A polícia tenta descobrir de quais obras esses recursos foram desviados e quem são os beneficiários finais do esquema. Estima-se que a construtora tenha desviado cerca de R$ 360 milhões de contratos com o poder público.
Apesar de ainda estar rastreando o caminho do dinheiro, a PF afirma que o braço paulista do chamado "laranjal da Delta" foi responsável pela movimentação de R$ 265 milhões –o equivalente a 80% dos recursos já identificados que foram repassados pela construtora a empresas que só existem no papel.
Entre as beneficiárias de fachada listadas pela PF há 16 empresas na capital paulista e na Grande SP que receberam de R$ 397 mil a até R$ 46,4 milhões da Delta, classificada de "holding" do crime pelos investigadores.
"Toda a investigação realizada até o momento demonstra que nenhuma das empresas acima mencionadas, seja em Goiás, seja em SP, possui atividades (…); têm como única função gerenciamento de contas bancárias e movimentação de valores pecuniários oriundos da Delta Construções Ltda., que, por sua vez, os obtém via de regra por meio de contratos com entes públicos", diz a decisão da Justiça Federal do Rio que autorizou a Operação Saqueador, deflagrada na terça pela PF.
No papel, as empresas paulistas atuam na área de de terraplanagem, engenharia e promoção de eventos e estão ligadas direta ou indiretamente aos empresários Adir Assad e Marcello Abbud.
Em Goiás, elas estão ligadas ao empresário Carlinhos Cachoeira, cujos negócios suspeitos foram alvo de uma CPI no Congresso que terminou sem indiciar ninguém.
As investigações apontam ainda indícios de crimes tributários e lavagem de dinheiro envolvendo as empresas –a maioria funciona em casas e terrenos baldios.
Procurado, Assad preferiu não falar sobre a operação; Abbud não ligou de volta.
Questionada via assessoria, a Delta não explicou qual a relação da empresa com Assad e Abbud nem esclareceu por que fez repasses a empresas que a polícia diz serem de fachada. Tampouco informou se essas empresas prestaram algum tipo de serviço.
Em nota, a construtora afirmou que "foi surpreendida pela operação policial de busca e apreensão (…), uma vez que encontra-se em recuperação judicial, homologada em janeiro de 2013". A Delta diz estar prestando todos os esclarecimentos às autoridades e colaborando "de forma plena" com a investigação.
Folha de S. Paulo