É o que acontece em Milão, na Lombardia, Itália, nesse momento. É um exercício físico e mental tentar fotografar a parte central da cidade sem que apareça uma profusão de fachadas, propagandas e marcas – famosas pelos produtos e bregas no posicionamento de suas logos e fachadas. Idênticas as que pululam em shoppings, malls ou ruas “famosas” de qualquer cidade do mundo.
Por cima disso, pelo menos mais duas camadas da cebola decorativa que vai transformar as imagens captadas no centro milanês em autênticas torres de babel ou lançar o autor das imagens num desafio feroz para tentar esconder a poluição visual invasora. A primeira camada é a dos totens e bandeiras da futura Exposição Mundial de Milano, em 2015, espalhadas pelas ruas. A segunda, os telões e reclames colocados em locais como o Duomo di Milano, a sensacional Catedral de Milão.
Sua construção começou em 1.386 e foi concluída por ordem de Napoleão Bonaparte (olha ele aí de novo!) em 1813, cinco séculos depois – claro que ela vive precisando de conservação, mecenas e contrapartidas para as obras de sua restauração, assim como os outros monumentos históricos e religiosos da cidade.
O Duomo… o Duomo é lindo e arisco, por que fotografá-lo é uma arte. A arte de tentar esconder as “intervenções” que poluem, por exemplo, o lado esquerdo de sua imponente fachada em estilo gótico francês, com um imenso telão povoado de vídeos dos queridos patrocinadores da obra. Lá se foi a chance de um registro integral do monumento.
Para quem se habilita a um passeio pela parte superior da catedral outra gincana, além do esforço de subir – mesmo que em parte pelo elevador -, os degraus que conduzem ao topo do Duomo. São 12 euros para ver muitos andaimes, plásticos protetores e, também, banners com os nomes dos apoiadores da reforma, impedido a visão e “sujando” as imagens gerais das delicadas 136 torres de mármore que apontam para o céu e o horizonte milanês.
Por isso, a solução é tiro ao alto se a intenção for tentar capturar o espírito e as linhas arquitetônicas históricas da efervescente cidade italiana. Porque, se baixar a mira, o que aparecerá será o de sempre: lojas famosas, marcas conhecidas e gente com sacolas de compras nas mãos além, é claro, de turistas do mundo inteiro.
A salvação está num passeio dentro dos muros do Castelo Sforzesco, construído no século XV e com intervenções de Leonardo da Vinci que, entre 1496 e 1497, se dedicou a pintar os troncos de árvores da Sala dele Asse. Hoje, o castelo fortificado abriga os Museus Cívicos como o da Pré-História, o Egípcio, de Arte Antiga, do Móvel, dos Instrumentos Musicais, a Coleção de Arte Aplicada e mostras itinerantes.
Já em Torino, a Villa della Regina, o palácio barroco seiscentista encrustado na colina ás margens do Rio Pó que tem o mesmo nome da cidade piemotesa, que também está sendo restaurado, é aberto gratuitamente ao público para visitas a seus jardins e ao museu, composto pelos preservados aposentos em que Duques de Savóia costumavam passar o mês de setembro, nas comemorações da libertação de Torino.
Checando essas informações no site da Villa Regina, um alerta em destaque no topo da página: o espaço estará fechado até o dia 15 de dezembro. O motivo? As filmagens do longa-metragem “A Bela e a Fera”, produzido pela LUX VIDE. Pelo tempo e permanência na locação, quase duas semanas, dá para apostar que será lá o palácio da fera do clássico infantil.
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “No rumo”, do SEM FIM… delcueto.wordpress.com