Olinda Altomare Opinião

O Último dos Moicanos 

Com certeza um dos meus filmes favoritos.

A história, adaptada do romance de James Fenimore Cooper, explora a luta pela sobrevivência em meio ao caos da guerra e os impactos devastadores do colonialismo. Embora seja uma obra ficcional, o filme reflete importantes questões históricas, como o conflito entre cultura europeias e indígenas, pois a guerra não é apenas militar, mas Cultural. Os britânicos e franceses competem por influência sobre as tribos nativas muitas das quais tinham suas próprias agendas e dinâmicas internas.

O filme aborda de maneira simbólica a lenta destruição das culturas indígenas frente à colonização, representada na figura de Chingachgook, o último dos moicanos.

“O Último dos Moicanos” se passa em 1757, durante a Guerra Franco-Indígena, um conflito entre franceses e britânicos pelo controle da América do Norte, que também envolveu alianças estratégicas com diversas tribos indígenas. Este cenário retrata não apenas a brutalidade da guerra colonial, mas também as complexas relações entre europeus e as populações indígenas, que frequentemente eram manipuladas como peças em um tabuleiro geopolítico.

Embora seja um filme hollywoodiano com limitações em termos de autenticidade cultural, o diretor Michael Mann fez esforços consideráveis para trazer respeito à cultura indígena, em uma tentativa de retratar os costumes, linguagem e modos de vida dos moicanos com algum nível de autenticidade.

A pesquisa histórica foi integrada ao design de produção, figurinos e linguagem corporal.

 O filme enfatiza a conexão dos indígenas com a terra, suas noções de honra e seus laços familiares, oferecendo ao público uma perspectiva humanizadora.

Apesar dessas tentativas, há críticas sobre como o filme romantiza e simplifica as complexidades das culturas indígenas, especialmente ao se concentrar nos moicanos como “nobres selvagens”, um trope comum na literatura e no cinema ocidentais.

O Filho adotivo de Chingachgook, Hawkeye/ Nathanael Poe, brilhantemente interpretado por Daniel Day-Lewis, representa um homem entre dois mundos: o europeu e o indígena. Ele carrega uma força emocional profunda, com sua lealdade inabalável tanto à cultura indígena quanto aos valores humanos universais.

 A atuação de Daniel Day-Lewis é visceral e poderosa, trazendo intensidade às cenas de ação e momentos íntimos.

A cena em que ele promete salvar Cora (“Eu irei encontrá-la, não importa o que aconteça”) encapsula sua paixão e determinação, criando um vínculo inesquecível com o público.

A personagem Cora Munro, interpretada por Madeleine Stowe, é forte e decidida, destacando-se como uma protagonista feminina que não se limita ao papel de “donzela em perigo”. Sua relação com Hawkeye é convincente e cheia de química, e sua coragem em meio à violência da guerra é admirável.

Chingachgook (Russell Means) como o patriarca moicano, representa a sabedoria e a resistência cultural. Sua dor ao perder Uncas (Eric Schweig) e sua declaração final sobre ser “o último dos moicanos” trazem um peso trágico e um eco de perda irreparável. Uncas, jovem e idealista, é retratado como o futuro perdido de seu povo.

Magua (Wes Studi), o antagonista, é um personagem profundamente complexo. Motivado por vingança contra os britânicos, ele é simultaneamente assustador e trágico. Sua performance adiciona camadas ao vilão, tornando-o mais humano e compreensível.

A cinematografia de Dante Spinotti é deslumbrante. O filme utiliza paisagens naturais dos Apalaches para criar uma atmosfera épica. A vastidão das florestas e montanhas contrasta com a violência da guerra, destacando o impacto humano no ambiente natural.

A direção de Michael Mann equilibra ação, romance e drama histórico com maestria. As cenas de batalha são coreografadas de maneira visceral, enquanto os momentos mais silenciosos permitem uma conexão emocional profunda com os personagens.

Os trajes, armas e vilarejos são cuidadosamente recriados, proporcionando autenticidade ao período histórico. A atenção aos detalhes enriquece a imersão do espectador.

A trilha sonora de Trevor Jones e Randy Edelman é um dos pontos mais icônicos do filme. O tema principal, “The Gael“, é uma peça inesquecível que combina instrumentos tradicionais com orquestra moderna, refletindo a tensão entre o antigo e o novo mundo. 

A música amplifica o impacto emocional das cenas, especialmente a sequência final, que culmina na morte de Uncas e na vingança de Chingachgook, intensificada pela música, tornando-se um dos momentos mais memoráveis da história do cinema.

Para mim a trilha sonora de um filme é uma das ferramentas mais poderosas no cinema para amplificar a emoção e conectar o público aos eventos da narrativa.

Em O Último dos Moicanos, a trilha sonora desempenha um papel crucial na imersão do espectador, traduzindo sentimentos que as palavras ou imagens, sozinhas, não conseguem expressar completamente.

A trilha sonora não apenas acompanha as cenas, mas as transcende, transformando-se em um personagem invisível que guia o espectador por uma jornada de coragem, dor e paixão. É esse impacto emocional que faz com que a trilha sonora seja lembrada muito tempo depois que o filme termina.

Impossível não comentar a magnifica atuação de Daniel Day-Lewis que entrega uma performance monumental, como é característico de sua carreira. Conhecido por sua imersão nos papéis, ele passou meses vivendo no ambiente da época, aprendendo técnicas de sobrevivência e manuseio de armas da época para interpretar Hawkeye com autenticidade.

Day-Lewis consegue transmitir a dualidade de Hawkeye — um homem nascido europeu, mas que vive e respira os valores indígenas. Ele equilibra força física com vulnerabilidade emocional, criando um protagonista com profundidade e ressonância emocional.

Sua presença nas cenas de ação é impressionante, reforçando o comprometimento com o papel. Ele convence tanto como um guerreiro quanto como um homem apaixonado.

É sem dúvida um dos meus atores favoritos.

Enfim, O Último dos Moicanos é uma obra-prima que combina narrativa envolvente, profundidade emocional e excelência técnica. Embora não esteja isento de críticas em relação à representação indígena, o filme é um tributo visual e emocional a uma época turbulenta da história. 

A atuação de Daniel Day-Lewis, a fotografia impressionante, a trilha sonora inesquecível e os temas universais de amor, lealdade e perda garantem seu lugar como um clássico do cinema.

Vale muito a pena assistir.

Olinda Altomare é magistrada em Cuiabá e cinéfila inveterada, tema que compartilha com os leitores do Circuito Mato Grosso, como colaboradora especial.

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Olinda Altomare é magistrada em Cuiabá e cinéfila inveterada, tema que compartilha com os leitores do Circuito Mato Grosso, como colaboradora especial.

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