Pode se chamar de "ryegrass", "lollium perene" ou, simplesmente, "grama de inverno". Ela já é usada em estádios das regiões sul e sudeste do país, mas apenas sobre a "bermuda", tipo de grama tradicional do Brasil, e nas épocas mais frias do ano. No estádio do Corinthians, será o único tipo implantado e vai perdurar pelo ano todo. O ineditismo exige uma série de precauções para que nada dê errado na Copa, inclusive uma drenagem a vácuo, já utilizada em outros estádios, mas que se adapta melhor a esse tipo de gramado.
Pedro Reis é o engenheiro agrônomo que passa de seis a oito horas diárias supervisionando absolutamente tudo que diz respeito à grama da arena. Rogério e Fábio trabalham em sua equipe. No dia em que a seleção brasileira entrar em campo para abrir o Mundial, a temperatura da grama vai precisar estar entre 15 e 21 graus, sua altura de 22 a 25 milímetros e as listras em tons de verde alternados, entre outras exigências da Fifa.
Para isso, um sistema de refrigeração de equipamentos enormes, que custou cerca de R$ 1,5 milhão, é ligado todos os dias. Ele fica sob o gramado e, curiosamente, não vai funcionar na Copa. Por quê?
– Ele foi projetado para épocas mais quentes. Agora, por exemplo, ele está mantendo a temperatura do gramado uns dez graus abaixo da temperatura do ambiente. Antes, já chegou a estar 39 graus. Você vê a grama morrer nos seus olhos. Mas a ideia é que, de maio a setembro, com temperaturas mais amenas, ele nem seja utilizado. Essa é a época em que a grama atinge seu auge – explicou Reis, da World Sports.
Esse sistema faz circular água e ar gelados por meio de dutos chamados de "serpentinas", por baixo do gramado. Oito sensores espalhados pelo campo fornecem, em tempo real, sua temperatura, umidade e salinidade. Na manhã desta quarta-feira, durante visita da reportagem, eram 18 graus, em média.
Mesmo no inverno, é provável que o ar seja lançado (a uma velocidade de 150km/h) na grama da Arena Corinthians.
– Isso faz com que haja uma troca de ar entre o solo e a atmosfera. Ajuda, inclusive, no combate às doenças – disse André Amaral, outro engenheiro agrônomo da empresa contratada para implantar o gramado no local.
As tais "doenças" também causam dores de cabeça. É como os especialistas chamam o aparecimento de fungos. A grama de inverno é mais suscetível a eles, já que se trata de um piso típico de climas mais frios sendo utilizado no Brasil.
A equipe "concentrada" no estádio revisa diariamente o campo com olhos de lince. Enquanto caminhava, Pedro Reis localizou um pequeno tufo de grama em coloração diferente. A grande preocupação em atacar as doenças logo no início também está com o visual.
– A reunião de água e calor é um prato cheio para doença, mas se ela aparece numa lavoura, por exemplo, você aplica o remédio. Aqui, se não tomarmos medidas preventivas, de um dia pro outro pode aparecer uma mancha gigante e o visual é importante.
São duas justificativas para a escolha da grama de inverno. Uma diz respeito à grande área sombreada do campo de jogo. Os agrônomos afirmam que esse tipo de piso precisa de menos luz. Mesmo assim, outro aparelho bem grandioso está pronto para ser utilizado. É o sistema de iluminação artificial, que usará energia elétrica.
A outra razão, entretanto, é a que mais interessa à seleção brasileira. Comum na Europa, a ryegrass permite um jogo mais veloz, bonito. A bola rola melhor. Ao menos é o que garante Pedro Reis. Nas próximas semanas, inclusive, ele vai viajar ao Velho Continente para aprender com quem está acostumado a usar a grama de inverno como lidar com os dias anteriores e posteriores aos jogos.
A grande área, por exemplo, tem atualmente alguns pequenos buracos, oriundos do treino do Corinthians no último sábado. Nada preocupante em longo prazo, mas os engenheiros sabem que o intervalo entre as partidas da Copa do Mundo será pequeno. Até por isso, eles comemoram a intenção de Andrés Sanchez de levar a equipe para fazer atividades no estádio duas vezes por semana.
– Será bom para ver como o gramado se porta – disse Amaral, que também garante seu bom estado para a partida entre Corinthians e Flamengo, marcada para inaugurar em jogos oficiais a Arena Corinthians no dia 27 de abril.
– Se quiser fazer jogo hoje, dá pra fazer.
Tudo é tão novo que ainda falta experiência no manejo. Uma máquina que custa R$ 250 mil, por exemplo, demorou a funcionar, mas passeou por todo o gramado. Ela faz furos na superfície e será usada após cada partida da Copa para causar uma sensação de maior maciez aos jogadores.
O contrato da World Sports com o Corinthians vai somente até a competição da Fifa, mas é possível que a falta de experiência do clube com a grama de inverno prorrogue o compromisso. No total, já foram gastos mais de R$ 2 milhões. A manutenção mensal será de cerca de R$ 90 mil.
Globo Esporte