— Aqui temos esse órgão que cuida das crianças em casos de separação. Eles já tinham acompanhado a Sofia durante o divórcio de Vitoria (com o chileno naturalizado norueguês Albert Kroff). Agora, o caso voltou — explica a amiga da brasileira Ana Lucia Lima, que mora em Oslo.
— Ela é separada, não sabe falar norueguês muito bem, não tem família aqui e a instituição não aceita a cultura brasileira. Na escola, as crianças costumam comer pão, mas a Sofia não gosta, ela quer comer coisas quentinhas, como arroz. Além disso, ela tem a personalidade forte, quer liderar o grupo de amigas. Por esses motivos o Barnevernet está dizendo que a mãe não tem capacidade de cuidar da filha.
Sofia nasceu em São Paulo e a família se mudou para Oslo antes de a menina completar um ano. Apesar de Vitoria e o ex-marido terem disputado a guarda da menina, hoje ele apoia a volta das duas para o Brasil.
— A guarda era compartilhada, mas o pai está com problema de saúde, muito mal, e prefere que elas voltem para o Brasil, onde vão ter ajuda da família de Vitoria — conta Ana Lucia.
Na última terça-feira, a brasileira divulgou um vídeo em que faz um apelo às autoridades para tentar garantir seu retorno ao Brasil com a menina. “Estou com um problema muito sério aqui, com as autoridades norueguesas, que querem pegar a minha filha para botar em outra família e não estão deixando que a gente saia do Noruega. Estou na embaixada há uma semana e se a minha filha botar os pés fora da embaixada eles pegam ela” diz Vitoria, que é de Olinda, no vídeo. Em outro trecho, Sofia se aproxima, brinca com a mãe e sorri para a câmera. É possível assisti-lo no Facebook.
Diplomacia
Por meio de nota, o Ministério de Relações Exteriores brasileiro confirmou que Vitoria está na embaixada com sua filha. “A Embaixada do Brasil está prestando apoio à brasileira e está em contato com as autoridades norueguesas para encontrar uma solução para o caso. O MRE não comentará os aspectos jurídicos do caso enquanto estiverem em curso as tratativas com o Governo norueguês”, afirma a nota.
Em entrevista à emissora local NKR, o professor de Ciências Políticas Janne Haaland Matlary, que já foi Secretário de Estado do Ministério dos Negócios Exteriores da Noruega, disse que o país é visto como liberal quando se trata de direitos das crianças, enquanto outras culturas dão mais ênfase à autoridade dos pais. “É muito provável que as embaixadas fiquem ao lado de seus próprios compatriotas nesses casos. Custódia é um direito humano internacional e, nesse caso, há um conflito com a decisão do serviço social norueguês. Não são frequentes conflitos com outras culturas, embora este problema exista” disse o especialista.
Segundo Ana Lucia, que mora em Oslo há 10 anos e trabalha como pastora de uma igreja brasileira no município, o país costuma ser receptivo à cultura brasileira.
— Eles acham importante as pessoas conseguirem manter as suas culturas de origem. E o sistema social da Noruega é muito bom. Mas existe uma exceção, que é esta instituição. É muito injusto. Há muitos outros casos de brasileiros, indianos que são separados dos filhos por diferenças culturais.
extra Globo