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Com Vale em alta, Ibovespa avança 0,23%; dólar cai com exterior após aceno de Trump à China

Em dia de foco em balanços como os de Vale e Banco do Brasil, e de agenda econômica relativamente esvaziada, o Ibovespa se manteve em margem estreita, entre mínima de 127.063,47 e máxima de 127.871,29, com fechamento a 127.600,58 pontos, em leve alta de 0,23%. Na semana, ainda acumula perda de 0,48% e, no mês, avança 1,16%. No ano, o ganho é de 6,08%.

O giro subiu a R$ 24,4 bilhões na sessão, em que o destaque foi Vale ON, em alta de 3,68% após os resultados trimestrais divulgados no fim da noite anterior. A principal ação do Ibovespa esteve entre as que mais avançaram hoje, logo atrás de PetroReconcavo (+7,41%) e de Totvs (+3,08%). Na ponta oposta, Vamos (-5,57%), Gerdau (-5,36%) e Metalúrgica Gerdau (-4,92%).

“A despeito do prejuízo informado – decorrente principalmente de baixas contábeis -, Vale trouxe redução de custos operacionais”, resume Gabriel Cecco, especialista da Valor Investimentos. “A empresa tem feito a parte dela para ajustar a rota e há também percepção mais favorável sobre a China, especialmente desde os desdobramentos no setor de tecnologia, com efeito para os calls de bolsa chinesa após o evento DeepSeek – e apesar dos problemas estruturais com relação ao setor de infraestrutura e construção, que ainda precisam ser endereçados”, diz Naio Ino, gestor de renda variável na Western Asset.

Dessa forma, o avanço superior a 3% para o papel da mineradora ao longo da sessão colocou o ganho acumulado pela ação na semana a 3,72% e, no mês, a 6,59% – no ano, Vale sobe agora 5,85%.

Outro destaque da agenda de balanços na sessão, a reação aos resultados trimestrais de Banco do Brasil, embora considerados bons, veio na forma de uma realização de lucros em cima de uma expectativa que já era positiva para os números do período. No ano, a ação BB ON ainda acumula ganho perto de 17% – e de pouco mais de 2% no mês, à frente das demais grandes instituições financeiras em ambos os intervalos. Assim, fechou hoje em baixa de 2,98%, em dia levemente positivo para Santander (Unit +0,11%), misto para Bradesco (ON +0,09%, PN -0,25%) e negativo para Itaú (PN -0,27%).

“A Bolsa digeriu balanços importantes, como o da Vale, que surpreendeu positivamente com dividendos e recompra de ações, sustentando o índice na sessão. E Banco do Brasil, apesar do lucro recorde, viu suas ações caírem, refletindo certa cautela com o setor de crédito”, diz Lucas Almeida, sócio da AVG Capital. A alta do minério de ferro e a valorização de algumas empresas do setor de varejo também influenciaram o desempenho do Ibovespa nesta quinta-feira, acrescenta Almeida. Em Dalian, a tonelada do minério fechou em alta de 2,26% no contrato futuro mais negociado, perto de US$ 115, e em Cingapura, de 1,74%.

No cenário doméstico, o ajuste visto na ponta longa da curva do DI, desde o auge da aversão a risco no fim do ano passado com relação à condução da política fiscal, tem contribuído para a melhora da precificação de ações que vinham muito “amassadas”, como as de varejo e consumo, sensíveis a juros. “De forma geral, os balanços de empresas brasileiras no quarto trimestre têm vindo bons, mas há alguma cautela e expectativa para o meio do ano, quando pode vir uma desaceleração no ritmo de atividade econômica”, observa Ino.

“O mercado tem começado a querer precificar alguma melhora para o cenário fiscal – claro que ainda há muito a ser negociado -, mas de qualquer forma uma melhora de percepção que também tem tido efeito benéfico para o câmbio”, o que contribui para a relativa recuperação observada na Bolsa desde janeiro, nota Diego Faust, operador de renda variável da Manchester Investimentos.

Dólar

Com agenda doméstica de indicadores esvaziada e sem surpresas vindas de Brasília, os negócios no mercado de câmbio local foram pautados pelo ambiente externo na sessão desta quinta-feira, 20.

O real se apreciou moderadamente em dia de enfraquecimento global do dólar, após Donald Trump acenar com um possível acordo comercial com a China. Isso reforça a tese de que o presidente americano vai usar a ameaça de tarifaço para abrir canais de negociação, o que mitiga temores de acirramento da guerra comercial.

Divisas emergentes também se beneficiaram da valorização das commodities, em especial do minério de ferro, após o Banco do Povo da China (PBoC, o BC chinês) prometer medidas para estimular o crescimento e mitigar a crise no setor imobiliário.

Em baixa desde a abertura dos negócios, o dólar fechou em queda de 0,39%, a 5,7044, após ter tocado mínima a R$ 5,6870. O real, que vem liderando o desempenho entre emergentes nas últimas semanas, hoje exibiu ganhos inferiores a de seus pares latino-americanos.

