Os sintomas da menopausa na vida da executiva Angela Gheller Telles, 53, começaram aos 46 anos. Mas a identificação dos sinais não foi imediata. Por ter tido uma menstruação tardia e por não ter histórico familiar, ela acreditava que o climatério (transição da fase fértil para o período não reprodutivo da mulher) aconteceria mais tarde. Na época, Angela já ocupava cargo de liderança na Totvs, empresa de software, e continuou desempenhando normalmente suas funções.
No seu caso, o principal sintoma foi a insônia severa. Mas ela também começou a ter dificuldade de concentração, níveis elevados de estresse, cansaço e problemas de saúde, como o aumento de glicemia. “Fui dando um jeito de absorver tudo isso na minha rotina, que não é simples, principalmente por conta da demanda que um cargo de liderança exige. Acho que é um ponto que nós, mulheres, precisamos aprender”, diz ela, que é diretora de Negócios para Manufatura e Logística da Totvs.
Estima-se que o Brasil tenha cerca de 30 milhões de mulheres no climatério ou na menopausa, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Um estudo global publicado neste ano pela consultoria de gestão Korn Ferry, em parceria com a empresa de saúde digital Vira Health, revelou que os sintomas da perimenopausa (transição entre a idade fértil da mulher e a menopausa) ou menopausa levam muitas mulheres a faltar ou até a abandonar o emprego.
O levantamento mostrou que 49% das entrevistadas nunca se ausentaram do trabalho em razão dos sintomas. Por outro lado, 28% disseram já ter faltado alguns dias. Cerca de 40% relataram ter seis ou mais sintomas diferentes que afetaram o desempenho no trabalho.
Autoconfiança
Para Luciana Rodrigues, 51, gerente operacional da Insuma, manipuladora de soluções estéreis do Grupo Viveo, os primeiros sinais do climatério surgiram aos 42 anos, num momento crítico da sua vida pessoal. Na época, ela trabalhava em outra empresa. Assim como Angela, ela conta ter estranhado os sinais precoces.
No seu caso, os sintomas foram graduais e incluíam calor noturno, mudanças corporais, como o surgimento de pelos no rosto, além de ciclo menstrual irregular. Ela constatou a chegada do climatério ao realizar exames de rotina.
Luciana enfatiza que, embora os sintomas não tenham interferido diretamente no seu desempenho profissional, afetaram sua autoconfiança. Ela se lembra que precisou de um esforço constante para que as inseguranças não transparecessem no trabalho.
“A sensação que tinha é de que todo mundo me olhava e me via de uma forma diferente. Foi um momento de autoconhecimento muito grande e não queria que isso afetasse o meu trabalho. Me cobrei muito; então, foi sofrido.
Luciana diz também que compartilhou sua experiência com colegas, principalmente com outras mulheres no trabalho, que representavam a maioria da equipe na época. E considera que as conversas foram sua principal rede de apoio. Em contrapartida, lembra, os colegas homens geralmente encaravam o tema com brincadeiras ou desinformação.
Segundo o estudo, a maioria das entrevistadas que afirmou ter discutido ou estar disposta a discutir a experiência da menopausa com sua gestão direta revelou preferência pela liderança feminina (46%), em comparação com a masculina (33%).
Desafios do tema levam à criação de consultorias especializadas
Para auxiliar as corporações a lidar com os tabus que ainda envolvem o tema e a implementar ações efetivas de informação e apoio já existem empresas especializadas, que foram criadas exatamente com essa finalidade.
É o caso da Menospausa, consultoria idealizada pela empreendedora Leila Rodrigues, e que tem como objetivo preparar o ambiente de trabalho para atender adequadamente mulheres que já estão ou ainda irão passar pelo climatério ou menopausa. Embora muitas empresas ainda não adotem políticas específicas para esse grupo, Leila afirma que o tema está sendo mais aceito.
Muitos líderes, incluindo gestores homens, estão dispostos a ouvir e agir, diz a especialista. Apesar do progresso, ainda há desafios, como o fato de a palavra “menopausa” ainda ser um tabu nas organizações.
Evasão
Em muitos casos, diz a empresária, as mulheres não se sentem à vontade para falar sobre o assunto no ambiente de trabalho. O levantamento da consultoria Korn Ferry mostrou que a maior fonte de apoio das mulheres que entram no climatério ou menopausa veio de fora do ambiente corporativo – 39% das entrevistadas disseram ter tido amparo fora do trabalho, e apenas 26% relataram ter recebido suporte por meio de políticas e programas das empresas.
Outra razão para que se tenha políticas adequadas é a evasão de mulheres acima dos 45 anos do mercado formal de trabalho. Segundo Leila, além da saída de profissionais experientes, as empresas podem sofrer impactos financeiros devido aos custos com a rotatividade e aos investimentos para treinar novos funcionários.
A Sociedade Internacional de Menopausa lançou recentemente uma cartilha para orientar empregadores a acolher as funcionárias durante essa fase da vida. O documento sugere a adoção de benefícios estratégicos para mulheres, como folgas em períodos em que os sintomas estejam mais intensos, acesso a especialistas, tratamentos variados e capacitação dos líderes para que possam apoiar as funcionárias e tenham soluções adequadas.
Segundo Leila, a inclusão das mulheres em atividades, eventos e discussões dentro da empresa também é fundamental. Sensibilizar líderes e colegas sobre como lidar com essas questões e garantir que as mulheres sejam incluídas e valorizadas pode melhorar muito o ambiente de trabalho.