Um ativista caracterizado como o ministro Edison Lobão encenou um leilão de energia e protocolou uma carta da ONG endereçada ao titular da pasta contra a participação das usinas térmicas a carvão no leilão de energia. Em uma faixa lia-se a mensagem: Lobão, carvão no leilão não!
O leilão A-5 prevê a contratação antecipada de energia elétrica que só começará a ser produzida em cinco anos. As distribuidoras tentarão comprar, em 2013, energia que será entregue em 2018. Trinta e seis projetos serão ofertados no leilão: uma usina hidrelétrica, três usinas termelétricas a carvão, 16 termelétricas a biomassa e 16 pequenas centrais hidrelétricas (PCHs).
Os três projetos de usina a carvão representam 52% da capacidade total do leilão, de 3.535 megawatts (MW). O Rio Grande do Sul concentra a maior oferta de geração cadastrada para o leilão, com 1.250 MW em dois projetos termelétricos movidos a carvão. O Rio de Janeiro tem um empreendimento de térmica a carvão habilitado com capacidade de 590 MW.
A coordenadora da Campanha de Clima e Energia do Greenpeace, Renata Nitta, considera um retrocesso a liberação da entrada de térmicas a carvão no leilão de amanhã. “O governo insiste em retroceder na nossa política energética ao permitir a entrada de uma fonte tão poluente quanto o carvão, quando o Brasil tem um enorme potencial de energia eólica, solar e de biomassa, que são fontes renováveis e limpas e estão esperando a oportunidade de serem aproveitadas”, disse Renata.
Segundo ela, em 2009, o governo havia banido a participação de térmica a carvão em leilões de energia por ser uma fonte poluidora e pelos compromissos que assumiu voluntariamente de redução de emissões de gases do efeito estufa. “O governo diz que é necessário garantir a segurança energética. Isso é verdade porque nossa matriz é muito dependente da energia hidráulica. Mas falta planejamento para, no período da seca, quando o nível dos reservatórios está mais baixo, investir na geração de energia eólica e de biomassa,” afirmou a ativista.
No início de julho, o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, disse que considerava o retorno das usinas movidas a carvão mineral nos leilões um paradoxo ambiental. A volta do carvão aos leilões, explicou ele, ocorre em razão das restrições socioambientais à construção de hidrelétricas com grandes reservatórios na Bacia Amazônica. Outra razão são os preços ainda pouco competitivos do gás natural, menos poluente que o carvão.
Usinas eólicas e hidrelétricas sem reservatório são ecologicamente mais sustentáveis. No entanto, por dependerem de condições naturais estáveis (ventos e chuvas), enfrentam também dificuldades para serem implementadas. Segundo a EPE, a permanência do carvão nos próximos leilões vai depender das descobertas de gás natural que podem ocorrer nos próximos anos e dos investimentos para tornar o gás natural liquefeito mais barato.
Até a publicação desta reportagem, a assessoria de imprensa do Ministério de Minas e Energia ainda não havia se pronunciado sobre o protesto do Greenpeace.
Agência Brasil