Opinião

A teimosia do Biden


O presidente Joe Biden teima em negar a idade. Nessa minha frase não há nenhum
etarismo, posto que estou em posição de fala por ser quase tão velho quanto ele.
Só que creio, diferente dele, nos versos de Shakespeare quando afirma: “…. observo
que tudo quanto cresce, desfruta a perfeição de um só momento” ou “Quando percebo
que ao homem, como à planta, esmaga o mesmo céu que lhe deu glória” e ainda “..e
que um dia, enfim, se apaga da memória”.
Será que não lhe basta a glória alcançada de ser o homem mais importante do mundo?
Mais importante, sim, porque ninguém tem mais poder que o Presidente dos Estados
Unidos. Talvez ele queira prolongar esse prestígio eternamente, como se sua vida
dependesse dele.
O Biden não aprendeu a ser velho e por isso se impõe um constrangedor teste de
cognição para negar o que está evidente. Ele finge uma corridinha ridícula para simular
destreza enquanto esquece uns nomes e troca outros, como aconteceu há pouco
quando chamou Kamala Harris de Trump e Zelensky de Putin.
A vaidade humana o impede de ver seu andar claudicante, o passinho miúdo e
inseguro e o raciocínio mais lento. Essas mazelas ele deveria aceitar normalmente
como consequências naturais da idade.
Para tentar se perpetuar no poder, ele se submete ao vexame público abastecendo os
memes satíricos que correm o mundo. No limite, parece que ele não consegue descer
do palco onde o puseram e deixá-lo pode significar sair da vida.
Mas sua teimosia em não abrir espaço para outros possíveis candidatos pode, de novo,
conduzi-lo à glória, valorizando sua tenacidade. Também tem o poder de levá-lo ao
fracasso diante de uma provável derrota para seu adversário Trump. Nesse segundo
caso, os Democratas o culparão pela volta do ex-presidente.
Segundo pesquisas recentes, a vice-presidente Kamala Harris tem mais condições que
ele de vitória. Ela já apareceu com 49% de intenções de voto e parece que tem mais
apoio entre os Democratas que o próprio Biden.
Aqui no Brasil caminhamos para enfrentar o mesmo problema dos Estados Unidos. O
Lula, que já tem 78 anos, terminará o mandato com os mesmos 81 que o Biden tem
hoje. É verdade que por enquanto ele não demonstra sinais de senilidade. Mas o vigor
juvenil que ele alardeia (perguntem para a Janja, ele disse) não é dote que acrescente
alguma coisa às qualidades de um governante.
Ao povo não interessa velhos arrogantes e vaidosos que se acham senhores da
verdade e que teimam em não dar espaço para novas lideranças. Se estes não se dão
conta da passagem inexorável do tempo – talvez até pelo estrago que os anos já
fizeram na sua capacidade cognitiva – cumpre ao povo escolher outros para substitui-
los.
Termino com parte de outro soneto do inigualável Shakespeare:

…há de sofrer do Tempo a dura prova,
Pois as graças do mundo em abandono
Morrem ao ver nascendo a graça nova.
Contra a foice do Tempo é vão combate,
Salvo a prole, que o enfrenta se te abate.
Renato de Paiva Pereira.

Foto: Oliver Darcy – CNN

Renato Paiva

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