Com passagens por Canoas-RS e Juventude-RS no passado, além do Palmeiras, Adriano se forjou atleta no futebol gaúcho e conviveu muitas vezes com o preconceito a seu redor. Por isso, ofereceu auxílio ao amigo Márcio, de quem recebeu agradecimentos públicos nos últimos dias.
"Ele conhece a minha família. Somos gaúchos, ele é um árbitro que tem carisma e tratamos sobre o que aconteceu assim que acabou o jogo. Me dirigi ao refeitório e depois nos encontramos. Como cidadão, da mesma cor, ficamos chateados. Muita coisa passa pela cabeça da gente, (…) e comentei que situações como aquelas ocorrem nas Serras Gaúchas", explica Adriano Chuva ao Terra.
Os episódios que realmente marcaram o atacante, entretanto, não ocorreram em Bento Gonçalves, mas sim em Caxias do Sul, onde começou a carreira. "Cheguei em 96 para jogar no Juventude e na época não tinham muitos negros. Então tinha um certo constrangimento, mas as pessoas não manifestavam. Você sentia (racismo), mas são coisas que tem que esquecer. O sentimento ruim não leva a nada. Passei situações constrangedoras, mas não dentro de campo", conta.
Adriano Chuva também cita que os anos 90 em Caxias eram mais difíceis em relação aos dias de hoje e que sentiu o preconceito muitas vezes no ar. "Meu caráter como jogador foi formado na Serra, com os (descendentes de) alemães, que foram duros. Havia muita diferença social, você é tratado diferente por não ter um carro bom ou não estar bem vestido. Às vezes não tem nada a ver com a cor. Hoje já mudou um pouco"
Situações que ocorreram nas quatro linhas, mas não diretamente com Adriano, também seguem em sua memória. "Houve o episódio com o zagueiro Antônio Carlos no jogo contra o Grêmio", recorda sobre gesto racista de Antônio contra o gremista Jeovânio em 2006. "Trabalhando no Juventude, já vi a torcida xingando (em tom racista) jogador do nosso time, pelo nome. Mas dentro de campo não pode ser radical. O mais grave é fora do campo", acredita.
A menção é sobre o que houve com Márcio Chagas. Além de ser hostilizado durante o jogo, o árbitro encontrou seu carro danificado por torcedores que também atiraram bananas. Recentemente, o Esportivo foi absolvido, e Márcio afirmou que iria à Justiça Comum para tentar uma punição.
Aos 33 anos e com certa rodagem, Adriano Chuva tenta amenizar os casos para levar a vida de maneira mais tranquila. "Não pode se achar que tudo é racismo. O negro tem que passar pros filhos que vai viver isso. Saber quando é até um carinho, uma brincadeira de amigo, para não deixar prejudicar. É preciso ter essa base".
Fonte: Terra