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Com bancos, Ibovespa sobe 0,69%, perto dos 130 mil pontos; dólar fecha praticamente estável

O Ibovespa retomou o sinal positivo e quase a linha dos 130 mil pontos, não vista em fechamento desde 6 de novembro, na contramão da cautela externa que prevaleceu nesta terça-feira, 26, com a afirmação do presidente eleito Donald Trump de que irá impor tarifas a países como Canadá, México e China tão logo inicie o segundo mandato na Casa Branca, em 20 de janeiro. Assim, os rendimentos dos Treasuries, que ontem haviam se ajustado à bem recebida escolha do gestor Scott Bessent para a secretaria do Tesouro, hoje subiram, limitando fôlego dos índices de ações em Nova York – ainda assim, entre +0,28% (Dow Jones) e +0,63 (Nasdaq) no fechamento, em dia de novos recordes em NY para Dow Jones e S&P 500.

Aqui, o câmbio subiu um pouco, com o dólar à vista em alta limitada a 0,04%, a R$ 5,8081, no encerramento da sessão. O Ibovespa, contudo, sustentou ganho de 0,69%, aos 129.922,38 pontos, mais perto da máxima (130.360,79), quando subia pouco mais de 1%, do que da mínima (129.042,24) desta terça-feira, quase correspondente ao nível de abertura (129.042,62). O giro financeiro, em recente recuperação, ficou em R$ 21,5 bilhões na sessão. Com o desempenho de hoje, o Ibovespa passa a subir 0,16% no mês, ainda cedendo 3,18% no ano. Na semana, avança 0,47%.

Nesta terça-feira, a principal ação do índice, Vale ON, caiu 1,27%, mas tal desempenho foi mais do que compensado pelo avanço do setor financeiro, com destaque para Itaú (PN +1,91%), que chegou a subir cerca de 3% na sessão, e Banco do Brasil (ON +1,30%). Petrobras operou sem direção única, mas fechou com a ON em baixa de 0,51% e a PN, de 0,13%. Na ponta ganhadora do Ibovespa, Brava (+9,33%), Magazine Luiza (+6,29%) e Copel (+5,27%). No lado oposto, BRF (-2,31%), Braskem (-2,14%) e Cosan (-2,05%).

“Apesar de certa aversão a risco lá fora, o Ibovespa conseguiu se manter em alta desde cedo, em dia que já vinha ruim da sessão na Ásia e também na Europa, com a tensão derivada desse segundo mandato de Trump que está para começar, depois da ameaça de tarifas sobre México, Canadá e China”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research. “Não que seja algo novo: já se sabia que algo viria. Mas sempre há uma materialização do ruído quando vem uma notícia como essa. O estilo dele é esse mesmo: jogar pra cima com ameaça, para conseguir o máximo.”

Assim, no plano global, as ações de montadoras – um segmento de atividade conhecido por cadeias de suprimentos que se estendem além das fronteiras nacionais – estiveram entre as que mais se depreciaram na sessão, observa Spiess. “O Ibovespa se descolou um pouco dessa realidade, hoje, à espera do pacote fiscal, com a ideia de que virá algo relevante, de fato”, acrescenta.

Destaque da agenda doméstica nesta terça-feira, o IPCA-15 de novembro, considerado a prévia da inflação oficial do mês, veio acima do esperado, com algumas nuances da leitura vistas de forma, também, menos favorável. “Em relação ao qualitativo, observamos mais pontos negativos do que positivos no IPCA – ou seja, uma dinâmica menos benigna”, diz Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.

“Pelo lado negativo, houve uma aceleração de todas as métricas – adicionando grupo de serviços – no acumulado dos últimos 12 meses e na média móvel de três meses anualizada e ajustada sazonalmente. Essa piora pressiona o cenário do Banco Central”, acrescenta o economista, observando que “diante da perspectiva de que o mercado de trabalho continue apertado, os preços de serviços devem continuar pressionados” – o que faz crer que o IPCA feche o ano acima do teto da meta oficial de inflação, de 4,5%, possivelmente a 4,8%, prevê a casa.

