Em dia de variação restrita e de liquidez reduzida pelo semiferiado nos Estados Unidos em memória do presidente Jimmy Carter (1977-1980), o Ibovespa se estabilizou após perda de 1,27% no dia anterior. Nesta quinta, 9, o índice da B3 oscilou menos de 650 pontos entre a mínima (119.501,97) e a máxima (120.145,30) da sessão, em que saiu de abertura aos 119.624,75 pontos. Ao fim, mostrava leve ganho de 0,13%, aos 119.780,56 pontos, com giro a R$ 13,2 bilhões. Na semana, o Ibovespa avança 1,05%, reduzindo a perda do mês a 0,42%.
Sem a referência das bolsas de Nova York, fechadas nesta quinta-feira, o desempenho positivo era assegurado mais cedo, e até o meio da tarde, por Vale ON, a principal ação da carteira. Mas, em diante, o papel da mineradora passou a cair, nas mínimas da sessão. Fechou em baixa de 0,62%, a R$ 51,23, com piso a R$ 51,14. A ação segue contida pelas dúvidas em torno do nível de demanda da China em meio ao processo de desaceleração estrutural da segunda maior economia do mundo.
Tal oscilação em Vale ON foi pouco compensada por Petrobras, com variação de -0,02% (ON) e +0,44% (PN) ao fim. Entre os grandes bancos, sem direção única no fechamento, a principal ação do setor, Itaú PN, subiu 0,26% e Bradesco ON mostrou ganho de 0,19%, ambos limitados perto do encerramento. Banco do Brasil ON oscilou para cima e fechou na máxima do dia, em alta de 0,46%. Na ponta ganhadora do Ibovespa, destaque hoje para Minerva (+5,79%), BTG (+2,44%) e Carrefour (+2,41%). No lado oposto, CSN (-3,99%), Hapvida (-3,83%) e Braskem (-3,08%).
Para Marcelo Boragini, sócio e especialista em renda variável da Davos Investimentos, o momento do Ibovespa é de “ajuste técnico”, buscando recuperação após o acúmulo de perda considerável. “A aversão a risco continua em alta devido ao discurso de Trump, que promete adotar política protecionista, algo que pode impactar a inflação nos Estados Unidos. A grande dúvida é como o governo americano vai se posicionar com relação aos parceiros comerciais”, diz.
“O dia foi relativamente leve, em liquidez como também em noticiário, sem os mercados americanos e indicadores relevantes. A atenção global tende a se voltar para novos dados oficiais sobre o mercado de trabalho nos Estados Unidos, com o payroll, na sexta-feira, após a indicação de cautela do Federal Reserve em relação aos próximos passos na condução da política monetária”, diz Rodrigo Ashikawa, economista da Principal Claritas.
“Difícil tirar conclusão do pregão de hoje, com liquidez pequena em função do feriado em Nova York. As mesmas preocupações do final do ano passado continuam, e Trump traz nova incerteza, ainda que o fiscal doméstico esteja um pouco mais de lado. Até que o Congresso retome os trabalhos, mercado tende a viver de eventos corporativos. Vai se arrastar até lá – sem esquecer que Trump assume dia 20”, aponta Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença.
Ainda que o Ibovespa não tenha avançado muito no fechamento, o “dia foi de alívio no câmbio – com o dólar abaixo de R$ 6,05 pela primeira vez em um bom tempo – e de demanda melhor do que o esperado em leilão de títulos do Tesouro prefixados, o que fez com que os DIs recuassem na sessão”, observa Wagner Varejão, economista da Valor Investimentos. No encerramento, o dólar à vista mostrava queda de 1,10%, a R$ 6,0418.
Dólar
O dólar experimentou queda firme no mercado local nesta quinta-feira, 9, na contramão da tendência predominante de alta da moeda americana no exterior. O real apresentou o melhor desempenho entre as divisas mais relevantes, excluindo o rublo russo. Principais pares latino-americanos da moeda brasileira, os pesos mexicano e o chileno amargaram perdas.
Em dia marcado por valorização de commodities como minério de ferro e petróleo, operadores relataram internalização de recursos por exportadores e apetite externo por ativos locais. Investidores estrangeiros estariam recompondo posições em renda fixa, como sugere o apetite forte por papéis prefixados em leilão do Tesouro Nacional.
Com mínima a R$ 6,0383 na reta final do pregão, o dólar à vista encerrou a sessão em baixa de 1,10%, cotado a R$ 6,0418 – menor valor de fechamento desde 13 de dezembro (R$ 6,0313). Com a perda de hoje, a divisa passa a acumular queda de 2,24% nos seis primeiros pregões de 2025, após ter avançado 27,34% no ano passado.
Operadores ressaltam que a liquidez reduzida pode ter contribuído para a recuperação do real, ao exacerbar o impacto de entrada pontual de recursos sobre a formação da taxa de câmbio. O volume baixo de negócios é explicado pela ausência das Bolsas de Nova York e pelo pregão reduzido do mercado de Treasuries, em razão do dia nacional de luto em memória do ex-presidente dos EUA Jimmy Carter.
“Aparentemente, temos ingresso de divisas hoje, com investimento estrangeiro e o exportador promovendo recomposição de caixa neste início de ano”, afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo.
