Cidades

MPE denuncia máfia da ortopedia em MT

 
Os médicos teriam dado alta indevidamente a diversos pacientes do PS de Várzea Grande e depois os encaminhado para o Regional de Cáceres, onde recebiam por produção. Quanto mais cirurgias, maiores os salários. Um ortopedista teria recebido R$ 130 mil por mês quando o subsídio de um médico do SUS fica entre R$ 10 mil e R$ 15 mil. Pacientes teriam sido operadas sem necessidade e outras tiveram problemas de saúde pós-cirurgia porque eram liberadas às pressas para receber no hospital “novas vítimas” do esquema. Um único médico chegou a fazer seis cirurgias num dia. Somente este ano a entidade já recebeu da Secretaria de Estado de Saúde mais de R$ 37,5 milhões. 
 
Na ação, o MPE requer, liminarmente, o afastamento do quadro funcional do hospital dos dois médicos que estariam à frente do esquema: Walter Tapias Tetilla e Domingos Sávio Pedroso de Barros. Também foram acionados os médicos Túlio Marcos Casado da Silva e Orlando Galetti Júnior, proprietários das empresas SCOT – Serviço Cacerense de Ortopedia e Traumatologia Ltda e MED Cáceres – Serviço de Cirurgia Geral Ltda; o administrador Idelvan Ferreira Macedo, representante legal da Associação Congregação de Santa Catarina; e o diretor geral do Hospital Regional de Cáceres, Antonio Fontes. 
 
No Hospital Regional de Cáceres, foram registrados casos de pacientes operados sem necessidade. Segundo o MPE, dados obtidos durante a investigação demonstram que entre novembro de 2011 a março de 2012, foram realizadas em Cáceres 479 cirurgias ortopédicas. Foi constatado, também, um aumento do número de pacientes com reclamações de lesões ocasionadas pela pressa na realização dos procedimentos cirúrgicos e liberação dos pacientes para abertura de mais vagas. 
 
Em relação à participação da entidade responsável pelo gerenciamento do hospital, o promotor de Justiça explica que as irregularidades chegaram ao conhecimento da direção da entidade, mas nenhuma providência foi adotada. “Pelas graves declarações prestadas por todos os pacientes e testemunhas ouvidas, por certo se acreditava que os demandados iriam, no mínimo, rever os termos dos contratos firmados com as empresas e profissionais citados”, afirmou o representante do Ministério Público.
 
O trabalho de investigação foi realizado por Promotorias de Justiça de Cáceres e Várzea Grande, com apoio do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), com base em informações prestadas pelos próprios funcionários do Hospital Regional. 
 
Declarações de gestores confirmam esquema 
 
O MPE pede liminarmente o afastamento de dois médicos do Pronto Socorro de VG, que estariam à frente do esquema. O diretor do Pronto-Socorro de Várzea Grande, Geraldo Araújo, disse que na região de Cáceres os médicos não estavam encontrando mais pacientes para serem operados, daí eles começaram a aliciar pacientes de outras unidades hospitalares para assim ganharem mais da Secretaria de Saúde, pois recebiam por produtividade.
 
Já então subsecretário de Saúde de Várzea Grande, Geraldo Luiz de Araújo desmentiu as informações prestadas pelo médico Walter Tetilla aos pacientes, no sentido de que não havia médicos anestesistas no Pronto-Socorro. 
 
Por sua vez, a presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de Mato Grosso, Dalva Alves das Neves, foi enfática em dizer que o contrato firmado entre a Secretaria de Estado de Saúde e as OSSs deveria ser revisto por se tratar de mais um dinheiro público que estava indo para o ralo.
 
No mesmo sentido foi o depoimento prestado pelo então secretário de Estado de Saúde, Vander Fernandes, que disse que a conduta praticada pelos envolvidos no esquema delituoso era inaceitável, devendo os pacientes denunciar os fatos às autoridades competentes, com o propósito de que as irregularidades fossem corrigidas, devendo, inclusive, os diretores de cada uma das unidades de saúde punir os profissionais de saúde envolvidos.
 
‘Máfia’ faz paciente perder movimentos dos braços 
 
Os problemas decorrentes da ‘máfia da ortopedia’ puderam ser confirmados por meio dos depoimentos de funcionários do Hospital Regional de Cáceres e de pacientes que foram submetidos às cirurgias realizadas às pressas. É o caso, por exemplo, de Maria Eugênia dos Santos, que chegou a representar contra o Dr. Walter Tetilla junto ao Conselho Regional de Medicina (CRM). 
 
A paciente relatou que após uma queda acabou fraturando o úmero e teve que passar por uma cirurgia realizada por Tetilla. Na ocasião ela teve que colocar dois pinos no braço para reduzir uma luxação e um dos pinos, segundo ela, foi colocado de maneira errada, o que culminou numa contaminação e também na necessidade de realizar um novo procedimento cirúrgico. Novamente, não houve sucesso no procedimento. Exames realizados depois disso confirmaram o rompimento de tendões e a consequente paralisia de um dos braços. 
 
À época o diretor do PS-VG, Geraldo Araújo disse que médicos de Cáceres estavam aliciando pacientes de outras unidades para receberem mais. Enfermeiros do Hospital de Cáceres também relataram ao MPE que os pacientes eram encaminhados à unidade de maneira irregular, geralmente nos finais de semana ou às sextas-feiras à noite. Houve casos, inclusive, de pacientes chegando a Cáceres no veículo particular do Dr. Tetilla. 
 
Mais agravante ainda é o fato de que como os pacientes não passavam pala Central de Regulação, não havia nenhuma preparação para a realização dos procedimentos cirúrgicos. Não fosse o bastante, após a cirurgia, os pacientes retornavam ao município de Várzea Grande e não recebiam os acompanhamentos necessários, como a retirada de pontos e pinos, a realização de raios-x, dentre outros. Depoimentos comprovaram também que “as numerosas cirurgias realizadas em série pelo médico Walter Tapias Tetilla têm apresentado como consequência um elevado índice de infecção hospitalar no Hospital Regional de Cáceres”. 
 

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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