Apesar da leitura pouco propícia ao apetite por risco, o IPCA-15, desde a manhã, pouco influiu no desempenho do Ibovespa, que se manteve em alta hoje mesmo com o dólar a R$ 5,8285 na máxima da sessão, aponta Virgílio Lage, especialista da Valor Investimentos. “Mercado segue em compasso de espera para o pacote fiscal, e a Bolsa seguiu em alta sem interferência do IPCA, apesar do dólar.”

“Rali de final de ano na Bolsa é sempre uma possibilidade, mas os investidores ainda aguardam o pacote de cortes de gastos, que vem sendo adiado há sucessivas semanas pelo governo e que se espera, agora, que venha a sair até esta quinta-feira”, diz Gabriel Pereira, sócio e advisor da Blue3 Investimentos, mencionando o principal fator de incerteza doméstica, o grau de ajuste fiscal a ser implementado para que o arcabouço fique de pé. “Até que se tenha essa definição, fica difícil montar posição em ativos de risco, como ações”, acrescenta.

“Embora o pacote possa trazer alívio às contas públicas no curto prazo, ajudando na consolidação fiscal, será essencial observar se virá acompanhado de medidas robustas e estruturais, capazes de equilibrar o crescimento econômico e conter as pressões inflacionárias de longo prazo. Um pacote mal estruturado ou com cortes insuficientes pode frustrar o mercado”, diz Lucas Almeida, sócio da AVG Capital.

Dólar

Após trocas de sinais e oscilações contidas ao longo da tarde, o dólar à vista encerrou a sessão desta terça-feira, 26, em alta de 0,04%, cotado a R$ 5,8081, com máxima a R$ 5,8285. O real apresentou hoje o melhor desempenho entre seus principais pares emergentes, em especial na comparação com o peso mexicano, que perdeu quase 2%. A leitura acima das expectativas do IPCA-15 aumentou as apostas em aceleração do ritmo de alta da taxa Selic, mas não teve impacto relevante na formação da taxa de câmbio.

Segundo analistas, a moeda brasileira teria sido em parte isolada do movimento de apreciação do dólar no exterior em razão da iminência do anúncio do pacote de corte de gastos do governo Lula. Com a taxa de câmbio já acima de R$ 5,80, haveria pouco apetite para apostas em nova rodada de depreciação do real mesmo com ambiente externo desfavorável a emergentes. Além disso, o Brasil não é, por ora, alvo das medidas protecionistas prometidas pelo presidente eleito dos EUA, Donald Trump.

Lá fora, o índice DXY – termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas – voltou a superar a linha dos 107,000 pontos, com máxima aos 107,504 pontos. Ontem, o Dollar Index havia recuado com a indicação do gestor Scott Bessent para a secretaria do Tesouro dos Estados Unidos, o que amenizou temores de aceleração do déficit fiscal.

Hoje a moeda americana ganhou terreno com a promessa de Trump de impor em janeiro tarifas adicionais a importações de China, México e Canadá. Divulgada à tarde, a ata do Federal Reserve não provocou mudanças relevantes nos preços dos ativos. Embora siga majoritária a aposta em corte de juros nos EUA em dezembro, analistas avaliam que a agenda de Trump, tida como inflacionária, tende a limitar o espaço para afrouxamento monetário em 2025.

O economista-chefe da corretora Monte Bravo, Luciano Costa, destaca o bom desempenho do real na comparação com outras divisas emergentes, em especial o peso mexicano, abalado pelas declarações de Trump, que aguçam os temores de aumento de protecionismo e guerra comercial.

“O dólar aqui poderia estar acompanhando mais de perto a dinâmica global, mas a expectativa pelo pacote, que está na iminência de ser divulgado, parece evitar a deterioração do real. Os outros ativos domésticos também se comportam bem. A bolsa sobe e os juros futuros perto do zero a zero”, afirma Costa.

Ontem à noite, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para bater o martelo sobre as medidas de contenção de despesas havia sido definitiva. Ele observou que, antes do anúncio, era necessário apresentar a proposta aos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Lira disse hoje à tarde que ainda não foi chamado para discutir o plano, mas ressaltou que as medidas “tem que ser aprovadas” neste ano.