“O cenário externo está mais ameno após Trump tirar um pouco o pé na questão do tarifaço e com a perspectiva de melhora no quadro geopolítico. A Ucrânia sinalizou hoje à tarde que pode aceitar ouvir proposta de Trump para encerrar a guerra”, afirma o superintendente da mesa de derivativos do BS2, Ricardo Chiumento.

Um dia após ser chamado de ditador por Trump, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse que está pronto para um “acordo forte e realmente benéfico” com o presidente americano. “Todos precisam do sucesso nas relações com os Estados Unidos”, afirmou o ucraniano, que conversou hoje com enviado especial de Trump para a região.

Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY apresentou queda firme e não apenas furou o piso de 107,000 pontos como desceu até a mínima aos 106,356 pontos. Euro e libra acentuaram os ganhos após fala de Zelensky, ao passo que o iene avançou mais de 1% com a perspectiva de mais alta de juros no Japão.

Chiumento avalia que cresce a percepção de que a política tarifária de Trump, apesar de menos agressiva do que o previsto, pode afetar mais a economia dos EUA do que a dos parceiros. O prognóstico é de inflação persistente com redução do crescimento.

“Essa perspectiva de desaceleração dos EUA tem favorecido outras moeda globais e também o real”, afirma o superintendente da mesa de derivativos do BS2. “Vejo um suporte muito forte do dólar em R$ 5,70. Se fechar consistentemente abaixo disso por alguns dias, pode buscar R$ 5,60”.

A MCM Consultores avalia que o cenário para a moeda brasileira no médio prazo ainda é desfavorável. A consultoria projeta taxa de câmbio de R$ 6,00 em dezembro deste ano e de R$ 6,20 no fim de 2026.

Entre os fatores que podem levar a uma depreciação do real, a consultoria ressalta que as dúvidas sobre a qualidade e magnitude do ajuste fiscal – e da própria dinâmica da dívida pública – “devem retomar com força mais à frente”.

“Esse cenário tem por base a perspectiva de uma campanha polarizada entre forças políticas tradicionais, e pode se modificar no caso de reviravolta que permita a viabilidade política-eleitoral de candidaturas percebidas pelo mercado como reformistas”, afirma a consultoria.

Outro risco que ameaça o real é o “potencial estrago” que o governo Trump ainda pode promover na economia global e na geopolítica, que não pode ser menosprezado, alerta a MCM Consultores.

“Apesar da atual calmaria, as perspectivas de médio prazo para a moeda doméstica seguem, a nosso ver, negativas. Naturalmente, quanto tempo durará essa trégua é difícil dizer”, afirma a consultoria.

Juros

A curva de juros demonstrou um fechamento suave, amparado pela valorização do real e da queda dos rendimentos dos Treasuries. Contudo, os vértices a partir de 2031 seguiram em alta ainda com uma pressão do leilão do Tesouro, que fez a maior oferta de prefixados desde 2020 nesta quinta-feira, considerando que a distribuição de risco ficou mais concentrada nos vencimentos de maior prazo.

A taxa de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 caiu para 14,630%, de 14,694% no ajuste anterior, e o para janeiro de 2027 recuou a 14,600%, de 14,678%. O DI para janeiro de 2029 fechou a 14,440%, de 14,468%, e o para janeiro de 2035 subiu a 14,450%, de 14,36%.

“Hoje novamente tivemos um leilão do Tesouro atipicamente grande, mas que parece muito bem absorvido. Há um movimento de abertura dos juros a partir de janeiro de 2031, pois a distribuição de risco na colocação do Tesouro se concentrou mais a partir de 2029”, afirma o gestor de renda fixa da Porto Asset, Gustavo Okuyama.

A Necton Investimentos aponta que o Tesouro Nacional fechou a semana com uma das maiores emissões de títulos públicos da sua história, considerando os volumes financeiros e risco (DV01) para o mercado. A instituição realizou os maiores leilões de Notas do Tesouro Nacional – Série B (NTN-B) e prefixados desde 2021 e 2020, respectivamente.

Okuyama pondera que o fato de os vértices mais curtos e intermediário dos juros conseguirem se manter em queda é “atípico e mostra ambiente de busca por risco com duration, porque em ambiente de mais normalidade o leilão do Tesouro teria causado um estrago nos juros relevante”.

Hoje o dólar no nível de R$ 5,70, em queda moderada ante o real, e o fechamento da curva dos Treasuries apoiaram os juros de curto e médio prazo. “O rendimento dos Treasuries define expectativa de política monetária do Brasil, e hoje também vemos um dólar um pouco mais baixo, segurando expectativa de pressão inflacionária. Isso ajuda a ter os juros um pouco mais aliviados”, comenta o CEO da Gravus Capital, Ricardo Trevisan Gallo.

Estadão Conteudo

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