Mix diário

Dólar volta a subir e permanece acima de R$ 6,00 mesmo com atuação do BC; Ibovespa cai 1,13%

O dólar emendou o segundo pregão consecutivo de valorização no mercado doméstico e encerrou a sessão desta sexta-feira, 13, em alta de 0,40%, cotado a R$ 6,0313. Além do sinal predominante de alta da moeda americana no exterior e do avanço das taxas dos Treasuries, o que costuma castigar divisas emergentes, o real sofreu novamente com ajustes de prêmios de risco relacionados às incertezas fiscais em meio à tramitação das medidas de contenção de gastos no Congresso.

A valorização do dólar poderia até ter sido mais expressiva, não fosse uma intervenção do Banco Central com leilão de venda de moeda à vista, que levou a divisa a perder fôlego e se afastar dos níveis vistos no início da tarde, quando renovou sucessivas máximas até atingir R$ 6,0776. O arrefecimento do ímpeto altista também permitiu que a divisa encerrasse a semana em queda de 0,65%.

“A semana foi de muita volatilidade para os ativos domésticos com os problemas fiscais e o noticiário sobre a saúde do presidente. Vimos isso especialmente na taxa de câmbio, embora a alta da taxa Selic tenha ajudado o real em um primeiro momento”, afirma a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, em referência à decisão do Copom na quarta-feira, de elevar a taxa básica em 1 ponto porcentual, para 12,25%, e acenar com mais duas altas dos juros de igual magnitude.

Hoje à tarde, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez sua primeira aparição após ter realizado dois procedimentos para tratar de sangramentos intracranianos. Em vídeo nas redes sociais, ele aparece andando pelo Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, e afirma que “em breve” estará pronto para voltar ao trabalho.
A ausência de Lula em Brasília aumentou as incertezas em torno do andamento do pacote fiscal no Congresso, em momento no qual há pressão de parlamentares para alterações nas medidas propostas, o que pode resultar em economia menor que a esperada pelo governo.

A perspectiva é que as medidas sejam apreciadas no plenário da Câmara dos Deputados na próxima semana. Ontem à noite, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, afirmou estar otimista com a aprovação do pacote de ajuste fiscal do governo antes do recesso parlamentar. Segundo ele, é “plenamente possível” analisar todas as propostas até a próxima sexta-feira, 20, incluindo as leis orçamentárias.

A economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, afirma que, apesar da postura rígida do Banco Central, o desalinhamento entre as políticas fiscal e monetária provoca “ceticismo” no mercado e leva a um aumento dos juros futuros e à desvalorização do real. Ao comentar o fluxo cambial, Damico observa que a piora do segmento financeiro, que foi negativo em US$ 3,3 bilhões na primeira semana de dezembro, “está em linha com a sazonalidade esperada pelo mês, quando as saídas são maiores”.

Depois de vender ontem US$ 4 bilhões em dois leilões de linha com compromisso de recompra, o Banco Central realizou hoje leilão de venda de dólares à vista, a primeira operação do gênero desde 30 de agosto. Foram absorvidos pelo mercado US$ 845 milhões. Nove propostas foram aceitas no leilão (lote mínimo de US$ 1 milhão), com taxa de corte de R$ 6,0200.

“Não acho que o BC está tentando defender qualquer nível de taxa de câmbio. É que falta liquidez mesmo. O BC agiu de forma correta ao intervir neste momento”, afirma o head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, acrescendo que o período de fim de ano é marcado por maior demanda de dólares para remessas de empresas ao exterior.

Em falas recentes, o diretor de Política Monetária e futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo, reiterou que a autoridade monetária atua no mercado cambial em caso de “disfuncionalidade” e que não mira em um nível específico de taxa de câmbio.

O economista-chefe da corretora Monte Bravo, Luciano Costa, afirma que, pelo volume absorvido pelo mercado, é provável que o BC tenha atuado para suprir uma demanda pontual, sem o objetivo de alterar o nível da taxa de câmbio. “O volume vendido não é grande. Um movimento de intervenção verdadeiro seria anunciar um leilão diário de câmbio, como já foi feito no passado. Mas parece que não é o caso”, afirma Costa.

Ibovespa

Após ter mergulhado 2,74% ontem – no que foi sua maior perda desde 2 de janeiro de 2023 -, o Ibovespa teve hoje um segundo dia de piora, que se acentuou em direção ao fechamento.

O índice segue submetido a duas variáveis, coordenadas e associadas à deterioração do risco fiscal: o prosseguimento da pressão tanto no câmbio – com o dólar em alta de 0,40%, a R$ 6,03, apesar da oferta da moeda à vista pelo BC nesta sexta-feira – como na curva de juros doméstica.

Assim, com giro moderado a R$ 22,8 bilhões, o Ibovespa cedeu hoje 1,13%, a 124.612,22 pontos, no menor nível desde 28 de novembro (124.610,41). Na semana, acumulou perda de 1,06%, após leve avanço de 0,22% na anterior. No mês, cede agora 0,84% e, no ano, cai 7,13%.

Da mínima à máxima, o Ibovespa oscilou hoje de 124.578,23 a 126.290,33 pontos, saindo de abertura aos 126.102,26 pontos. No intradia, operou no patamar mais baixo desde 29 de novembro, então aos 123.946,16 pontos.

Apenas uma (Hapvida) das 86 ações da carteira Ibovespa havia avançado na quinta-feira, mas a recuperação para o índice não veio nesta última sessão da semana, o que o fez passar do positivo ao negativo no acumulado em dezembro.