Segundo fontes ouvidas pelo Broadcast, o pacote deve trazer mudanças no Benefício de Prestação Continuada (BPC), no salário mínimo e no abono salarial, além das já ventiladas alterações na previdência dos militares. Não haveria alterações nos pisos de saúde e educação, mas estaria em questão mudança no porcentual das parcelas de recursos do Fundeb, fundo voltado à educação básica. O Broadcast apurou hoje à tarde que o governo avalia veicular pronunciamento de Haddad em rede nacional de televisão para explicar as medidas.

Para Costa, da Monte Bravo, uma parte do impacto positivo do pacote, se confirmado o desenho e o volume de cortes ventilado (R$ 70 bilhões), já estaria incorporado em grande parte nos preços dos ativos, incluindo a taxa de câmbio.

“Podemos ter uma melhora marginal, com o real se apreciando 2% ou 3%. Os adiamentos seguidos tiraram um pouco da potência do anúncio. O mercado já sabe na prática quais são as medidas”, afirma Costa, ressaltando que houve também uma mudança no ambiente global que limita o espaço para queda do dólar no mercado doméstico.

Juros

Os juros futuros tiveram oscilações contidas nesta tarde, com o entendimento de que os prêmios elevados já refletem as incertezas em torno do fiscal – em mais um dia sem o anúncio do pacote de corte de despesas pelo governo – e após o IPCA-15 de novembro apenas reforçar a aposta de três altas de 0,75 ponto porcentual na Selic nas próximas reuniões. A curva, que nesta terça-feira também se beneficiou de real tendo a melhor performance entre principais pares emergentes, precifica que a taxa de juros básica deve encerrar o ciclo de aperto monetário em 14% ao ano.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 fechou estável a 13,270%, de 13,275% do ajuste da véspera; a para janeiro de 2027 fechou a 13,32%, de 13,33% do ajuste; e a para janeiro de 2029 teve leve queda de 13,11% do ajuste para 13,08%.

O vértice curto dos juros futuros encerrou estável depois de renovar mínima no período da tarde, ainda perto dos ajustes da véspera (mínima de 13,260% na taxa do DI para janeiro de 2026), conforme o mercado digeria que o IPCA-15, no fim, apenas reforçou o que já estava sendo precificado na curva já no pregão anterior: Selic terminal em 14% ao ano, com três altas de 0,75 ponto porcentual nas próximas reuniões.

“O IPCA-15 reforça a tese de que o Banco Central terá que acelerar o ciclo de aperto monetário para 0,75 ponto na próxima reunião. Acho que aumenta bastante a chance”, afirma o economista-chefe da Nova Futura, Nicolas Borsoi, atribuindo o indicador como maior motivo para o vértice curto do DI ter ficado mais resistente nesta terça-feira.

Contudo, o sócio e analista Rafael Passos, da Ajax Asset, pondera que passados os ruídos pelo headline forte, basicamente decorrente de passagem aérea mais elevada, o IPCA-15 do ponto qualitativo (núcleos e serviços subjacentes) teve melhora marginal. “Acho que houve desconforto no curto prazo, mas de forma estrutural a pressão não é tão altista” para os juros, avalia.

Já o meio e a ponta longa da curva se descolaram dos Treasuries e mantiveram viés de baixa, também próximo dos ajustes anteriores, com o entendimento de que os prêmios já estão elevados e refletem as incertezas em torno do fiscal. O alívio na curva também teve amparo do câmbio, visto que o real teve a melhor performance entre seus principais pares emergentes.

“Boa parte dessa resiliência da ponta longa de juros é porque o mercado de moedas aqui não estressou tanto quanto lá fora”, diz. Segundo operadores, a iminência do anúncio do pacote de corte de gastos justifica o descolamento do real: o dólar fechou a R$ 5,8081 (+0,04%), enquanto o peso mexicano se desvalorizou 2% ante a moeda americana.

Estadão Conteudo

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