Essa semana o motivo de catar milho no dead line do querido Nei Ferraz, heroico diagramador do Ilustrado do Diário de Cuiabá, não foi falta de assunto. Esse sabia qual era desde a ida a Paraty, semana passada.
O encalacre, ao contrário, era como falar de tudo o que vi em tão pouco espaço. Caí – quase de paraquedas, na primeira semana do Festival MIMO – Movimento Internacional de Música de Olinda.
Foi na co-irmã pernambucana que nasceu, em 2004, a caravana de artistas que se apresenta nas igrejas de Patrimônios Históricos brasileiros. Esse ano a festa começou em Paraty, esteve em Ouro Preto, Minas Gerais, desaguará em Olinda dia 02 e por lá se espalhará até o dia 8 de setembro.
Disse “se espalhará” por que é assim. Concertos nas igrejas, nos palcos montados nas praças, curtas, médias e longas cinematográficos brasileiros com temáticas musicais, no Festival Mimo de Cinema, workshops, máster classes… E mais os eventos paralelos, como a Exposição MIMO 10 anos, a Chuva de Poesia e só em Olinda, o Spasso Escola Popular de Circo. Acabou? Não. Faltou o Fórum de Ideias.
O dilema do Mimo é que dá vontade da gente ir seguindo junto, tal a qualidade das atrações espalhadas pelas três cidades históricas da edição. O caminho? Cada um tem e faz o seu. Graças a Deus…
Dos espetáculos que assisti em Paraty três estarão em Olinda: o MANdolinMAN, um jovem quarteto de bandolinistas belgas que mistura música folclórica do pais e algumas peças de “bossa nova”.
O duo Milewski, composto pelo violinista Jerzy Milewski e a pianista Aleida Schweitzer que, frequenta o MIMO desde sua primeira edição e dá um show não apenas de música, mas se conectando com o público de maneira muito especial e arrancando calorosos aplausos da plateia.
O terceiro espetáculo que se repetirá em Olinda é o de Stephen Micus, músico e compositor que toca e compõe usando mais de 100 instrumentos recolhidos em suas andanças pelo mundo. Aguardado ansiosamente, esta é a primeira vez que vem ao Brasil.
Um detalhe: todas as atividades do Mimo são gratuitas e a organização é realmente muito boa. As senhas para assistir aos concertos sempre são distribuídas às 17 horas pontualmente. Em todos os espetáculos que assisti tanto na igreja Matriz Nossa Senhora dos Remédios, quanto na Nossa Senhora das Dores, em Paraty, os lugares se esgotaram.
Apesar de não estarem na programação de Olinda, destaco mais três “espetáculos”. No primeiro a cravista Rosana Lanzelotte, o percussionista Caíto Marcondes e o violonista Luis Leite comemoram os 150 anos de Ernesto Nazareth. Sou fã de carteirinha de Rosana e seu maravilhoso instrumento desde que tive o prazer de fazer uma das câmeras de seu DVD com o violoncelista pernambucano Antônio Meneses, gravado numa igreja histórica do centro do Rio anos atrás.
Para fechar, dois shows no palco da praça: os de Rum Tareq Al Nasser, jordaniano que se consagrou por revitalizar a música árabe e se apresentou com o grupo RUM, e de Herbie Hancock, aquele, um dos maiores pianistas norte-americanos.
Passo, mais uma vez, por Paraty sem sair incólume aos sopros de arte, música e literatura que passeiam pelas ruas calçadas de “pés de moleque” com suas pedras irregulares onde foram parar os pingos da Chuva de Poesias de sonetos Gregório de Mattos, o Boca Maldita. Isso, quando não ficaram pendurados nas árvores centenárias da Praça da Matriz…
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “Ponta do Leme”, do SEM FIM… delcueto.wordpress.com
Gravata
Os pingos da Chuva de Poesias de sonetos de Gregório de Mattos, o Boca Maldita caíram nas pedras ou ficaram pendurados nas árvores da Praça da Matriz.