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Ibovespa sustenta nível de 135 mil pontos em 6ª alta consecutiva; dólar fecha abaixo de R$ 5,65

O Ibovespa alcançou máxima desde setembro de 2024, aos 135,7 mil pontos, mas diminuiu expressivamente os ganhos no período da tarde. Não houve fator para azedar o sentimento do mercado, mas também não houve novidades para estimular um avanço mais forte, de modo que a sexta alta consecutiva da Bolsa ocorreu em um dia em que o giro financeiro foi menor do que a média diária de R$ 23 bilhões.

O operador de renda variável da Manchester Investimentos, Henrique Lenzi, avalia que o investidor agora espera mais sinais – com dados macroeconômicos e balanços importantes durante esta semana – para entender se o índice tem potencial de subir mais do que o movimento atual, ou não. Na quarta-feira, por exemplo, os Estados Unidos divulgarão o relatório de empregos ADP, a primeira leitura do Produto Interno Bruto do primeiro trimestre, e o índice de preços de gastos com consumo (PCE).

Por fim o Ibovespa encerrou aos 135.015,89 pontos, com alta de 0,21% e giro financeiro de R$ 20,4 bilhões. Na máxima intradia pela manhã, chegou aos 135.709,27 pontos (+0,72%), maior nível desde 16 de setembro.

Principal ponto de atenção dos mercados globais, um eventual acordo entre Estados Unidos e China segue sem desdobramentos concretos. Hoje o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, afirmou que cabe à China diminuir tensões comerciais com os EUA, frente ao atual nível “insustentável” das tarifas entre ambos.

Já Pequim parece não estar com pressa em implementar políticas que podem ajudar a estabilizar a economia em crise, apesar de as tarifas dos EUA começarem a pesar sobre o país, mostra reportagem da Dow Jones.

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse acreditar que existe um sentimento e um desejo de sentar da China e dos Estados Unidos para negociar tarifas, mas ponderou que a desescalada das tensões comerciais não tende a ser “um passeio no parque”. A análise, então, é de que a desescalada das medidas comerciais não será feita de maneira suave. Para ele, aliás, ainda haverá algum tipo de avanço nos bloqueios.

No cenário local, operadores mencionam que o rali recente do Ibovespa ocorreu por uma junção de fatores: múltiplos descontados, expectativa de fim do ciclo de aperto monetário pelo Copom, e o excepcionalismo americano – de que os EUA seriam um refúgio seguro – sendo colocado em xeque desde que a política tarifária de Donald Trump começou. Com isso, o fluxo estrangeiro tem sido positivo por quatro pregões consecutivos.

Dólar

O dólar se firmou em baixa ao longo da tarde, furou o piso de R$ 5,65 e emendou nesta segunda-feira, 28, o sétimo pregão consecutivo de queda. O real se apreciou apesar do dia negativo para seus principais pares latino-americanos, os pesos mexicano e chileno, e o ambiente externo marcado por pouco apetite ao risco, diante da ausência de sinais concretos de negociações comerciais entre EUA e China.

Operadores afirmam que a moeda brasileira pode ter se beneficiado de fluxo pontual de recursos externos para a bolsa e a renda fixa domésticas. Um ponto que chamou a atenção foi a fala do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, hoje reiterando o desconforto com as expectativas de inflação.

A perspectiva de pelo menos mais uma elevação da taxa Selic e de manutenção da política monetária em campo restritivo por período prolongado não apenas aumenta a atratividade das operações de carry trade como desestimula a manutenção de posições compradas na moeda americana contra o real.

Com mínima a R$ 5,6470, o dólar à vista encerrou o pregão em baixa de 0,70%, a R$ 5,6480 – menor valor de fechamento desde 3 de abril (R$ 5,6281), dia seguinte ao tarifaço anunciado por Donald Trump. A divisa acumula desvalorização de 4,11% nos últimos sete pregões, o que leva as perdas no ano a 8,1%.

Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, em especial euro e iene, o índice DXY recuou e voltou a furar o piso dos 99,900 pontos. A moeda americana caiu na comparação com a maioria das divisas emergentes e de países exportadores de commodities. Em abril, o Dollar Index desce mais de 5%.

O diretor de Investimentos da Azimut Wealth Management, Leonardo Monoli, observa que o dólar perde força globalmente tanto no mês quanto no ano em meio às incertezas em torno da política econômica americana com o comportamento errático de Donald Trump.

“Houve em abril a adoção da política protecionista e os ataques do Trump ao Federal Reserve, que foram corrigidos, mas podem retornar. Os investidores, que estavam com excesso de alocação nos EUA, procuraram outras geografias”, afirma Monoli. “Esse movimento beneficiou moedas desenvolvidas, como iene e o euro, mas também emergentes”.

Em tal quadro, o real pode ter sido impulsionado por fluxo cambial melhor na margem, com investidores em busca de ativos descontados, e também pelo desmonte de posições de estrangeiros compradas em dólar por meio de derivativos cambiais, observa Monoli. Ele destaca que, apesar da apreciação recente, as moedas emergentes como real continuam vulneráveis a episódios de aversão ao risco no exterior, em um ambiente marcado por incertezas.

No episódio de hoje da guerra comercial, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, demonstrou otimismo com as negociações comerciais com asiáticos, citando Japão e Coreia do Sul, mas ponderou que as tratativas com a China são mais complicadas e terão de ser “conduzidas à parte”. Bessent voltou a dizer que cabe aos chineses diminuir as tensões comerciais, dado que o nível atual das tarifas “é insustentável”.

