Mix diário

Ibovespa sobe 1,40%, perto dos 128 mil pontos, com moderação de tensões; dólar cai com exterior

O Ibovespa se reaproximou da linha dos 128 mil pontos nesta quinta-feira e fechou no maior nível desde o último dia 26, hoje aos 127.857,58 pontos, em alta de 1,40% na sessão, no que foi seu melhor desempenho desde 22 de novembro. Desde o dia 28, quando cedeu 2,40% no ajuste inicial ao anúncio do pacote fiscal do governo, o índice tem alternado ganhos e perdas em base diária. Mas, de ontem (-0,04%) para hoje (+1,40%), parece mostrar padrão mais estável, tendo saído de mínima de 123.946,16 durante a sessão da sexta-feira passada para máxima a 127.989,06 pontos na sessão de hoje, em variação de 4 mil pontos entre os polos do intervalo.

Nesta quinta-feira, o piso do dia (126.087,09 pontos) correspondeu praticamente ao nível de abertura (126.087,78 pontos), com giro financeiro a R$ 23,1 bilhões no fechamento. Na semana e no mês, o Ibovespa registra alta de 1,74%, ainda cedendo 4,72% no ano. Como pouco visto desde que se impuseram as preocupações em torno do pacote fiscal – com efeitos diretos sobre o câmbio, hoje ainda a R$ 6,00 (-0,63%) no encerramento, e a curva de juros doméstica -, a recuperação do índice da B3 foi bem distribuída, nesta quinta-feira, pelos componentes da carteira, especialmente entre as ações de maior peso e liquidez.

Na contramão dos preços do petróleo – em leve viés de baixa na sessão -, Petrobras ON e PN subiram, respectivamente, 1,49% e 0,99%. Vale ON avançou 0,82%, na máxima do dia no fechamento, e os ganhos entre as ações dos principais bancos ficaram entre 1,23% (BB ON) e 2,14% (Itaú PN). Na ponta ganhadora do Ibovespa, destaque para Eletrobras (ON +4,02%), Multiplan (+3,63%) e Iguatemi (+3,54%). No lado oposto, CVC (-8,98%), Hapvida (-1,15%) e Braskem (-1,11%) – apenas 11 das 86 ações que compõem a carteira Ibovespa fecharam no negativo.

“Foi também um dia relativamente leve para os ativos de risco lá fora, sem grandes destaques na agenda de dados econômicos”, diz Rodrigo Ashikawa, economista da Principal Claritas, destacando a expectativa, amanhã, para o ponto alto da semana, os dados oficiais sobre o mercado de trabalho nos Estados Unidos em novembro, a poucos dias da deliberação do Federal Reserve, na próxima quarta-feira, 11, sobre a taxa de juros de referência.

“No cenário doméstico, depois de os ativos brasileiros terem uma longa sequência de ‘underperformance’ desempenho abaixo em relação aos pares, houve uma recuperação hoje, uma certa reversão, com alta da Bolsa e apreciação no câmbio, e algum fechamento na curva de juros, sem um gatilho muito definido. O noticiário continua muito concentrado na tramitação inicial, no Congresso, do pacote de cortes de gastos”, aponta o economista.

Segundo ele, a votação, na noite de ontem, dos requerimentos de urgência foi um desdobramento positivo, ainda que tendam a permanecer incertezas fiscais até que se defina a efetividade e a economia proporcionada pelo pacote – principalmente se haverá ou não mudanças nos textos e o ritmo em que serão votados, acrescenta Ashikawa. “De qualquer forma, houve uma relativa descompressão hoje nos ativos brasileiros, após o que se viu nas últimas semanas.”

