Após ter subido perto de 5% em janeiro, o Ibovespa encerrou a primeira semana de fevereiro acumulando perda de 1,20%, definida nesta última sessão do intervalo, quando cedeu 1,27%, aos 124.619,40 pontos, com giro a R$ 21,1 bilhões. Na mínima do dia, operou aos 124.319,63 pontos, saindo de abertura aos 126.218,71 – na máxima, foi a 126.524,48 pontos. No ano, tem ganho de 3,60%. A perda semanal foi o primeiro revés do ano, vindo o Ibovespa de ganhos nas quatro anteriores.
Em Nova York, os principais índices de ações mostraram retrações entre 0,95% (S&P 500) e 1,36% (Nasdaq) nesta sexta-feira, em dia de avanço do dólar e, também, para os rendimentos dos Treasuries e da curva de juros doméstica. À tarde, a cautela foi reforçada por relato da agência de notícias Reuters de que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, planeja anunciar novas tarifas recíprocas ainda nesta sexta-feira, conforme teria dito a parlamentares republicanos, segundo duas fontes ouvidas na reportagem.
Mais cedo, pela manhã, o destaque havia sido nova leitura oficial sobre o mercado de trabalho dos EUA em janeiro, com criação de vagas abaixo do esperado. Na avaliação da Pantheon, contudo, não há perspectiva de “deterioração” da situação do emprego no país. Dessa forma, a consultoria mantém a expectativa para cortes na taxa de juros do Federal Reserve em junho, setembro e dezembro, em redução de 75 pontos-base neste ano – eliminando assim uma das reduções, de 25 pontos-base, que havia também previsto para o calendário.
“Os números do payroll, embora um pouco abaixo das expectativas do mercado, trazem alguns dados que ainda mostram resiliência da economia americana”, diz Rodrigo Ashikawa, economista da Principal Claritas. “Dados de meses passados foram revisados para cima na geração de vagas e a taxa de desemprego caiu em relação ao mês anterior, além de os salários terem vindo um pouco mais pressionados. De qualquer forma, leitura vai na linha de um Fed mais cauteloso no atual estágio de condução da política monetária, em semana ainda marcada por ruídos em torno da política comercial americana – o que traz volatilidade para os mercados globais.”
Bruna Centeno, economista e advisor da Blue3 Investimentos, diz que a sessão foi como o inverso do dia anterior. “O payroll foi realmente o que movimentou, sendo o principal vetor para a correção vista na Bolsa, com dólar em alta assim como na curva de juros, seja nos vencimentos intermediários ou nos longos.” Ao explicar o ajuste negativo das bolsas de Nova York e o avanço dos rendimentos dos Treasuries, Bruna acrescenta que “os dados de emprego vieram um tanto mistos, o que dificulta um pouco a leitura com relação à perspectiva para os juros americanos, com índices que também têm trazido aumento das expectativas de inflação por lá”.
Assim, em paralelo ao dólar na máxima do dia, de volta à casa de R$ 5,80, o Ibovespa aprofundou perdas no meio da tarde, em queda de 1,51% na mínima do dia. Entre os grandes bancos, segmento de maior peso no índice, o ajuste negativo chegou a 3,93% em Bradesco PN, instituição financeira que divulgou balanço trimestral antes da abertura desta sexta-feira. Os carros-chefes Petrobras e Vale mostraram perdas mais contidas no fechamento, com a ON e a PN da estatal em baixa de 0,68% e 0,57%, pela ordem, e a ON da mineradora, de 0,54%.
Na ponta ganhadora do Ibovespa, destaque na sessão para Totvs (+2,69%), Hapvida (+2,64%) e Fleury (+1,83%). No lado oposto, Automob (-7,41%), Cosan (-6,14%) e Localiza (-6,11%).
