Em 18 de fevereiro, a CNV fez, diretamente ao ministro Amorim, o pedido de instauração das sindicâncias internas, a fim de apurar fatos administrativos relacionados aos sete principais centros de tortura listados pelo grupo.
Procurada, a assessoria de imprensa do Ministério da Defesa afirmou ainda não ter sido informada da decisão. Apesar de o Ministério da Defesa não confirmar, a Comissão da Verdade disponibilizou os ofícios encaminhados pelo ministério com as providências adotadas. No documento assinado pelo comandante do Exército, general Enzo Martins Peri, por exemplo (veja ao final desta reportagem), ele informa a Amorim a abertura do procedimento investigatório, "considerando a importância e urgência que o assunto requer".
Em reportagem publicada nesta terça pelo G1, o coordenador da Comissão da Verdade, Pedro Dallari, afirmou que o Ministério da Defesa estava jogando com o tempo com o objetivo de liberar respostas a solicitações feitas pelo grupo somente quando não fosse mais possível incluí-las no relatório final, que será concluído em dezembro. O ministério respondeu que "não há, não houve, e não haverá qualquer tentativa de retardar qualquer tipo de informação".
Segundo a CNV, o Ministério da Defesa encaminhou os pedidos de instauração de sindicâncias aos comandantes de cada uma das três forças em 19 de fevereiro, um dia após a CNV solicitar a investigação.
No último dia 25, o Exército informou ao Ministério da Defesa que abriu a sindicância e que também vai buscar informações sobre o assunto em "órgãos de direção setorial". Marinha e Aeronáutica responderam na segunda-feira (31). Na Aeronáutica, o comandante Juniti Saito encarregou o major-brigadeiro do Ar Raul Botelho a cuidar da sindicância.
Desvirtuamento de uso
Em 18 de fevereiro, a Comissão da Verdade solicitou ao ministro da Defesa a apuração de quais circunstâncias motivaram "o desvirtuamento do uso" de sete unidades militares do Exército, Marinha e Aeronáutica.
Segundo a CNV, essas unidades são as seguintes:
– Rio de Janeiro: Destacamento de Operações de Informações do I Exército (DOI/I Ex); 1ª Companhia de Polícia do Exército da Vila Militar; Base Naval da Ilha das Flores; Base Aérea do Galeão (Rio de Janeiro); Destacamento de Operações de Informações do II Exército (DOI/II Ex).
– São Paulo: Destacamento de Operações de Informações do II Exército (DOI/II Ex);
– Recife: Destacamento de Operações de Informações do IV Exército (DOI/IV Ex);
– Belo Horizonte: Quartel do 12º Regimento de Infantaria do Exército.
No ofício entregue a Amorim, a comissão ressalta que é "notoriamente sabido" que nessas instalações houve a "perpetração de graves violações de direitos humanos", em alguns casos com mortes, "de forma mais intensa" ao longo das décadas de 1960 e 1970.
Segundo a assessoria da Comissão da Verdade, somente dois desses locais não estão mais em funcionamento: o DOI/I Ex, do Rio, e o DOI/II Ex, da capital paulista. As demais unidades militares, informaram os integrantes da comissão, ainda estão em atividade.
G1