“A pressão contra a ideia de isentar do IR a renda de até R$ 5 mil por mês começa a produzir efeito sobre a Bolsa e o câmbio, em recuperação na sessão de hoje. Um pouco mais de responsabilidade fiscal é algo interpretado de forma positiva pelo mercado”, diz Virgilio Lage, especialista da Valor Investimentos. Ele destaca a retomada das ações do setor bancário pelo terceiro dia: um dos segmentos que mais haviam sido impactados no ajuste inicial da Bolsa ao pacote da semana passada, quando o Ibovespa havia fechado, naquela quinta-feira, no menor nível em cinco meses – exatamente na mínima desde 28 de junho.

Dólar

O dólar emendou o terceiro pregão consecutivo de queda em relação ao real nesta quinta-feira, 5, e esboçou fechar abaixo do nível psicológico de R$ 6,00, algo não visto desde 28 de novembro. Os sinais de que o pacote de gastos do governo vai ser apreciado com celeridade no Congresso e o enfraquecimento da moeda americana no exterior abriram espaço para ajustes nos prêmios de risco embutidos na taxa de câmbio.

No fim da noite de ontem, a Câmara dos Deputados aprovou requerimento de urgência para dois projetos que compõem o plano da equipe econômica: um relacionado ao crescimento real do salário e outro que traz novos gatilhos para o arcabouço fiscal, como limitação na compensação de créditos tributários e autorização de contingenciamento e bloqueio de emendas parlamentares.

Operadores e analistas ouvidos pelo Broadcast nos últimos dias consideravam que havia espaço para uma recuperação, ainda que parcial, da moeda brasileira, em caso de sinais favoráveis de Brasília e acomodação do dólar no exterior. Isso apesar de mostrarem ceticismo em relação à economia estimada com as medidas fiscais e apontarem uma derrapada de comunicação do governo ao anunciar conjuntamente o pacote de contenção de gastos com a proposta de isenção de Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil por mês.

Em baixa desde a abertura, o dólar à vista furou o piso de R$ 6,00 na primeira hora de negócios e registrou mínima a R$ 5,9608 pela manhã. Com uma moderação do ritmo de baixa ao longo da tarde, a divisa encerrou a sessão em baixa de 0,63%, a R$ 6,0097. Apesar do recuo nos últimos dias, o dólar ainda acumula valorização na semana (0,14%)

O economista André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferências internacionais Remessa Online, já classificava, na semana passada, a reação dos investidores ao pacote de gastos como “desproporcional” e esperava uma recuperação do real, embora reconheça que havia motivos para um aumento do estresse, em especial “a intempestividade” do anúncio da isenção do IR.

“O problema foi a magnitude desse estresse. O mercado tem reagido muito mal aos acontecimentos recentes. No começo do ano, mesmo sem os impactos do Rio Grande do Sul, já se falava em déficit primário superior a R$ 100 bilhões neste ano”, afirma Galhardo. “Em alguma medida, essa votação de pedido de urgência para matérias de corte de gastos ajudou a moeda brasileira, porque o dólar também caiu no exterior.”

Termômetro do comportamento da moeda americana em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o DXY recuou e voltou a ser negociado abaixo dos 106,000 pontos. Houve fortalecimento do euro após o desenlace da crise política na França, com a renúncia do primeiro-ministro, Michel Barnier. A safra mais recente de indicadores mostra certa acomodação da economia dos EUA e embasa a perspectiva de que o Federal Reserve vai promover novo corte de 25 pontos-base da taxa básica de juros neste mês. Amanhã, sai o relatório oficial de emprego (payroll) em outubro, o que pode reforçar essa expectativa.

Galhardo observa que, após o relatório ADP divulgado ontem, com criação de vagas de emprego no setor privado aquém das expectativas, sugerir continuidade do processo de desaceleração do mercado de trabalho nos EUA hoje saíram números de pedidos semanais de auxílio-desemprego acima do esperado.

“Estamos no médio de um processo de desaceleração da atividade econômica nos EUA, ainda que incipiente. E isso traz um movimento de perda de força do dólar em nível global. Isso contribuiu também para a valorização do real”, afirma o consultor da Remessa Online.

