Talvez a maior revolução tecnológica dos últimos 50 anos seja a internet. Interessante é
que ela chegou devagar nos ambientes universitários e ficou muito tempo desconhecida
do grande público. Mas um dia explodiu, e espalhando-se para o mundo inteiro,
interligou pessoas como nunca e modificou o comportamento da humanidade.
Também o celular, que no começo dos anos 1990 era um aparelho desajeitado que só
fazia ligações telefônicas, transformou-se no atual smartphone, ferramenta de multiuso,
que passou a ser gênero de primeira necessidade no mundo moderno. Hoje, há mais
aparelhos celulares que habitantes no planeta. Tal como a internet (responsável direta
por sua transformação), ele não foi precedido de grandes divulgações.
Mas, nem todas as invenções recentes foram vitoriosas. Lembro o caso da clonagem de
mamíferos, a experiência da ovelha Dolly: no fim do século passado, a imprensa
noticiava com estardalhaço a possibilidade de “copiar” animais de grande desempenho
ou de excepcionais características genéticas comercialmente desejáveis. Passados
alguns anos, o experimento não alcançou escala comercial desejada: o custo para
conseguir um clone se revelou proibitivo, a saúde do animal “copiado” nem sempre era
boa e a possibilidade de repetição do feito exigia dezenas ou até centenas de tentativas
para se concretizar. Diferente dos casos do celular e da internet, que nasceram discretos
e agigantaram-se, esse prometia uma revolução, mas fracassou.
Há diversas outras “revoluções” em andamento que só o tempo dirá se repetirão o
sucesso da internet e dos smartphones ou se vão ser descartadas, como a experiência da
famosa Dolly, que morreu há anos.
Existem algumas promessas envolvendo automóveis: uma é o badalado carro autônomo
que há cerca de três ou quatro anos ocupava a atenção dos jornais e que hoje anda meio
esquecido. Problemas de legislação e alguns detalhes técnicos que exigiriam altíssimo
investimento para serem aprimorados, aumentariam muito o preço destes veículos,
deixando-os inviáveis. Outra, o carro voador – proposta de locomoção rápida e sem
congestionamentos – perdeu força.
Ao contrário dos autônomos e dos voadores, os carros elétricos e híbridos emplacaram
(releve o trocadilho). Em alguns anos, provavelmente, dominarão o mercado.
A impressora 3D, que estaria disponível ao público e que conseguiria fabricar desde
pequenas peças domésticas até uma casa completa, micou. Elas existem, mas, ao
contrário da previsão de acesso ao consumidor comum, ficou restrita a alguns nichos,
entre eles a fabricação de armas clandestinas.
A carne de laboratório é mais um exemplo que, pelo menos por enquanto, não atingiu o
consumidor comum. Cientistas já conseguem fabricar “carne” artificialmente, fazendo
crescer células de animais, alimentadas com proteínas vegetais. Mas elas ainda não
caíram no gosto do povo e são mais caras que a carne convencional. Outro problema é
que somente são conseguidas carnes indiferenciadas – tipo carne moída – não atendendo
o desejo das pessoas que querem filé, alcatra ou picanha.
A estrela da vez é a Inteligência Artificia (IA) que se popularizou depois do Chat GPT.
Muitos acreditam que ela – como ferramenta, não como substituta do cérebro humano –
igualará os sucessos da internet e do telefone celular. É possível. Em breve saberemos.
Renato de Paiva Pereira.