Pela manhã, o Tesouro Nacional vendeu oferta integral de 2,5 milhões de NTN-F, papel prefixado que costuma atrair investidores estrangeiros. O volume financeiro atingiu R$ 1,987 bilhão. Da oferta total de 16 milhões de LTNs, papéis prefixados, em quatro vencimentos, foram absorvidos 14,5 milhões, com volume de R$ 7,985 bilhões.
O economista Wagner Varejão, da Valor Investimentos, observa que a demanda nos leilões superou as expectativas, o que contribuiu para a apreciação do real. “O dólar voltou a ser negociado na casa de R$ 6,05, algo que não se via há algum tempo. Acho que isso demonstra que tem fluxo estrangeiro vindo para cá. E talvez o gatilho tenha sido esse leilão do Tesouro”, afirma Varejão.
No exterior, o índice DXY – termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes – operou em ligeira alta ao longo do dia, acima da linha dos 109,100 pontos. Apesar de o governo do Reino Unido ter reforçado o compromisso com regras fiscais, a libra voltou a recuar.
As atenções se voltam amanhã para a divulgação do relatório oficial de emprego (payroll) nos EUA em dezembro, que pode fornecer subsídios para investidores calibrarem as expectativas para os próximos passos do Federal Reserve. A avaliação de analistas é que a perspectiva de adoção de medidas protecionistas e cortes de impostos no novo governo de Donald Trump pode reduzir o espaço para redução de juros ao longo de 2025.
Juros
Os juros futuros recuaram nesta quinta-feira, 9, em meio ao alívio do câmbio, resistindo à piora dos Treasuries no fechamento do dia. Houve espaço para retomada da correção de exageros nos prêmios embutidos no mês passado, que vem marcando as primeiras sessões de 2025. Além dos ajustes técnicos, o mercado seguiu de olho no noticiário fiscal, hoje marginalmente positivo.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 caiu de 14,99% ontem no ajuste para 14,96%. A taxa do DI para janeiro de 2027 recuou a 15,31%, de 15,41%, e a do DI para janeiro de 2029 cedeu de 15,27% para 15,14%.
“O movimento das taxas ainda se deu em função de uma correção da altas recentes. Por causa do fiscal e do dólar, a curva abriu muito no fim do ano passado, mas o BC, com as intervenções, conseguiu segurar a moeda”, afirmou Carlos Eduardo Mello e Paiva, estrategista-chefe da Constância Investimentos. A moeda americana teve recuo consistente nesta quarta-feira, chegando a rodar a R$ 6,03 nas mínimas do dia para fechar em R$ 6,0418.
Para ele, no entanto, a tendência dos DIs ainda é de alta, dada a economia aquecida e o fato de que boa parte da piora do câmbio ainda está represada nos preços. “O cenário para a inflação é ruim no primeiro semestre e, portanto, a tendência é de alta tanto para o DI quanto para as NTN-B. Pode haver algum alívio se surgirem sinais mais firmes de desaceleração da economia”, avalia.
Os dados fracos da produção industrial e do varejo que saíram ontem e hoje ainda não foram capazes de convencer o mercado de que a economia já passa por uma inflexão capaz de interferir no plano de voo do Banco Central, mas os próximos dados do quarto trimestre serão acompanhados por lupa. As vendas do varejo restrito e ampliado caíram 0,4% e 0,6% em novembro ante outubro. A produção industrial cedeu 0,6%.
Do lado fiscal, são aguardadas mais medidas que possam complementar o pacote de corte de gastos lançado no mês passado. Enquanto isso, o governo vai ajustando o que é possível dentro do que já está aprovado. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avisou hoje que o governo deve vetar todos os pontos do projeto de lei de renegociação da dívida dos Estados que afetem o estoque desses passivos e tenham impacto no resultado primário.
No exterior, o dia foi morno sem o funcionamento das bolsas americanas, fechadas em respeito ao funeral do ex-presidente americano Jimmmy Carter, o que afugentou a liquidez. O mercado de Treasuries fechou mais cedo, às 16h. Enquanto estiveram em baixa, os yields contribuíram para o recuo dos DIs, mas depois zeraram a queda, sem, contudo, interferir na dinâmica local. No fechamento, a taxa de 10 anos, cuja alta recente tem sido motivo de alerta, estava em 4,69%.
Na gestão da dívida pública, o Tesouro testou o apetite do mercado por prefixados e ofertou um volume atipicamente grande, considerando as quantidades vistas nos últimos meses. Colocou 14,5 milhões de LTN, ante lote de 16 milhões, e toda a oferta de 2,5 milhões de NTN-F, que é um papel demandando por investidores estrangeiros.
“O Tesouro inicia o ano com o maior leilão de prefixados desde março de 2024. Após a divulgação do edital, houve leve abertura (entre 2 e 3 pontos) na curva do DI. A alocação foi integral em todos os títulos com exceção da LTN/25”, anotou a equipe de renda fixa da XP Investimentos, que destaca, porém, a manutenção das taxas elevadas. “Apesar da descompressão no início desse ano dos juros nominais, o patamar continua alto devido à incerteza sobre o cenário fiscal”, argumentam.