O quadro das expectativas para o desempenho das ações no curtíssimo prazo ficou menos otimista no Termômetro Broadcast Bolsa desta semana. A previsão de alta do índice, que foi majoritária na semana passada, perdeu espaço para expectativas de queda no principal indicador da B3. Entre os participantes, 25,0% esperam que o Ibovespa avance, enquanto as fatias que esperam estabilidade e baixa são de 37,5% cada. Na edição anterior, a expectativa de ganhos tinha 50,0% do universo; a de variação neutra, 37,5%; e de queda, 12,5%.
Dólar
O dólar ganhou força ao longo da tarde desta sexta, 7, no mercado doméstico e encerrou a sessão desta sexta-feira, 7, em alta moderada, perto do nível técnico de R$ 5,80. Além da onda de aversão ao risco provocada pela notícia de que o presidente Donald Trump pretende anunciar tarifas recíprocas para parceiros comerciais dos EUA, pesou contra a moeda brasileira, na reta final dos negócios, declaração do ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, sobre um possível reajuste do Bolsa Família.
O novo episódio da novela das tarifas levou a uma rodada global de fortalecimento da moeda americana que acabou contaminando as divisas emergentes. Pela manhã, o real e seus pares latino-americanos avançavam a despeito de números fortes do mercado de trabalho e de piora das expectativas de inflação nos EUA. Temores de que a política protecionista de Trump resulte em pressões inflacionárias levam a uma redução das apostas em corte de juros pelo Federal Reserve neste ano.
Com a alta de commodities como petróleo e minério de ferro, o dólar tocou mínima a R$ 5,7354 na primeira etapa de negócios. No início da tarde, o real passou a se depreciar, mas apresentava ainda desempenho superior a de seus pares. O caldo entornou na última hora da sessão, quando o dólar superou R$ 5,80 e registrou máxima a R$ 5,8086, levando o real a amargar perdas mais fortes que as do peso mexicano.
Em entrevista à Deutsche Welle, o ministro Wellington Dias disse que pode haver reajuste do Bolsa Família até março, em resposta a alta dos preços dos alimentos. “Vamos tomar uma decisão dialogando com o presidente, porque isso repercute. Será um ajuste? Será um complemento na alimentação?”, pergunta Dias, para, então, admitir que mexer no valor do repasse “está na mesa”.
Fontes da equipe econômica afirmaram ao Broadcast que a declaração de Dias é apenas um ruído e que, além de não haver espaço orçamentário para um aumento no valor do benefício, a medida pioraria o quadro inflacionário.
No fim do pregão, o dólar era negociado a R$ 5,7936, em alta de 0,52%. Apesar do avanço de hoje, a moeda termina a semana com queda de 0,74%, após recuo de 5,56% em janeiro. A divisa acumula desvalorização de 6,26% no ano.
O economista-chefe da Integral Group, Daniel Miraglia, observa que, dado o tombo do dólar nas últimas semanas, havia espaço para uma realização de lucros no mercado local, que parece ter sido desencadeada hoje pela piora do humor no exterior com nova ameaça de imposição de tarifas por Trump.
Miraglia, porém, vê o movimento de apreciação do real em 2025 mais ligado a questões domésticas do que ao quadro externo, destacando que o índice DXY tem apenas uma leve queda no período. Para o economista, o comportamento da moeda brasileira reflete a perspectiva de “cenários alternativos” que se abrem com a queda da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“O cenário base é o governo continuar a fazer o mesmo, negando problemas na questão fiscal. Mas cresceram alguns cenários alternativos, como Lula adotar uma postura mais amigável ao mercado, como fez em entrevista coletiva recente, em que defendeu a autonomia do Banco Central”, diz Miraglia, citando também a possibilidade de que surjam dúvidas sobre a saúde de Lula que alimentem a perspectiva de o petista não tentar a reeleição. “Se esses cenários alternativos crescerem, o dólar pode cair ainda mais.”
