro.

A falta de inspiração nos vencimentos curtos é explicada ainda pelo Boletim Focus, com mudança sutil nas medianas de IPCA. A de 2025 caiu de 5,53% para 5,51%, mas segue cerca de 1 ponto porcentual acima do teto da meta de 4,50%, que é onde está a mediana para 2026. A de 12 meses à frente cedeu também discretamente, de 4,97% para 4,95%.

Arnaldo Lima, economista da Polo Capital, lembra que a mediana para o IPCA de 2025 estava em 5,65% há quatro semanas e que a queda gradual sinaliza reancoragem das expectativas, ainda que permaneçam acima do teto da meta. “A redução das projeções está acompanhada por um movimento de apreciação cambial, com a taxa de câmbio esperada passando de R$ 5,90 para R$ 5,85, o que contribui para um menor repasse cambial (pass-through) aos preços domésticos”, explica.

Diante do cenário mais favorável no câmbio e da leitura do IPCA de abril, o mercado permanece dividido quanto à Selic terminal, mas as expectativas devem ganhar contornos mais claros com a ata do Copom, que, segundo Lima, poderá indicar se o ciclo de alta se encerrou ou se ainda há espaço para um ajuste final. “A inflação oficial veio em desaceleração na margem (0,43%), mas trouxe elementos de preocupação, como a elevação do índice de difusão de 61% para 67% e a persistência de pressões nos serviços subjacentes. Ao mesmo tempo, o ritmo da atividade econômica segue resiliente”, argumenta.

Estadão Conteudo

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