Poucas iniciativas têm impacto tão amplo como as de mobilidade ativa, ou as ações que têm como foco quem caminha ou se locomove de bicicleta pelas cidades. À medida que diminui o uso dos carros, elas reduzem a poluição, promovem a ocupação dos espaços pelas pessoas, o que favorece a segurança, e melhoram a qualidade de vida ao incentivarem a prática de atividade física.
Mesmo assim, o Poder Público, tradicionalmente, destina grande parte de sua verba para infraestruturas voltadas para os automóveis. “Atualmente, não adianta mais fazer túneis e alargar as ruas porque elas vão continuar congestionadas”, explica Meli Malatesta, professora doutora em mobilidade ativa. “O carro é o tipo de transporte que mais espaço ocupa nas vias e o que transporta o menor número de pessoas. Então, isso não é sustentável.”
Com a ajuda da especialista, listamos, a seguir, cinco medidas com potencial para melhorar a qualidade de vida da população e tornar as cidades mais eficientes e sustentáveis.
1.INVESTIR EM CALÇADAS. Praticamente todos os municípios do Brasil sofrem com problemas no calçamento, com pisos escorregadios e falta de continuidade, situação que é ainda pior nas periferias. E existe um impasse que precisa ser resolvido: cabe ao proprietário do imóvel fazer e conservar essas estruturas, de acordo com especificações técnicas, o que na prática não ocorre e a fiscalização, responsabilidade da prefeitura, não dá conta. “Nenhuma cidade brasileira tem estrutura suficiente para fiscalizar todas as calçadas. E existe uma falta de vontade política de priorizar esse trabalho, que poderia incentivar as pessoas a caminharem mais e reduzir gastos de saúde causados pelas quedas”, avalia Meli.
2. ADOTAR MEDIDAS DE URBANISMO TÁTICO. Cidades como Fortaleza (CE) e Recife (PE) conseguiram reduções significativas no número de mortes no trânsito ao investir em urbanismo tático, ações que redesenham as cidades privilegiando os deslocamentos a pé e por bicicleta. Alguns exemplos são rotatórias em cruzamentos para aumentar o espaço destinado aos pedestres, transformar espaços subutilizados em áreas de caminhada ou convivência, como praças ou parques, aumentar a largura das calçadas, entre outros exemplos.
3. AMPLIAR ESTRUTURAS CICLOVIÁRIAS. Segundo Meli, as intervenções em mobilidade ativa são eficientes porque atingem vários públicos ao mesmo tempo. Bons exemplos são as ciclovias e ciclofaixas, estruturas beneficiam idosos, pessoas com deficiência, que podem usar essas estruturas com cadeiras de roda ou cadeiras motorizadas, além de adultos e crianças. “Qualquer intervenção ou investimento em mobilidade ativa é mais inteligente, pois são sustentáveis e pensadas no longo prazo”, explica. Além disso, a integração de ciclovias com transporte público tem potencial para transformar a mobilidade de uma cidade em termos de emissões e de eficiência.
4. REDUZIR A VELOCIDADE. A diminuição dos limites de velocidade para veículos automotores, adotada por diversos países e algumas cidades brasileiras, torna as vias mais seguras e incentiva a mobilidade ativa. “Hoje, grande parte das mortes se dá pelo excesso de velocidade, pois o brasileiro entende que trafegar a 60 km/h numa área urbana é razoável. Outros países do mundo já estão concordando que em áreas intensamente urbanizadas o máximo admitido é 30 km/h”, diz. Com a medida teremos cidades ocupadas de forma mais racional e mais seguras.
5. INVESTIR EM ARBORIZAÇÃO. As árvores tornam a locomoção mais agradável, contribuem para evitar enchentes e ajudam a preservar o pavimento, entre vários outros benefícios. Trata-se de uma das “soluções baseadas na natureza” que vêm sendo defendidas como medidas essenciais de adaptação dos grandes centros urbanos às mudanças climáticas. Além disso, quem caminha ou pedala por São Paulo sabe o quanto as sombras são preciosas e estimulam a prática desses modais.