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Ibovespa tem impulso com alívio tarifário a techs e sobe mais que NY; dólar tem leve queda

A isenção temporária das tarifas recíprocas dos Estados Unidos a bens tecnológicos, que foi lida pelo mercado financeiro como mais um recuo do presidente Donald Trump, desencadeou um apetite a risco generalizado. O Ibovespa subiu do início ao fim da sessão, recuperou o nível dos 129 mil pontos e a alta foi difundida por todos os setores: de 87 ações da carteira teórica, apenas 11 fecharam em baixa e Automob encerrou estável.

“A decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, de suspender temporariamente tarifas sobre eletrônicos e celulares reduziu o temor dos investidores quanto à guerra comercial”, afirma a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli.

Dispositivos e componentes eletrônicos – como smartphones, computadores, células solares, telas de TVs, pen drives, cartões de memória e SSDs – foram temporariamente isentos das tarifas recíprocas anunciadas em 2 de abril, sendo que grande parte destes são produzidos pela China. “Isso já representa de 25% a 30% do comércio bilateral entre China e os Estados Unidos”, destaca o especialista em renda variável da Melver, Ian Toro, enfatizando que a alta da Bolsa brasileira ocorreu, portanto, na esteira de ventos externos relacionados à política tarifária dos EUA.

O Bank of America (BofA) considera um “sinal positivo” a decisão de os EUA adiarem a aplicação das tarifas recíprocas sobre smartphones e computadores importados da China, embora o setor de semicondutores não tenha sido isento de forma definitiva, com possível anúncio de tarifas ainda nesta semana.

O Ibovespa fechou em alta de 1,39%, aos 129.453,91 pontos, após máxima (+1,78%) aos 129.955,35 pontos alcançada no período da tarde, e o giro financeiro totalizou R$ 21,5 bilhões.

No fim do pregão o desempenho do índice foi melhor do que o das bolsas de Nova York, principalmente pelo respaldo da Vale (+1,30%) e outras ações do setor de mineração e siderurgia, como CSN Mineração e CSN subindo mais de 3%. O minério de ferro subiu 0,28% em Dalian, a US$ 96,8 por tonelada, e avançou 0,80% em Cingapura, a US$ 97,90.

Dólar

Após descer até o nível de R$ 5,82 pela manhã, o dólar moderou as perdas ao longo da tarde, apesar de máximas do Ibovespa, e fechou a segunda-feira, 14, na casa de R$ 5,85. Com a agenda doméstica esvaziada, o real se beneficiou de nova rodada de enfraquecimento da moeda americana no exterior.

Houve recuperação do apetite por ações e divisas emergentes, sobretudo na primeira etapa de negócios, na esteira da decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, no fim de semana, de isentar temporariamente produtos eletrônicos e smartphones das chamadas tarifas recíprocas.

O dólar chegou a operar pontualmente em ligeira alta no início da tarde, com virada momentânea das bolsas em Nova York para o campo negativo, após declarações do presidente americano reiterando a estratégia de sobretaxar importações para trazer empresas de volta aos EUA. Mas o dólar rapidamente voltou a recuperar, embora em menor magnitude.

“A decisão de Trump de suspensão temporária de tarifas trouxe algum alívio, especialmente para empresas de tecnologia. Apesar disso, o ambiente continua instável e sujeito a reviravoltas”, afirma o gerente Eurico Riberto, da B&T XP.

Com mínima a R$ 5,8286 e máxima a R$ 5,8748, o dólar à vista fechou a sessão em baixa de 0,33%, cotado a R$ 5,8512. Em abril, a moeda ainda acumula valorização de 2,56%. No ano, perde 5,32%.

Operadores ressaltaram que a liquidez foi reduzida, com investidores sem disposição para mudanças relevantes de posição. Principal termômetro do apetite por negócios, o dólar futuro para maio movimentou menos de US$ 10 bilhões.

O real apresentou desempenho inferior a de pares como peso mexicano, chileno e o rand sul-africano. Destaque negativo para o peso colombiano, com perdas de mais de 0,60%. Como era de se esperar, o peso argentino tombou, apresentando desvalorização superior a dois dígitos, após o governo de Javier Milei levantar controles cambiais.

O índice DXY – que mede o comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes – furou o piso dos 100,000 pontos, com mínima aos 99,208 pontos pela manhã. O Dollar Index já acumula baixa de mais de 4% em abril e de 8% em 2025. As taxas dos Treasuries recuaram, mitigando os temores de abandono dos títulos do tesouro americano que marcaram a semana passada.

O economista André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferências Remessa Online, destaca que o DXY desceu nesta segunda ao menor nível desde abril de 2022. Ele atribui o recuo do DXY nas últimas sessões à valorização do euro e da própria libra esterlina, embora nesta segunda o euro tenha exibido fôlego bem reduzido.

