A iminência de sua morte fora anunciada dias antes por seu filho, Adolfo. Suárez sofria de mal de Alzheimer há pelo menos dez anos e estava internado num hospital em Madri desde a última segunda-feira devido a uma infecção respiratória.
Católico, monárquico e ex-dirigente franquista, Suárez chegou à Presidência de governo aos 44 anos, nomeado pelo reiJuan Carlos I. Sua popularidade disparou graças a seu carisma e ao caráter conciliador num momento em que a sociedade espanhola precisava de consenso entre os recém-criados partidos políticos que deveriam redigir uma Constituição.
— Na transição, seu protagonismo só perde para o do rei — opina o historiador Javier Tusell.
Filho de um republicano de origem modesta, Suárez estudou Direito e foi governador da província de Segóvia, diretor-geral da Radiotelevisão Espanhola (RTVE) e, em 1975, vice-secretário geral do Movimento, grupo de inspiração fascista que integrava o único partido e sindicato da época de ditadura (1939-1975).
Após a morte de Franco, em 20 de novembro de 1975, o rei Juan Carlos, que havia sido nomeado chefe de Estado pelo próprio ditador, assumiu o comando do país e, em 1976, designou Suárez como presidente de governo.
“Eles tinham uma grande sintonia, pelo projeto político, pela idade, e a maneira de ser”, conta a rainha Sofia no livro “La reina muy de cerca” (”A rainha bem de perto”, em tradução livre), de Pilar Urbano.
Seu mandato foi ratificado nas urnas nas primeiras eleições democráticas organizadas com o fim do franquismo, em 15 de junho de 1977, nas quais Suárez se apresentou como líder do partido centrista União de Centro Democrático. Durante seu governo, ocorreram as principais reformas para levar a Espanha de uma ditadura a uma democracia, entre elas a legalização de todos os partidos políticos — incluída a do Partido Comunista —, anistia de todos os presos políticos e redação de uma Constituição e sua aprovação em referendo em 1978.
Após uma segunda vitória eleitoral em 1979, porém, sua liderança começou a se desgastar devido a tensões internas em seu partido, à crise econômica, à agitação militar, ao problema em relação à autonomia das regiões espanholas e aos atentados do bando terrorista basco ETA. Essas dificuldades, somadas à retirada do respaldo do rei, levaram Suárez a renunciar repentinamente em janeiro de 1981, dias antes do golpe de Estado militar de 23 de fevereiro, que acabou aplacado pelo monarca.
“Depois de cinco anos no governo superando circunstâncias gravíssimas, Suárez foi derrubado psicologicamente”, descreve o historiador Javier Tusell em seu livro “A transição à democracia”. “De maneira súbita ficaram claras suas próprias limitações, falta de formação, medo do Parlamento, desconfiança e ousadia”, explica.
Apesar disso, Suárez voltou a concorrer nas eleições de 1982 — vencidas pelos socialistas de Felipe González — como líder de um novo partido centrista, Centro Democrático e Social (CDS). Com o tempo, o centro político, já fragmentado desde que Suárez presidia o governo, perdeu espaço até desaparecer.
Nomeado Duque de Suárez pelo rei, que também lhe ofereceu a mais alta distinção da Casa Real, o ex-presidente estava afastado da vida pública há uma década, devido às complicações do mal de Alzheimer.
— Meu pai não lembra que foi presidente, apenas responde a demonstrações de carinho — explicou seu filho em 2005, quando admitiu pela primeira vez publicamente a doença do pai.
Nascido em 25 de setembro de 1932 em Cebreros, na província de Ávila, no Centro da Espanha, Suárez era viúvo de Amparo Illana, falecida em 2001. Teve cinco filhos.
Fonte: O Globo