Esportes

Tia de lutador morto diz que laudo apontou AVC e culpa esforço físico

 
– O que me foi passado na UPA de Botafogo e no IML e inclusive saiu na declaração de óbito foi que houve um acidente vascular cerebral hemorrágico. Na linha de baixo diz que pode ter havido evolução de uma doença cardiovascular. Mas eu, como enfermeira e conversando com o médico legista depois, posso dizer que o que levou a essa alteração na pressão e ao rompimento no cérebro foi o excesso de exercício por conta do peso que ele tinha que perder de um dia para o outro. O médico legista perguntou se ele tinha alguma doença, e eu disse que não. Aí ele disse que pode ter sido o esforço. O Leandro dormiu na academia de quarta para quinta e deve ter passado a noite fazendo exercício demasiadamente. Depois fez sauna, ficou imerso na água quente… (…) Eu e a família chegamos a essa conclusão. A gente sabe que ele não tem problema algum. Se ele tivesse algum problema cardiovascular, jamais estaria treinando para essa luta – disse ela, em entrevista por telefone.
 
O enterro de Leandro será neste sábado, às 9h (de Brasília), na Capela Santa Isabel, em Inhaúma-RJ. Quem está à frente da organização e dos procedimentos burocráticos é Elma, que, além de tia e madrinha, era vizinha dele no bairo de Vicente de Carvalho. Indignada, ela cobrou explicações do Shooto e da academia Nova União, à qual o sobrinho representava. O Combate.com tentou contato na noite de quinta e na madrugada/manhã de sexta com André Pederneiras, líder da equipe e organizador do Shooto, mas ele não atendeu as ligações.
 
– Eu não sei se caracterizo como culpado, e sim como responsável. Ele (Leandro) sabia o risco que estava correndo, não era menor de idade. Mas quem colaborou para a tragédia foram a academia e as pessoas do treino. Se está vendo que não vai conseguir bater o peso, não pode botar pressão. Ele não comeu as três maçãs que levou para o treino ontem. Elas voltaram na mochila. A vontade de lutar e vencer é muito grande, e a pessoa acaba esquecendo a consequência que pode haver. Foi um acidente trágico como esse. Queria que a academia e o organizador do evento se posicionassem com a gente. Até agora ninguém nos procurou – disse Elma.
 
A enfermeira disse que nunca teve conhecimento do uso de qualquer anabolizante ou droga por parte do sobrinho. Segundo ela, Leandro, que era funcionário da Comlurb, era um "garoto de ouro" e ajudava a mãe as irmãs financeiramente. Elma pretende entrar na Justiça:
 
– Acho que alguém tem que pagar por isso. Não eu, nem a família.
 
Em sinal de luto à morte de Leandro, o Shooto cancelou o evento desta sexta, que seria realizado na Hebraica. O atleta tinha dez lutas até hoje, com cinco vitórias e cinco derrotas.
 
A seguir, veja a entrevista com a tia de Leandro "Feijão" na íntegra:
 
COMBATE.COM: primeiramente, nossos sentimentos pela morte do seu sobrinho. Vocês já receberam o laudo médico? Já sabem o que houve com o Leandro?
 
Foto: Reprodução / FacebookELMA CAETANO DOS SANTOS: O que me foi passado na UPA de Botafogo e no IML e inclusive saiu na declaração de óbito foi que houve um acidente vascular cerebral hemorrágico. Na linha de baixo diz que pode ter havido evolução de uma doença cardiovascular. Mas eu, como enfermeira e conversando com o médico legista depois, posso dizer que o que levou a essa alteração na pressão e ao rompimento no cérebro foi o excesso de exercício por conta do peso que ele tinha que perder de um dia para o outro. O médico legista perguntou se ele tinha alguma doença, e eu disse que não. Aí ele disse que pode ter sido o esforço. O Leandro dormiu na academia de quarta para quinta e deve ter passado a noite fazendo exercício demasiadamente. Depois fez sauna, ficou imerso na água quente… Ninguém sai de casa bem para fazer sauna, aos 26 anos, e de repente me ligam e falam que ele está morto. Só isso? Não sei até que ponto o clube (Nova União) e o evento onde ele iria lutar (Shooto) vão se responsabilizar por isso. Todo o desfecho foi na academia. O que nos foi passado é que ele chegou lá na UPA apenas com um amigo, de nome Tigrão, e quando cheguei esse Tigrão não se encontrava mais lá. Ninguém do clube fez contato comigo até agora. O que o levou ao óbito foi o tipo de exercício de forma exaustiva. Ele teve muito pouco tempo para perder peso e fez isso sem orientação nenhuma. Acredito que a academia até tenha fisioterapeuta, médico, treinador, espero eu, para limitar a quantidade de peso para o atleta perder. Ele estava com o Tigrão, que não é preparador dele. O atestado médico não apontou uso de diurético. Acho que pode até pode ter usado, mas esse acidente foi por causa do excesso de exercício. Eu e a família chegamos a essa conclusão. A gente sabe que ele não tem problema algum.
 
