Para pais responsáveis, a missão de criar os filhos nunca foi uma tarefa fácil. Entretanto, parece que ela está ficando cada vez mais complicada e extenuante: os gastos exigem uma quantia maior de trabalho fora de casa e os novos conceitos de dedicação parental demandam uma atenção cada dia maior às crianças.
Os pais da classe média cada vez mais se culpam por não dar aos filhos o devotamento que eles, conforme avaliação própria e do entorno, precisam e exigem. As escolas deverão ser as melhores disponíveis, há de fornecer paralelamente, sempre a custos elevados, atividades complementares que ocupem todo o tempo dos garotos(as). Assim é preciso levá-los à escola de idiomas, ao clube de lutas, a aulas de futebol, ao conservatório musical, e a oficinas de artes.
Mas isto tem um custo muito alto, tanto financeiro quanto de dedicação, e mesmo quando bem executado mantém a sensação de não estar fazendo tudo que é possível. Este conflito gera insegurança quanto ao sucesso futuro dos filhos, e com ela, um volume insuportável de ansiedade que, acumulada, pode causar infelicidade.
Os pais estão sendo privados de várias atividades sociais e culturais, muito mais pela autoimposição dessa missão cansativa do que pela exigência natural dos filhos.
Mas, nem só os pais são vítimas dessa jornada anormal. Aos filhos também é imposta uma rotina antinatural quando lhes tiram o direito de brincar sozinhos ou com crianças da mesma idade. Tudo tem treinador, professor, técnico, tutor; ou seja, há sempre um adulto conduzindo e fiscalizando as atividades dos pequenos. Mesmo quando estão em casa, eles são constantemente acompanhados em suas brincadeiras por pais e babás que substituem os monitores escolares.
Juntamente com isto se estabelece uma competição descabida para ver quem está na melhor escola, o que já está falando inglês ou tira as melhores notas.
Na China — noticiaram os jornais desta semana — o nível de competição entre as famílias na busca da excelência em educação está provocando uma saída dos pais em direção à Tailândia, convencidos de que aquela disputa entre os alunos os tem levado (pais e filhos) a crises de ansiedade.
Lá chegou a tal ponto que as horas de um dia estavam sendo insuficientes para realizar todas as tarefas impostos pelos educadores. Só às dez ou onze horas da noite as crianças interrompiam as atividades para irem dormir. Os pais chineses costumam supor que o sucesso profissional está invariavelmente ligado ao esforço pessoal.
No Livro “Fora de Série — Outliers” o autor argumenta que o sucesso é resultado de uma combinação de trabalho duro, circunstâncias favoráveis e a influência de fatores culturais e sociais, desafiando a visão tradicional de que é simplesmente o resultado do talento ou esforço individual.
Seria bom, eu penso, devolver aos pais o prazer de criar os filhos sem traumas, e a estes a liberdade de brincar relaxadamente boa parte do dia, livres da presença fiscalizadora dos adultos.
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