No exterior, o dia foi dominado por indicadores da economia americana e as ameaças trumpistas. No início da tarde, a Reuters informou que Trump disse a parlamentares republicados que teria planos de anunciar tarifas recíprocas possivelmente nesta sexta-feira. Em seguida, o presidente dos EUA disse que pretende impor tais tarifas na próxima semana, sem detalhar quais países poderão ser afetados.
Do lado dos indicadores, o relatório de emprego (payroll) revelou geração de 143 mil vagas nos EUA em janeiro, abaixo da mediana de Projeções Broadcast (170 mil), mas houve revisão para cima dos números de dezembro (256 mil para 307 mil) e novembro (de 212 mil para 261 mil). Além disso, a taxa de dezembro caiu de 4,1% para 4%, e o salário médio por hora subiu 0,48%, acima das expectativas.
Pesquisa da Universidade de Michigan trouxe queda do sentimento do consumidor na passagem de janeiro para fevereiro, mas aumento das projeções de inflação em 12 meses (de 3,3% para 4,3%) e para um horizonte de cinco anos (de 3,2% para 3,3%).
“Trump vai suar muito a questão das tarifas para negociar, mas vai fazer menos na prática do que o mercado espera. Ele deve, sim, adotar um programa muito forte de corte de gastos”, afirma Miraglia, da Integral, que espera retomada do processo de corte de juros pelo Fed a partir de meados do ano.
Juros
Os juros futuros aceleraram o ritmo de alta na tarde desta sexta, 7, na medida em que o mercado embute o risco de que o governo faça um reajuste no Bolsa Família. Apuração do Broadcast, contudo, mostra que para a equipe econômica um reajuste no programa só traria mais ruído e pioraria a inflação. O fortalecimento do dólar e o avanço nos rendimentos dos Treasuries também pesaram, em um cenário externo adverso após o presidente Donald Trump dizer que pretende anunciar tarifas recíprocas na próxima semana e o payroll mostrar atividade econômica ainda aquecida. No balanço semanal, a curva abriu, com taxas subindo até 22 pontos-base.
A taxa de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 subiu a 15,020%, de 14,955% do ajuste anterior. O DI para janeiro de 2027 avançou para 15,195%, de 15,025%, e o para janeiro de 2029 encerrou em alta a 14,900%, de 14,693% ontem no ajuste.
O destaque desta tarde ficou para entrevista do ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), Wellington Dias, que comentou à Deutsche Welle que o governo estuda uma mudança no valor do Bolsa Família por causa dos altos preços dos alimentos.
O head de alocação da W1 Capital, Victor Furtado, considera que a possibilidade de reajuste do Bolsa Família é contra o ideal do mercado, de que o governo corte gastos, e também aumenta o poder de compra, gerando a expectativa de inflação mais elevada. “Acho difícil tirarem do papel, mas, se tentarem de fato, o mercado vai voltar a cobrar via prêmios mais elevados nos juros”, acrescenta.
Integrantes da equipe econômica afirmaram ao Broadcast que a declaração de Dias de que o reajuste do Bolsa Família “está na mesa” do governo é apenas um ruído. Segundo os técnicos, além de não haver espaço orçamentário para um aumento no valor do benefício, a medida pioraria o cenário inflacionário.
Parte do estresse nos DIs também foi atrelado ao cenário externo mais adverso, com fortalecimento do dólar globalmente – inclusive ante o real – e os juros dos Treasuries em alta denotando a aversão a risco.
À tarde, Trump afirmou que terá “tarifas recíprocas”, com previsão de que sejam anunciadas na segunda ou terça-feira da próxima semana. Com isso, volta-se o receio de maior inflação nos EUA e menor espaço para corte de juros pelo Federal Reserve (Fed).
Pela manhã, o tão aguardo relatório de empregos (payroll) americano mostrou uma criação de vagas abaixo do esperado, mas queda na taxa de desemprego e aumento de salários acima do previsto. Para a Capital Economics o payroll mostrou sinais “saudáveis” da economia do país e mantém o Fed afastado da retomada do ciclo de flexibilização monetária.