Em dezembro, a China se tornou o terceiro país do mundo a chegar à Lua, ao fazer o primeiro pouso controlado e lento no satélite natural da Terra em 37 anos, uma proeza técnica que fez o gigante asiático entrar no grupo das potências espaciais, formado por Rússia e Estados Unidos.
Esta operação é o prelúdio de um programa ambicioso, que inclui o lançamento de um laboratório espacial em 2015, uma estação orbital em 2020 e o envio de um homem à Lua, provavelmente após 2025.
Em setembro, o Japão lançou ao espaço um telescópio de observação remota de planetas, graças ao Epsilon-1, um foguete pequeno e fácil de colocar em órbita que abre uma nova era de lançadores de baixo custo. E em 1º de dezembro, a Índia lançou com sucesso uma sonda destinada a explorar Marte. A Coreia do Sul, por sua vez, pôs em órbita seu primeiro satélite em janeiro.
Especialistas afirmam que esta corrida espacial entre países asiáticos tem um lado preocupante e que, em qualquer caso, o mundo deve contar com novos atores de peso.
"A China deu início a uma corrida espacial de importância na Ásia. Os indianos observam atentamente o que os chineses fazem e até mesmo os sul-coreanos aceleram o ritmo", afirmou o especialista australiano Morris Jones.
Vadim Lukachevich, especialista russo da área espacial, considerou que "se os russos não mudarem sua atitude debochada com relação ao que a China faz no espaço, dentro de cinco a dez anos, a corrida acontecerá entre Pequim e Washington, sem a Rússia".
"Os satélites chineses são hoje mais eficazes do que os nossos e a China quer competir com os Estados Unidos, não com a Rússia", acrescentou.
Pequim não parece se contentar com um simples papel de associado nos programas espaciais, mas pretende ser uma referência neste campo na Ásia.
A Índia, embora com tenha recursos mais modestos do que a China, está decidida a participar da corrida espacial e destinou o equivalente a US$ 6,4 bilhões ao seu programa espacial no período 2012-2917.
Os especialistas consideram que os países da Ásia, inclusive a China, não podem desbancar a Nasa, nem outros grandes do setor antes de pelo menos duas décadas, mas acrescentam que rapidamente serão para eles um concorrente comercial.
Riscos de "militarização" do espaço
"O aumento das atividades espaciais na Ásia será sentida a princípio, sem dúvida, no campo da exploração espacial", visto que "China e Índia buscam mercados para seus lançadores", avaliou John Logsdon, especialista americano e consultor da Nasa.
Mas esta competição poderia ultrapassar o marco das atividades civis, científicas e comerciais, afirmam vários especialistas, que temem uma "militarização" do espaço.
Já em 2007, a China testou uma arma antissatélites e, segundo portais especializados na internet, teria testado em maio um novo míssil balístico de alcance espacial.
Os Estados Unidos "estão muito preocupados diante do aumento do arsenal espacial chinês, que poderia ameaçar os sistemas de segurança americanos no espaço", disse Logsdon.
Marco Aliberti, do Instituto Europeu de Política Espacial de Viena, afirmou que também "a Rússia começou a ver a China como uma ameaça em potencial".
É mais, aparentemente "para os Estados Unidos, a China passou a ocupar o lugar que a União Soviética tinha em seus esquemas de segurança", continuou.
Mas o avanço chinês também preocupa a vizinha Índia, que tem relações tradicionalmente tensas com Pequim.
"Embora a Índia reitere sua oposição à militarização do espaço, tem levado em conta os progressos do arsenal espacial dos seus vizinhos", afirmou Rajeswari Pillai Rajagopalan, do instituto independente Observer Research Foundation (ORF). "E portanto, lançou seu primeiro satélite militar em agosto de 2013", continuou.
Por razões sobretudo financeiras, embora também diplomáticas, as potências espaciais tradicionais e as emergentes têm interesse em unir esforços e em colaborar para realizar seus programas, extremamente caros.
"A cooperação espacial pode estender pontes entre os diferentes países em certo prazo, promover a cooperação e cimentar a confiança", disse, otimista, Aliberti.
"O espaço é uma poderosa ferramenta de política exterior, que poderia ser usado pelos países ocidentais e asiáticos para solucionar juntos problemas cruciais, como a proteção do meio ambiente ou das mudanças climáticas, assim como questões relativas à segurança mundial", concluiu o especialista.
Fonte: Info Online