Apesar da queda do dólar nos últimos dias, o desconforto com o quadro fiscal ainda permeia os negócios e leve casas relevantes a revisar para cima a projeção para a taxa de câmbio. O Deutsche Bank, por exemplo, espera dólar a R$ 6,10 no fim deste ano, argumentado que o governo não conseguiu apresentar “medidas críveis” e que o Banco Central “não tem sido capaz de assegurar aos mercados sua capacidade de conter a desvalorização do real”.

Juros

Os juros futuros encerraram a quinta-feira em alta, mais pronunciada nos vencimentos de curto e médio prazos, reduzindo a inclinação para a curva. A aprovação do pedido de urgência aprovado ontem pela Câmara para a tramitação das duas propostas do pacote fiscal conseguiu produzir alívio da curva até meados da tarde, mas depois o efeito se esvaiu e o mercado começou a sentir o impacto de uma série de revisões para Selic divulgadas nesta véspera de data crítica para a inserção de projeções no Boletim Focus. Além disso, o dólar também reduziu a queda e voltou a rodar na casa de R$ 6.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 encerrou em 14,19%, de 14,12% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 subiu de 14,33% para 14,43%. O DI para janeiro de 2029 terminou em 14,14%, de 14,10%.

Apesar da piora na etapa vespertina, a curva continuou mostrando redução da inclinação, embora com perda qualitativa em relação ao que se via pela manhã, quando todas as taxas estavam em baixa, mais acentuadamente na ponta longa. O aval da Câmara para uma tramitação mais acelerada dos projetos encaminhados pelo Executivo serviu de argumento para um ajuste à escalada das taxas vista recentemente, embora nada de mais concreto tenha vindo do noticiário fiscal. Tanto que a correção não sobreviveu até o fechamento e a curva voltou a piorar.

O economista e head de Alocação da W1 Capital, Victor Furtado, afirma que a possibilidade de as propostas andarem de forma direta, sem passar pelas comissões, mostra o senso de urgência por parte do Legislativo que o mercado cobrava do Executivo, que parece ter utilizado a medida do aumento da isenção da faixa do Imposto de Renda para R$ 5 mil como uma “máscara” para as medidas de corte de despesas. “Com isso, houve uma reprecificação do pessimismo exacerbado na ponta longa. Porém, os próximos meses configuram um período mais inflacionário, complicado para a desancoragem das expectativas, o que pesa nas taxas até 2027”, diz.

Outro vetor que ajudava pela manhã e reduziu sua contribuição para o alívio da curva à tarde foi o dólar. A moeda ganhou força e o câmbio não conseguiu fechar abaixo de R$ 6. Há grande preocupação com a influência da cotação sobre os preços num período sazonalmente já complicado para a inflação, dadas as festas de fim de ano e no começo do ano, pela pressão típica nos in natura e preços de serviços com reajustes em Educação.

No meio da tarde, as taxas até o miolo da curva passaram a renovar máximas, chegando a subir mais de 10 pontos, ao mesmo tempo em que saíam revisões para cima na trajetória da Selic. Amanhã é data crítica para os economistas ajustarem suas previsões no Boletim Focus, antes do Copom do dia 11.

O economista-chefe da Itaú Asset, Thomas Wu, afirmou que a instituição vê a taxa em 15% com inflação de 6% em 2025. O Deutsche Bank projeta que o Copom elevará a dose para 100 pontos-base na reunião da próxima semana, com a possibilidade de que mantenha esse ritmo caso o real continue enfraquecido. O banco estima a Selic em 14,50% no fim do ciclo. Outra instituição que revisou sua estimativa foi o C6 Bank, elevando a previsão da Selic terminal de 12,50% para 13,75%.

A pesquisa do Projeções Broadcast com 65 instituições mostra que 48 esperam avanço de 75 pontos; 14, de 100 pontos; e apenas 5 preveem nova elevação de 50 pontos, entre estas o Bradesco.

Estadão Conteudo

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