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Dólar fura R$ 5,70 e fecha no menor nível desde novembro de olho em China e EUA

O dólar experimentou queda firme na sessão desta segunda-feira, 17, e fechou no menor nível desde o início de novembro. O dia foi marcado pelo recuo global da moeda norte-americana, na esteira de indicadores de atividade mais fracos nos EUA. Divisas emergentes e de países exportadores de commodities se destacaram em razão do otimismo com a economia chinesa.

Além do anúncio de medidas para estímulo ao consumo pelo governo chinês, números de vendas no varejo e produção industrial do gigante asiático no primeiro bimestre superaram as estimativas. Vendas e preços de novas moradias caíram menos do que o esperado, diminuindo as preocupações com o setor imobiliário.

Por aqui, a leitura acima das estimativas do IBC-Br de janeiro esquentou o debate sobre a desaceleração da atividade doméstica e aumentou as expectativas para o tom do comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom), na quarta-feira, 19, quando o comitê do Banco Central deve elevar a taxa Selic em 1 ponto porcentual, para 14,25%, como já sinalizado.

Em queda desde a abertura dos negócios, o dólar furou no fim da manhã o piso de R$ 5,70, considerado um suporte expressivo por operadores. Com mínima a R$ 5,6664 à tarde, a moeda norte-americana fechou em queda de 0,99%, a R$ 5,6864 – menor valor de fechamento desde 7 de novembro (R$ 5,6753).

O dólar já acumula desvalorização de 3,89% em março, após ter subido 1,37% em fevereiro.

Para Patricia Krause, economista-chefe da Coface para América Latina, o mercado de câmbio doméstico acabou refletindo nesta segunda-feira basicamente o ambiente externo. Ela pontua que o dólar se desvaloriza em razão das incertezas sobre o impacto das tarifas de importação de Donald Trump sobre a economia norte-americana.

“Foi mais o movimento externo hoje, com o dólar fraco e a alta do petróleo, mas o IBC-Br bem mais forte que a estimativa do mercado também favoreceu o real”, afirma a economista.

Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY (Dollar Index) trabalhou em queda moderada ao longo do dia e já acumula perdas de mais de 3,80% em março, operando nos menores níveis desde outubro.

Divisas de países exportadores de commodities, como o dólar australiano e o neozelandês, além do real se destacaram. A maior valorização foi do rublo russo, com ganhos de mais de 2%, após confirmação de conversa na terça-feira entre Trump e o presidente russo, Vladimir Putin.

Às vésperas da decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), também na quarta-feira, 19, dados americanos desapontaram. As vendas no varejo subiram 0,2% em fevereiro, enquanto analistas previam alta de 0,7%. O índice de atividade industrial Empire State caiu para -20 em março, ante 5,7 em fevereiro. A expectativa era recuo para 1,5%.

“Os mercados globais seguem sensíveis às idas e vindas com tarifas de Trump, uma conduta que paralisa decisões de investimento e derruba a confiança, fazendo o mercado temer uma desaceleração mais forte nos EUA”, afirma a corretora Monte Bravo, em nota.

Analistas afirmam que o real pode se beneficiar do resultado da chamada Super Quarta. Sinais de corte de juros nos EUA ainda neste ano conjugados com aceno do Copom de continuidade do aperto monetário tendem a aumentar a atratividade do carry trade e desestimular ainda mais a manutenção de posições compradas em dólar.

O time de economistas do Itaú, liderado pelo ex-diretor do BC Mario Mesquita, afirma que a tendência de fortalecimento do dólar no exterior perde força com a combinação de novos estímulos econômicos na zona do euro e as incertezas provocadas pela política protecionista de Trump, que pode afetar o crescimento dos EUA.

Diante da apreciação do real neste início do ano, em especial por conta da perda global de força do dólar, o Itaú revisou projeção de taxa de câmbio em 2025 e 2026 de R$ 5,90 para R$ 5,75.

“Por um lado, o aumento do diferencial de juros e a expectativa de um dólar mais fraco contribuem para uma taxa de câmbio apreciada”, afirmam os economistas do Itaú. “Por outro, essa apreciação tende a ser limitada pelo prêmio de risco brasileiro elevado diante das incertezas fiscais e pela deterioração recente observada nas contas externas.”

Ibovespa

O Ibovespa costurou o quarto ganho consecutivo – sua mais longa sequência vitoriosa desde agosto, o mês em que estabeleceu sua máxima histórica mais recente, na casa dos 137 mil – e testou os 131 mil pontos no melhor momento da sessão, marca que não era tocada no intradia desde 7 de novembro. Assim, no maior nível do ano pela segunda sessão seguida, e pela primeira vez tocando e superando os 130 mil em 2025, o Ibovespa encerrou a segunda-feira, 17, em alta de 1,46%, aos 130.833,96 pontos, atingindo os 131.313,48 no pico desta segunda-feira.

O giro foi de R$ 23,1 bilhões na sessão, em que o Ibovespa saiu de abertura aos 128.959,10, nível quase equivalente à mínima do dia, aos 128.957,09 pontos.

No mês, o índice avança 6,54% e, no ano, acumula ganho de 8,77%. No fechamento desta segunda-feira, marcava o maior nível de encerramento desde 28 de outubro passado, então aos 131.212,58 pontos.

Neste começo de semana com deliberação sobre a Selic – espera-se nova alta de 100 pontos-base, que colocaria a taxa básica de juros a 14,25% ao ano, na quarta-feira -, o Ibovespa contou com apoio bem distribuído entre as blue chips, com destaque para Petrobras (ON +2,32%, PN +1,86%).

