O Lula na sua simploriedade se acha muito maior e melhor do que realmente é. Este sentimento é agravado pela profunda admiração que tem pela própria voz.
Na falta de uma palavra apropriada para definir esta tara, recorri ao ChatGPT (inteligência artificial IA) pedindo que criasse um neologismo para defini-la em uma só palavra. O GPT sugeriu “autovoxofilia” que justificou como junção do prefixo auto (próprio) com “vox” do grego que significa voz e o sufixo “filia” que é amor, afeição, paixão por alguém ou alguma coisa.
Padecendo dessa anomalia que o neologismo descreve, nosso demiurgo não aguenta ficar calado, principalmente quando lhe põem um microfone à frente. Lembram quando ele achou que poderia mediar a paz entre Rússia e Ucrânia em uma mesa tomando cerveja?
Pois é, agora mostrando notório desconhecimento histórico, se meteu em uma esparrela. Botou a colher onde não convém, supondo-se capacitado para condenar um dos lados do secular conflito árabe-judaico (Israel com o Hamas). Não bastasse a pretensão, ainda comparou o conflito ao holocausto, tema supersensível para os judeus.
Falando de coisas que não entende, o Presidente Lula me lembra a anedota de Apeles e o Sapateiro: na Grécia antiga o pintor Apeles submeteu um quadro seu à opinião dos visitantes. Um deles – sapateiro de profissão – observou que a fivela da sandália estava do lado errado. Prontamente o pintor corrigiu a falha.
No dia seguinte foi de novo o mesmo sapateiro à exposição e empolgado com o sucesso do primeiro reparo chamou o pintor e disse-lhe que havia uma desconformidade em outro detalhe da obra. Imediatamente foi repreendido: “não vá o sapateiro além dos sapatos”, disse o artista.
O “sapateiro” Lula deveria limitar seus palpites aos conhecimentos que domina, evitando meter-se em situações complexas como essa entre Israel e Hamas, cujas origens étnicas, sociais, religiosas e políticas se perdem no tempo.
Seletivamente, nesta mesma semana ele recusou-se a condenar o Maduro que expulsou funcionários da ONU da Venezuela; não censurou o Putin pela morte do opositor Navalny, tudo permeado de muito palavrório como é próprio de um “autovoxófilo”, que é o neologismo que o GPT criou a meu pedido.
Para completar, tem a fábula do corvo e da raposa: um urubu estava sentado em um galho de árvore com um pedaço de carne no bico. A raposa que passava por ali urdiu um plano para surrupiar a comida da ave. “Como você é belo” disse ela ao corvo. “Para ser o rei dos animais bastava que tivesse também uma voz bonita” e pediu-lhe que cantasse alguma coisa. Envaidecido pelo elogio, a ave quis mostrar habilidade vocal e abrindo o bico deixou cair a carne que a raposa rapidamente pegou.
Nosso líder está parecido com o urubu da fábula. O conselheiro Celso Amorim o convenceu de que é um estadista e que o mundo ansiosamente espera ouvir seus conselhos e sua voz. Sua linda voz, não custa lembrar.
Renato de Paiva Pereira
Foto: Reprodução