Quando será o enterro?
 
"O enterro vai ser amanhã (sábado [28]) às 9h na Capela Santa Isabel, em Inhaúma. Estou aqui fazendo camisas em homenagem a ele e liberando o corpo. Vou pedir a liberação para que a gente faça um velório hoje (sexta[27])."
 
 
Quanto ele pesava normalmente e quanto tinha que perder para essa luta?
 
"Segundo ele chegou a falar para a gente, teria que perder 10kg ou 15kg em menos de 15 dias. Na terça ainda faltavam 900 gramas. Quando cheguei do trabalho ontem (quinta), dava para torcer a roupa dele, de tanto que foi o esforço na sauna e não sei mais o que inferno ele fez na academia."
 
Você acha que existe algum culpado pela morte do Leandro?
 
"Eu não sei se caracterizo como culpado, e sim como responsável. Ele (Leandro) sabia o risco que estava correndo, não era menor de idade. Mas quem colaborou para a tragédia foram a academia e as pessoas do treino. Se está vendo que não vai conseguir bater o peso, não pode botar pressão. Ele não comeu as três maçãs que levou para o treino ontem. Elas voltaram na mochila. A vontade de lutar e vencer é muito grande, e a pessoa acaba esquecendo a consequência que pode haver. Foi um acidente trágico como esse. Queria que a academia e o organizador do evento se posicionassem com a gente. Até agora ninguém nos procurou. Eu vi uma reportagem dizendo que eles foram na UPA, mas tenho amigos lá e o que me passaram é que só o Tigrão foi lá. Na reportagem disseram que foram lá "A", "B", "C", mas desconheço isso."
 
Como e quando você recebeu a notícia da morte?
 
"Eu estava de plantão 24h no hospital onde trabalho em Realengo. Quando eram 17h, liguei meu computador e entrei no Facebook normalmente. Quando entrei, minha prima postou: "Luto! Saudades eternas, Leandro". Achei que era brincadeira, como se fosse tomar porrada na luta. Quando liguei para casa, já estavam vindo me buscar. Meu irmão já sabia. Fiquei sabendo de choque pela rede social."
 
É do seu conhecimento se ele fazia uso de alguma substância ilícita?
 
"Eu nunca vi nada. Ele nunca me pediu para aplicar nada. Se fazia, não era na nossa presença, era com amigos na academia. Eu desconheço. Ele bebia muito pouco. Desconheço se ele usava anabolizante, sibutramina ou droga que causesse um desfecho desses."
 
Ele trabalhava em algum lugar? Ajudava bastante em casa?
 
"Ele era funcionário da Comlurb. Ajudava bastante em casa. Até liguei para lá, fui na funerária, e a Comlurb vai pagar metade do funeral. A outra metade vai ser por conta da família. Ele tem duas irmãs gemas que não trabalham, então ele era o braço direito da mãe para tudo. A minha irmã é separada. Ele vivia com minha irmã e as duas irmãs dele."
 
Como era o Leandro no dia a dia?
 
"Sempre foi um garoto tranquilo, muito preocupado com a família. Nem naquela fase de adolescente ele deu trabalho para a gente. Nunca se envolveu com droga, nada disso. É uma perda muito trágica, um garoto de ouro."
 
 
O Shooto cancelou o evento em sinal de luto pelo Leandro.
 
"É o mínimo que podem fazer. Se não cancelassem por bem, fariam por mal. Eu já ia no fórum fazer uma petição. Cancelar o evento é o mínimo que podem fazer em respeito à alma e ao corpo. Não fizeram mais do que a obrigação."
 
Você pensa em processar alguém?
 
"Queria falar com o pessoal da academia para poder entrar. Eu, como enfermeira, entendo que o que o levou ao óbito foi uma coisa impensada. Acho que alguém tem que pagar por isso. Não eu, nem a família."
 
Acha que a morte do Leandro é muito ruim para o MMA?
 
"Eu acho que é ruim. A coisa não vai parar. Não vai ser o primeiro nem o último. As pessoas continuam morrendo. Hoje passa a morte dele de 15 em 15 minutos em todas as rádios e televisões. Daqui a um mês morre outro, outras famílias perdem entes queridos e fica por isso mesmo. As pessoas deveriam pensar bem antes de entrar nessa. Uma coisa que bota a vida em jogo não há dinheiro que pague. Para o MMA soa muito mal. No futebol também tem isso, e é só mais um na estatística."

Redação

About Author

Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

Você também pode se interessar

Esportes

Para embalar, Palmeiras vai manter esquema ofensivo fora de casa

  A derrota para o Penapolense no último fim de semana trouxe de volta a tensão que marcou o rebaixamento
Esportes

Santos e São Paulo na vila opõe Neymar e Ganso pela primeira vez

  Ganso trocou o Santos pelo São Paulo de forma polêmica, em setembro, e até aqui não fez grandes jogos