Os bancos também foram bem nesta abertura de semana, com Itaú (PN +3,00%) à frente. Vale ON, por sua vez, subiu 1,44%. Na ponta ganhadora, Vamos (+6,08%), Magazine Luiza (+5,63%) e Hapvida (+5,05%). No lado oposto, SLC Agrícola (-3,92%), B3 (-3,50%) e Natura (-3,16%).

“Há destravamento de valor no Ibovespa. Não há, no momento, tantas tensões políticas no radar, embora a questão fiscal permaneça presente. Vale e Petrobras têm contribuído para trazer força para o índice, mas as altas têm se mostrado bem distribuídas, embora a temporada de balanços do quarto trimestre, de forma geral, não tenha sido tão boa quanto a anterior para as empresas listadas”, diz Rubens Cittadin, operador de renda variável da Manchester Investimentos, acrescentando que o Ibovespa estava muito “descontado”, o que ampara a recuperação em curso.

Analistas têm apontado a possibilidade de uma rotação de ativos em curso, após o S&P 500 ter entrado em correção ante as máximas de fevereiro, o que explicaria a entrada de fluxo estrangeiro e a acomodação do câmbio em nível mais apreciado para o real. Nesta segunda-feira, o dólar à vista encerrou o dia em baixa de 0,99%, a R$ 5,6864. A curva de juros doméstica também tem se mostrado mais acomodada em relação aos excessos vistos especialmente no fim do ano passado.

Análise técnica do Itaú BBA aponta que a tendência de curto prazo ainda é indefinida para o Ibovespa, embora o índice pareça estar “a um passo de retomar a trajetória altista”. Acima dos 129.600 pontos, a análise gráfica do Itaú BBA indica que o Ibovespa poderá buscar os 132.300 pontos, o que abriria caminho, posteriormente, para ir em direção aos 137.469 pontos – nível correspondente à mais recente máxima histórica, atingida durante a sessão de 28 de agosto passado.

“O principal driver do dia foi China, onde saíram dados econômicos melhores, além do possível anúncio de novos estímulos, que impactaram positivamente commodities, o carro-chefe da sessão”, diz Rodrigo Marcatti, economista e CEO da Veedha Investimentos, destacando a ultrapassagem do importante marco dos 130 mil pontos pela primeira vez no ano.

“Mercado brasileiro tem mostrado melhora na margem, dia após dia, vindo de uma semana boa. E há fluxo de capital estrangeiro entrando”, o que ajuda a entender o ajuste no dólar, que “caiu bastante hoje frente ao real”, diz Marcatti. “Possibilidade de pacificação na Ucrânia também contribui” para a melhora de cenário, acrescenta. Da agenda doméstica, ele destaca o IBC-Br acima do esperado para a abertura do ano, em janeiro, divulgado nesta manhã.

“Mesmo com ambiente de política monetária mais restritivo, a atividade econômica pelo IBC-Br, considerado como prévia do PIB, iniciou 2025 em ritmo mais forte do que se pensava, em alta de 0,9% na margem – o que também contribuiu para o avanço da Bolsa e a queda do dólar, na sessão”, diz Virgílio Lage, especialista da Valor Investimentos.

Juros

As taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) terminaram o pregão em baixa. O fortalecimento do real, reflexo de uma percepção de risco reduzido em relação ao Brasil e de perspectivas mais positivas para a economia da China, contribuiu para o fechamento da curva.

A sinalização do governo de reajuste zero nos benefícios do Bolsa Família também colaborou neste sentido, ao diminuir a chance de surpresas na revisão da proposta do orçamento de 2025.

As taxas com vencimento mais próximo, no entanto, resistiram perto da estabilidade, após o IBC-Br de janeiro ficar acima dos níveis mais otimistas previstos pelo mercado, sugerindo atividade aquecida.

Segundo o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, estudos feitos pela pasta em parceria com entidades técnicas apontam que hoje o poder de compra dos benefícios do Bolsa Família, que são em média de R$ 230 a R$ 240 mensais, está adequado às necessidades dos beneficiários.

Para a economista-chefe da gestora Lifetime, Marcela Kawauti, a declaração de Dias colabora para a queda das taxas, mas a ausência de reajuste no Bolsa Família era algo esperado, levando em consideração o que já havia sido proposto pelo governo anteriormente. “Ele reafirmar ajuda, porque o orçamento tem margem de alteração ao longo do ano”, acrescentou. “O risco fiscal saiu um pouco do radar no início do ano. Tem menos indicações de piora vindas do governo federal”.

Kawauti apontou que a queda dos juros futuros também reflete fatores que se acumulam de pregões anteriores, como os sinais de desaceleração da economia em indicadores publicados na semana passada e a decisão do governo de diminuir a verba para o Bolsa Família em 2025.

Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, comentou que a desinclinação da curva de DIs ocorre como parte de um “movimento harmônico” de redução no prêmio de risco relacionado ao Brasil que fortaleceu o real e o mercado de ações doméstico.

Borsoi destacou que bancos estrangeiros estão ressaltando a “gordura bastante significativa” nos prêmios, e que os leilões de títulos públicos que costumam ter bastante procura por estrangeiros têm registrado demanda significativa, o que dá mais confiança aos investidores para explorar oportunidades de mercado.

A taxa do contrato de DI para janeiro de 2026 caiu a 14,745%, de 14,749% no ajuste anterior. A taxa para janeiro de 2027 diminuiu a 14,485%, de 14,560%, e a taxa para janeiro de 2029 recuou a 14,315%, de 14,437%.

Estadão Conteudo

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