Ela disse que não acredita na Polícia Militar.
"Foi só virar a esquina e ela deu de frente com eles. Eles [os policiais] deram dois tiros nela, um no peito, que atravessou, e o outro, não sei se foi na cabeça ou no pescoço, que falaram. E caiu no chão. Aí falaram [os policiais] que se assustaram com o copo de café que estava na mão dela. Eles estavam achando que ela era bandida, que ela estava dando café para os bandidos", contou.
Segundo Thaís, os moradores tentaram impedir que a polícia levasse Cláudia do local. No tumulto, policiais teriam atirado para o alto para afastar as pessoas. Ainda segundo ela, o porta-malas do carro da PM que levou Cláudia abriu uma primeira vez na Rua Buriti, logo após o socorro feito pelos PMs.
"Um pegou ela pela calça e outro pela perna e jogou dentro da Blazer, lá dentro, de qualquer jeito. Ficou toda torta lá dentro. Depois desceram com ela e a mala estava aberta. Ela ainda caiu na Buriti [rua, em Madureira], no meio do caminho, e eles pegaram e botaram ela para dentro de novo. Se eles viram que estava ruim porque eles não endireitaram (sic) e não bateram a porta de novo direito?", questionou.
A filha da vítima contou que trocas de tiros são comuns no Morro do Congonha, mas que o episódio que tirou a vida de sua mãe foi atípico, já que, segundo ela, não houve confronto com traficantes e os policiais militares teriam chegado na comunidade atirando.
"Lá é quase sempre assim, mas dessa vez ninguém entendeu nada a atitude deles, de chegar atirando assim, na rua. Não teve troca de tiros", explicou.
Thaís comentou também a diferença de postura no socorro da sua mãe e de um outro baleado na mesma situação. Segundo ela, o corpo do homem atingido na troca de tiros permaneceu no local esperando a perícia, enquanto Cláudia foi levada para o hospital.
"Se matou ela, como se fosse bandida, por que deixaram o outro na rua? O corpo dele ficou lá, esperando a perícia. Eles levaram a minha mãe igual a um louco (sic)", questionou ela, que disse querer justiça na resolução do caso que matou sua mãe. "Eu quero justiça e que eles paguem o que eles fizeram com a minha mãe", finalizou.
PMs 'riram', disse filha
Durante a entrevista, Thaís citou o momento em que os policiais riram após a troca de tiros. "Todos eles que estavam lá em cima [na ação da PM], estavam lá embaixo [na manifestação na Avenida Edgard Romero, no domingo]. Eles estavam rindo e eu fui perguntar para eles 'Minha mãe trocou tiro com vocês, minha mãe é bandida? Cadê a arma? Eles ficaram quietos'", contou ela, que disse ter sido segurada pelo amigos para não enfrentar os agentes.
Beltrame repudia conduta dos PMs:
O secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, disse por meio de nota nesta segunda-feira (17) que repudiou a conduta dos policiais que fizeram o resgate da auxiliar de serviços gerais Claudia Ferreira da Silva, Ele informou que, além do inquérito Policial Militar instaurado, a Polícia Civil também investiga o caso.
PMs afastados
"Lamentamos muito a forma como a senhora Cláudia foi socorrida, é uma forma que nós não toleramos. A corporação não compactua com isso. Por essa razão, eles estão sendo autuados e serão conduzidos à unidade prisional", afirmou o relações-públicas da PM, tenente-coronel Cláudio Costa em entrevista à GloboNews. "O ideal era que ela fosse no banco de trás, amparada por um policial. O que não aconteceu", acrescentou Costa, referindo-se à forma como a vítima foi socorrida.
G1