A Unidos da Tijuca abriu a segunda noite de desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro, às 22h desta segunda-feira, 3, com um desfile que impressionou pela beleza das alegorias e fantasias. A escola contou a história do orixá Logun-Edéz, descrevendo sua origem e encantamento na África e o renascimento no Brasil, até chegar ao morro do Borel, na zona norte do Rio, onde foi fundada a Unidos da Tijuca.
Com um samba que tem a cantora Anitta como uma das compositoras, a escola conseguiu empolgar a plateia até mais do que as quatro escolas da primeira noite, mas pecou em evolução – abriu buracos entre as alas, durante alguns trechos do desfile – e o desempenho do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Matheus André e Lucinha Nobre, também teve pequenas falhas.
Entre os destaques, um deles foi a comissão de frente, onde uma pessoa representando o orixá se banhava e desaparecia.
Apesar dos problemas, a escola fez um belo desfile e, se não deve disputar o título, aparentemente garantiu uma posição intermediária na classificação.
A Beija-Flor foi a segunda escola de samba a desfilar na segunda noite de apresentações deste carnaval no sambódromo do Rio de Janeiro, a partir das 23h30 de segunda-feira. Homenageando Laíla, diretor de carnaval da agremiação durante mais de 30 anos e morto em 2021, vítima da covid-19, a Beija-Flor fez o melhor desfile dos seis realizados até agora. Faltam outras seis escolas se apresentarem.
O desfile começou exaltando a religiosidade do artista, cujo orixá era Xangô, retratado no carro abre-alas. Depois houve várias outras referências às crenças religiosas de Laíla, e em seguida começaram menções aos momentos históricos vividos por Laíla primeiro no Salgueiro, onde começou a trabalhar com o carnaval, e depois na Beija-Flor, por onde teve três passagens – a última, encerrada em 2018.
Os dois momentos mais emocionantes ocorreram no trecho final do desfile. Um carro alegórico trazia Laíla de um lado e Joãosinho Trinta de outro. Eles trabalharam juntos no Salgueiro e na Beija-Flor.
O último elemento cenográfico era uma escultura coberta por um plástico preto, referência ao desfile de 1989, quando a Beija-Flor levou à avenida o enredo “Ratos e urubus, larguem minha fantasia”. Uma escultura de Cristo teve sua exibição proibida pela Justiça, a pedido da Cúria Metropolitana, e atravessou a Sapucaí coberta por um plástico preto onde se lia “Mesmo proibido, olhai por nós”. Embora creditada a Joãosinho Trinta, a ideia foi de Laíla, segundo ele contou em várias entrevistas, e nunca foi contestado por Joãosinho.
Na nova versão, a escultura sugeria que quem estava coberto era Laíla, e no plástico preto se lia “do Orum, olhai por nós”. Orum é a palavra da língua iorubá que define, na mitologia iorubá, o céu ou o mundo espiritual.
Salgueiro discorre sobre crenças religiosas
Terceira escola a desfilar na segunda noite de apresentações do carnaval de 2025 no sambódromo do Rio de Janeiro, a partir de 1h de terça-feira, 4, o Salgueiro fez uma exibição de alta qualidade, aparentemente sem erros, mas não alcançou o nível de luxo e de emoção da Beija-Flor, que havia desfilado imediatamente antes.
A escola da Tijuca, na zona norte do Rio, apresentou o enredo “De Corpo Fechado”, que discorreu sobre as diversas crenças relativas à proteção espiritual, em religiões e mesmo na mística do cotidiano.
Com fantasias mais leves do que o habitual, o Salgueiro começou com uma animação contagiante, mas ela foi arrefecendo ao longo da exibição. A escola possivelmente não dispute o título, mas tem cacife para voltar à Sapucaí no desfile das campeãs.
Vila Isabel faz viagem mal assombrada e tem problemas
Quarta e última escola a desfilar na segunda noite de apresentações no sambódromo do Rio de Janeiro, a Unidos de Vila Isabel apresentou um enredo sobre assombrações e teve problemas com alegorias e fantasias. Não fez um desfile ruim, mas, diante do alto nível apresentado pelas primeiras três escolas, acabou sendo a pior da noite.
O enredo idealizado pelo carnavalesco Paulo Barros era uma viagem em um trem fantasma, representado no abre-alas, onde desfilou também o cantor e compositor Martinho da Vila, presidente de honra da escola.
Ao longo da viagem havia curupiras, sacis-pererês, boitatás, cucas e outras figuras medonhas do folclore brasileiro e do imaginário popular.
O desfile teve as características de Paulo Barros: alegorias em que um grande número de pessoas fazia coreografias, completando a ideia sugerida. Embora divertidas, elas não despertaram grande surpresa nem emoção, como outras realizadas pelo carnavalesco em desfiles passados.
Os problemas começaram na comissão de frente, que usava uma abóbora iluminada e “voadora”, graças a um drone. Num trecho do desfile, ela caiu.
Dois dos carros alegóricos tiveram problemas de acabamento e de iluminação antes de entrar na avenida, o que pode acarretar perda de pontos. A reportagem também constatou fantasias quebradas ou incompletas em duas alas.
Apesar dessas questões, o desfile foi bom e pode até garantir uma vaga entre as seis que voltarão no desfile das campeãs, mas foi inferior às outras da noite, principalmente Beija-Flor e Salgueiro.