Do lado chinês, o ministério das Relações Exteriores afirmou que não houve diálogo recente entre o presidente Xi Jinping e Trump – e que os dois governos não estão tentando neste momento fechar um acordo. “Se os EUA realmente querem resolver o problema por meio do diálogo e da negociação, precisam parar de ameaçar e chantagear “, disse o porta-voz do ministério, Guo Jiakun. Na sexta-feira, em entrevista publicada pela Time, Trump disse que Xi havia ligado para ele.

Monoli, da Azimut, afirma que a conjuntura tende a continuar dominada pelas tensões comerciais e pelas tentativas de estimar a desaceleração da atividade provocada pela guerra tarifária, em especial nos Estados Unidos. Ele pondera que os sinais vindos da China são de que as autoridades estão preparadas sustentar o embate comercial pelo tempo que for necessário e não devem se pautar por recuos táticos da administração Trump.

“A postura da China é de combate contínuo no longo prazo. As moedas emergentes e o real experimentaram uma melhora, mas é preciso saber como vai ser o impacto no crescimento econômico e como fica o novo palco global de comércio para ver se isso se sustenta”, diz o diretor da Azimut.

Por aqui, depois das falas vistas como dovish dos diretores do BC Nilton David (Política Monetária) e Diogo Guillen (Política Econômica), o tom do presidente do BC hoje em um evento do J. Safra soou um pouco mais duro aos investidores e pode ter contribuído para o recuo da taxa de câmbio.

Galípolo afirmou que o BC tem uma certeza razoável de que a taxa Selic está em nível contracionista, mas ainda tenta entender se o juro já é restritivo o bastante. “Estamos aqui tateando para entender se o nível que a gente está caminhando – importante o gerúndio aqui -, se o nível que nós estamos caminhando está chegando no patamar contracionista o suficiente para a convergência da inflação”, disse.

“Galipolo adotou um tom bem adequado e não desautorizou os outros diretores. Reiterou o incômodo com a desancoragem das expectativas, mas disse que é preciso dar tempo para ver os efeitos desasados da política monetária”, afirma Monoli, para quem provavelmente o BC promova uma elevação da taxa Selic em maio, mas não se comprometa com a continuidade do aperto.

Juros

Os juros futuros encerraram a segunda-feira perto da estabilidade. O movimento de realização de lucros visto desde sexta-feira perdurou durante boa parte da sessão, mas perdeu força e se esvaiu no meio da tarde, levando as taxas a zerarem o avanço, na medida em que o dólar se firmou abaixo dos R$ 5,65.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 fechou em 14,675%, de 14,639% na sexta-feira. A do DI para janeiro de 2027 terminou estável em 13,90% e a do DI para janeiro de 2029 passou de 13,63% para 13,64%.

A correção das quedas recentes iniciada na sessão anterior ditou a dinâmica dos DIs durante boa parte do dia, mas não se sustentou até o fim. Após o período de formação dos preços de ajuste (16h10 às 16h20), as taxas passaram a oscilar com viés de baixa, estimuladas pela aceleração da queda do dólar, que conseguiu fechar abaixo dos R$ 5,65, a R$ 5,6480. A exceção foram os vértices curtos, que ficaram de lado. A combinação entre a valorização do câmbio e o recuo do petróleo, hoje de mais de 1%, em tese ajuda a alimentar a ideia de recuo nos preços da gasolina.

“A percepção é de que o DI hoje passou por mais uma realização de lucros do que uma alta provocada por algo mais estrutural”, afirma Filipe Arend, head de renda fixa da Faz Capital, lembrando que a ponta curta se mexe menos com as apostas já precificadas para uma nova alta da Selic no Copom de maio. “A fala do Galípolo confirmou que a comunicação do Banco Central na última decisão em março foi acertada, porque reforçou que o ambiente era de muita incerteza, que a gente teria um novo ajuste na taxa de juros de menor magnitude, justamente em função disso”, afirmou.

Em participação no J. Safra Macro Day 2025, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, endossou que as mensagens do último ciclo de comunicação do Copom “continuam vigentes” e que a curva de Taylor apresentada pelo diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, na semana passada, em um evento da XP Investimentos, não destoa da comunicação do Copom. A apresentação do diretor, naquele ponto, foi lida como uma indicação de necessidade de juros menores do que os trazidos pela pesquisa Focus, sendo um dos fatores que ajudou na retirada de prêmios da curva. Além disso, tanto Guillen quanto Paulo Picchetti (Assuntos Internacionais) e Nilton David (Politca Monetária) enfatizaram o nível restritivo da Selic e reforçaram que a escalada da incerteza no cenário externo deve levar o BC a abandonar o forward guidance nas reuniões seguintes, depois de maio.

O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, não viu a fala de Galípolo hoje como “contraditória” às dos diretores, mas considera que o mercado possa ter se excedido nas interpretações na semana passada. “É provável que sim. O mercado chegou a negociar Selic estável na reunião de 7 de maio”, comentou.

Galípolo também reforçou o desconforto do Copom com expectativas de inflação, “que estão bastante desancoradas, mas disse ter “certeza razoável” de que a taxa Selic está em nível contracionista. A questão, segundo ele, é saber se o nível de restrição do juro básico é o bastante para fazer a inflação convergir ao centro da meta, de 3%. Ele considera ser preciso reunir mais dados a ponto de ter confiança de que a inflação está convergindo e que a política monetária está produzindo os efeitos desejados.

Pouco antes da fala de Galípolo, a Focus divulgada pelo BC trouxe poucas alterações nas medianas de inflação. A expectativa para a inflação suavizada nos próximos 12 meses parou de cair e se manteve em 4,95%, enquanto a de 2025 passou de 5,57% para 5,55%. A de 2026, ao contrário, oscilou marginalmente, de 4,50% para 4,51%.

Estadão Conteudo

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