Entre as blue chips, destaque hoje para a queda de 1,50% em Vale ON, que mostra agora perda de 4,25% no mês e de 21,48% no ano. Petrobras também cedeu terreno na sessão (ON -0,48%, PN -0,63%), mas conseguiu avançar na semana (ON +1,11%, PN +1,49%). Entre os grandes bancos, as perdas na sessão ficaram entre 1,16% (Bradesco ON) e 1,66% (Santander Unit), com revés na semana que chegou a 4,83% para Santander no intervalo – no mês, as ações do setor mostram perdas até 4,12% (Bradesco PN).

Na ponta ganhadora do Ibovespa na sessão, destaque para Pão de Açúcar (+4,87%) e Minerva (+1,60%), que ontem tinham figurado entre as maiores perdedoras. JBS (+1,13%) e Eletrobras (PNB +1,11%) também puxaram a fila de ganhos nesta sexta-feira. Do lado oposto, Brakem (-11,03%), Assai (-5,12%) e Vamos (-5,08%).

O Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira traz poucas mudanças no quadro das expectativas do mercado financeiro para o desempenho das ações no curtíssimo prazo. Entre os participantes, a projeção de alta para o Ibovespa na próxima semana voltou a ser majoritária, com 50% do total, frente a 40% na pesquisa anterior. A fatia dos que esperam estabilidade variou de 40% para 33,33%, enquanto a das respostas indicando baixa caiu de 20% para 16,67%.

“Desafios econômicos e políticos têm testado a paciência do mercado. Internamente, o mercado ainda olha com desconfiança para o pacote fiscal em discussão no Congresso, considerado frágil e sujeito a desidratações. E o otimismo do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, sobre a aprovação do pacote antes do recesso parlamentar é visto com reservas”, diz Christian Iarussi, sócio da The Hill Capital. “Externamente, o cenário também não ajuda. A volatilidade nos preços de commodities, como metais e petróleo, cria ambiente adverso que pressiona ainda mais ações de peso, como Vale e Petrobras”, acrescenta.

“Questão fiscal continua a ser monitorada muito de perto pelo mercado, mesmo em um dia com pouco desdobramento, sem novidades, e com agenda de dados também esvaziada. O índice da Bolsa segue muito comprimido”, diz Rubens Cittadin, operador de renda variável da Manchester Investimentos. “Vale acompanhou a queda do minério de ontem para hoje, e foi um dos principais fatores para o desempenho do Ibovespa na sessão”, acrescenta.

Juros

Os juros futuros encerraram a semana sob a mesma tônica que vem ditando o comportamento da curva nas últimas semanas e meses: a piora da percepção de risco fiscal. As taxas voltaram a subir para valer nesta sexta-feira, mesmo sem novidades no noticiário do pacote de corte de gastos, prevalecendo o sentimento de que o preço para que as medidas sejam aprovadas ainda este ano é um afrouxamento das regras inicialmente propostas, que já não agradavam, ou seja, a chamada desidratação dos textos.

Na agenda, o IBC-Br acima do consenso reforçou a avaliação de que o Copom será agressivo na trajetória da Selic e, no exterior, o avanço dos rendimentos dos Treasuries contribuiu para a pressão nas taxas locais.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 encerrou em 14,84%, de 14,66% no ajuste de ontem. A do DI para janeiro de 2027 voltou a romper 15%, ao subir de 14,71% para 15,05%. A do DI para janeiro de 2029 fechou em 14,65%, de 14,20%. No balanço da semana, as taxas longas subiram 20 pontos, mas as curtas foram além, com abertura de 50 pontos.

“Hoje não tem nada específico, não teve um gatilho claro. É mais esse sentimento ruim com relação ao fiscal que já vem perdurando nas últimas sessões”, afirma o estrategista de renda fixa da BGC Liquidez Daniel Leal, para quem os mercados de câmbio e juros “estão sem defesa”. “Quando se olha os preços, os ativos parecem exagerados do ponto de vista de fundamentos, mas o que o mercado está precificando é o futuro. O pacote já não agradou no começo e agora ainda está sendo desidratado. Há temor grande sobre a sustentabilidade da dívida”, diz.

Diante do estresse dos ativos, o Tesouro antecipou que colocará na próxima semana lotes mínimos nos leilões de títulos públicos, o que foi bem recebido pelo mercado, como sinal de que a medida evitará pressão adicional. Indicou ainda que atuará conjuntamente com o Banco Central.

Com a política fiscal na contramão do aperto de juros, não se sabe até onde a Selic pode chegar para fazer a inflação convergir às metas, compromisso que o Banco Central tem se esforçado para mostrar que para ele é sagrado. Mas “uma reancoragem de expectativas, bem como uma reversão do comportamento da taxa de câmbio, mostra-se cada vez menos sob controle pleno do Banco Central, diante da importância assumida pela questão fiscal na percepção de risco dos agentes”, afirma o economista da Tendências Silvio Campos Neto. A consultoria elevou sua projeção de Selic terminal para 14,75%.

Sem a redução dos impulsos fiscais, dificilmente a política monetária será efetiva em esfriar a atividade e promover desinflação. O IBC-Br de outubro na margem (+0,14%) ficou acima da mediana das projeções (zero) e fechou uma sequência de dados robustos de atividade em outubro, o que remete ao alerta do Banco Central sobre o hiato do produto.

Em menor medida, o exterior hoje também não ajudou. Os juros dos Treasuries subiram e a taxa da T-Note de dez anos voltou a flertar com a marca de 4,40%, penalizando o DI e o dólar.

Estadão Conteudo

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