Judeus e árabes há milênios habitam a região onde hoje desenrola sangrenta guerra, mantendo com ela uma relação cultural profunda e complexa. Se a convivência já era conflituosa antes da era cristã, ficou ainda pior com o advento do cristianismo, cujos seguidores, em inúmeras empreitadas, tentavam resgatar Jerusalém da mão dos “ímpios”. Depois, com a fundação do Islã pelo profeta Maomé nos anos 600 de nossa era, a coisa complicou ainda mais.
Assim, juntam-se nessa região as duas maiores religiões do mundo: cristianismo com cerca de dois bilhões de pessoas e o Islamismo que tem 1,8 bilhão de fiéis. Também o judaísmo – origem destes dois credos monoteístas – disputa o mesmo espaço. Os três grupos têm fanática veneração por Jerusalém, igualmente divinizada por todos. Ali ficam os pontos sagrados de cada crença: o Muro das Lamentações, que são as ruínas do segundo templo sagrado dos judeus destruído pelos romanos; o Domo da Rocha, associado pelos muçulmanos à ascensão de Maomé ao céu e o Santo Sepulcro, tido como túmulo de Jesus Cristo.
As consequências desta guerra podem ser catastróficas se ela se alastrar para os países vizinhos e depois para o mundo todo. Israel é totalmente cercado por nações hostis ao sionismo. Sionismo é o nome que recebeu o movimento judaico mundial que reivindicava uma pátria para os hebreus que se encontravam dispersos pelo mundo. O desejo de formar uma nação foi satisfeito em 1947, quando a ONU decidiu pela divisão do Estado Palestino entre árabes e judeus.
Mas nunca houve paz e o mundo sempre se preocupou com as guerras travadas entre eles, diante do possível envolvimento das grandes potências mundiais. Incentivando essa disputa sempre existiu o antissemitismo (discriminação e hostilidade contra os judeus) principalmente na Europa.
Quando os judeus relatam a selvageria do massacre de 7 de outubro feito pelo Hamas – origem deste conflito – não consigo negar-lhes o direito à retaliação. Entretanto, vendo depois as imagens que os palestinos mostram de crianças dilaceradas por bombas, é impossível não pedir moderação.
Nesse ambiente delicado e perigoso, o nosso Presidente vem a público posicionando-se a favor dos palestinos e culpando os israelenses pelo massacre de inocentes. Desnecessariamente cria um antagonismo e expõe o Brasil ao risco de, imitando a Europa, iniciar aqui um movimento de hostilidades aos judeus que sempre conviveram em paz com a sociedade brasileira.
Movimentos de protesto na Europa e nos Estados Unidos, cada um conforme suas escolhas, fazem manifestações, algumas violentas, contra judeus ou contra muçulmanos. Está, de novo, ganhando força no mundo a velha intolerância entre as religiões. O antissemitismo e a islamofobia, ignorando o progresso dos últimos 200 anos, parecem dispostos a forçar o retorno civilizatório ao período pre-iluminista.
Renato de Paiva Pereira