“Apesar de todos os problemas que a Europa enfrenta neste momento, parece um porto relativamente seguro para o especulador ou para o investidor”, afirma Galhardo, ressaltando que o clima de incerteza é grande e mantêm os mercados ariscos.

À tarde, o diretor do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) Christopher Waller disse que pode propor uma antecipação de corte de juros se houver uma recessão nos Estados Unidos. O BC norte-americano aguarda o fim das negociações sobre tarifas para poder calcular os impactos sobre inflação e atividade, para então decidir o caminho a ser tomado, apontou o dirigente.

Para Galhardo, da Remessa Online, Trump levou a guerra comercial levada a um “nível tão elevado” que só resta partir agora para negociações bilaterais ou setoriais, abrindo exceções como a suspensão sobre produtos eletrônicos e smartphones.

“O mercado precificou uma guerra comercial fortíssima e agora tem acontecido uma transição, justamente por esses recuos do governo americano”, afirma o economista.

Por aqui, à tarde o governo informou que a balança comercial registrou superávit de US$ 1,595 bilhão na segunda semana de abril, o que leva o saldo acumulado no mês a US$ 3,189 bilhões. No ano, o superávit é de US$ 13,171 bilhões.

Juros

Os juros futuros fecharam o dia em queda firme. O estopim para a melhora veio do alívio tarifário anunciado pelo presidente para o setor de tecnologia, que vai ajudar especialmente a economia da China, e à tarde, o Federal Reserve enviou sinais “dovish” ao mercado sobre a política monetária, ampliando o apetite ao risco.

No fechamento, algumas delas já oscilavam abaixo dos 14%, caso da do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2028, que terminou na mínima de 13,95%, de 14,18% no ajuste anterior. A do janeiro de 2026 encerrou em 14,68%, de 14,75% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2027, em 14,16%, de 14,35% no ajuste anterior. A taxa do DI para janeiro de 2029 caiu de 14,26% para 14,02% (mínima).

Após encerrarem a semana passada com acúmulo de prêmios, a curva de juros se ajustou em baixa com a decisão de Trump de isentar smartphones e uma série de dispositivos eletrônicos das tarifas recíprocas, via impacto de queda nos juros dos Treasuries e enfraquecimento generalizado do dólar. Como a maioria dos itens é produzida/montada na China, a medida, em tese, deve reduzir o impacto do tarifaço dos EUA sobre a atividade no país asiático, que é grande destino das exportações do Brasil. Ajudou ainda a alimentar o apetite pelo risco o avanço no volume de empréstimos na China em março, lido como resposta aos estímulos do governo.

No começo da tarde, as taxas chegaram a reduzir ligeiramente a queda após a pesquisa Expectativas dos Consumidores do Federal Reserve de Nova York mostrar alta nas estimativas de inflação de um ano. Posteriormente voltaram a cair com força, acompanhando a renovação das mínimas dos yields dos Treasuries na esteira das afirmações do diretor do Fed Christopher Waller, de que pode apoiar antecipação dos cortes de juros e até uma extensão maior da flexibilização monetária, se houver uma recessão nos Estados Unidos. No fim da tarde, a taxa da T-Note de dez anos cedia aos 4,37% e o dólar por aqui rodava nos R$ 5,85.

Resta saber qual será a resposta do Copom ao ambiente externo. Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, afirma que com a reunião de maio se aproximando o mercado ainda não chegou a um consenso sobre o quão menor será a magnitude de alta indicada pelo Copom para a decisão. De todo modo, apesar das expectativas de inflação ainda desancoradas, a percepção é de menor pressão sobre os diretores. “Mas dificilmente vão conseguir fechar a porta totalmente”, pondera.

Por ora, o quadro das medianas de IPCA no Boletim Focus segue quase sem mudanças. A expectativa de inflação suavizada nos próximos 12 meses caiu pela nona semana consecutiva, de 5,07% para 5,01%, o que é sinal de alívio, enquanto as demais não recuaram. Mas ao menos não mostraram piora, estabilizadas ainda longe dos 3%. Para 2025, permaneceu em 5,65% e para 2026 continuou em 4,50% – colada ao teto da meta -, pela terceira semana seguida.

As previsões de Selic seguiram estacionadas em 15% (2025) e 12,5% (2026) no Focus. Na curva a termo, a precificação para o Copom de maio era de alta de 44 pontos-base, seja 76% de chance de alta de 0,5 ponto e 24% de chance de 0,25 ponto. A taxa terminal projetada era 14,90% e para o fim de 2025, 14,70%, indicando probabilidade de o Copom iniciar um ciclo de queda ainda este ano. Já tem precificação de cortes de 6 pontos em novembro e 12 em dezembro”, afirma o economista-chefe do Banco Bmg, Flávio Serrano.

Estadão Conteudo

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