O ‘puxadinho’ só foi feito depois da intervenção do Ministério Público Estadual (MPE) que pediu estudo e vistoria para o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea) e verificar inexistência de acessibilidade. Às pressas e por imposição, a empresa fez algumas modificações no projeto que hoje atende cerca de 60% de acessibilidade.
Segundo a Secopa, a revisão foi necessária após a publicação da portaria 205 do Ministério do Esporte, que listou os 12 estádios que deverão destinar pelo menos 1% da capacidade total de espaços e assentos para pessoas com deficiência. Para atender a portaria e as exigências do MPE, foi feito uma adaptação discriminatória, destinando apenas o primeiro piso da Arena e com uma única fileira reservada a eles, além de contarem com um único portão de acesso.
Entidades ligadas à classe dos portadores de deficiência reclamaram que não foram procuradas, a título de consultoria: “Eles fizeram da maneira deles”, denuncia Julia Ulrich Alves de Souza, presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Conede-MT) e presidente da Associação dos Síndrome de Down de Mato Grosso (ASDMT).
A presidente questionou a Secopa sobre a possibilidade de portadores de deficiência assistir jogos fora do ‘cercadinho’, mas responderam que apenas o primeiro piso tinha condições de atender à classe.
Julia esclarece que a acessibilidade é que para todos possam conviver em harmonia com o espaço e reclama quando as pessoas acham que as adaptações atendem apenas aos portadores de deficiência. Para ilustrar que todos são beneficiados com as obras, conta que ficou “observando as pessoas num shopping onde existem três lances de escada ao lado da rampa e a maioria prefere subir pela rampa por maior comodidade. Isso é acessibilidade!”.
Como no estádio, onde a empresa confinou os portadores de deficiência a um único espaço, a mesma coisa acontece na praça acústica no entorno da Arena Pantanal. Toda a estrutura de acesso da praça é por escadas; somente depois das entidades questionarem é que foi feita uma rampa e os portadores de deficiência só terão acesso à parte superior.
O presidente da Associação Mato-grossense dos Cegos, Sandro Luis da silva, confirma as modificações feitas de última hora: “No início deste ano fomos chamados a uma visitação na Arena Pantanal e não estávamos contemplados satisfatoriamente. Fizemos sugestões de piso táctil no centro dos corredores, indicação com totens em ‘braille’ dos espaços destinados aos deficientes como lanchonete, elevadores e setores do estádio”.
Segundo o Direito das Pessoas com Deficiências, é necessária a implementação dos apoios ao pleno e efetivo exercício da capacidade legal por todas as pessoas com deficiência, ao empenhar-se na equiparação de oportunidades para que a deficiência não seja utilizada como impedimento à realização de sonhos, desejos e projetos, valorizando o protagonismo e as escolhas dos brasileiros com e sem deficiência.