Passados três anos, a estudante está estabilizada na capital gaúcha. “Quando me inscrevi, eu escolhi Porto Alegre por causa da UFCSPA (Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre). Na época, eu nunca tinha morado fora de casa, sem contar que não conhecia a cidade onde iria morar. Tive de me adaptar, e meus pais me ajudaram”, diz a futura médica.
Criado há quatro anos pelo Ministério da Educação (MEC), o Sisu vem movimentando estudantes – pelo País – e também a opinião pública, que discute a relevância do processo de seleção para garantir o acesso de estudantes de diferentes Estados a uma vaga em uma universidade pública. Desde sua concepção, em 2010, mais de 7 milhões de pessoas se inscreveram pelo sistema, que, além de criar um intercâmbio nacional, fez o governo ampliar os investimentos em bolsas estudantis.
O sistema possibilita que estudantes que tenham feito o Enem possam se candidatar a vagas em universidades e instituições públicas previamente cadastradas, sem prestar o clássico vestibular. Este novo formato, disponível por meio do site do programa, aumenta as chances dos estudantes, que não precisam gastar com o deslocamento para participar de múltiplos processos seletivos, e também cria uma mobilidade os estados.
De acordo com dados do segundo semestre deste ano, divulgados pelo MEC, o Estado que mais “exporta” estudantes é São Paulo, com 4.839 alunos. Já a unidade da federação que mais recebe forasteiros em busca de uma vaga universitária é Minas Gerais (2.437). Neste mesmo levantamento, o Rio Grande do Sul foi o que mais recebeu estudantes de Estados não limítrofes – dos 9.681 alunos matriculados em instituições públicas gaúchas, 1.413 são de fora e, destes, 1.277 são de Estados que não fazem divisa.
A mobilidade nesta segunda edição do Sisu, que contou com 1,5 milhão de inscrições, chegou aos 13%, conforme o MEC. Isso significa que, das inscrições feitas, mais de 150 mil são de estudantes que se candidataram para vagas disponíveis fora da cidade onde moram. Já o estado com maior volume de candidatos inscritos é o Rio de Janeiro, onde cerca de 90% das inscrições são para instituições locais.
Em São Paulo, apenas 33% das inscrições feitas são para permanência no Estado. Para os outros 67% estudantes paulistanos, as opções mais procuradas oscilam entre Minas Gerais e Rio de Janeiro. Com o Sisu, o aumento na circulação de estudantes é uma realidade.
Apesar de ter sido favorecida pelo sistema, Annelise aponta problemas estruturais. "O Sisu é uma boa ideia, só que ainda tem muito a ser melhorado e aperfeiçoado nas provas e no próprio sistema. Existem falhas que foram noticiadas e acredito que é neste ponto que as próprias universidades, as que já aderiram e as que vão aderir, devem cobrar do governo federal melhorias", afirma.
Assistência ao estudante
Toda esta mobilidade entre os Estados exigiu do governo um maior investimento nos alunos nos últimos anos, para assegurar a permanência na universidade. Desde 2008, o Plano Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes) dá suporte a estudantes de baixa renda matriculados em cursos de graduação presencial das instituições federais de ensino superior. A iniciativa oferece assistência para moradia estudantil, alimentação, transporte, saúde, inclusão digital, cultura, esporte, creche e apoio pedagógico.
As ações são executadas pela própria instituição de ensino, que deve acompanhar e avaliar o desenvolvimento do programa. Já a de seleção dos estudantes, entre outros critérios, leva em conta o perfil socioeconômico. A UFCSPA é uma das universidades que oferece auxílio aos estudantes via Pnaes. O incentivo, conforme a instituição, é oferecido anualmente, por meio de edital, nas modalidades auxílio-permanência, transporte, alimentação e moradia. Além disso, todos os alunos cotistas recebem uma bolsa no primeiro ano.
Segundo a pró-reitora de extensão e assuntos comunitários da instituição, Deisi Vidor, a UFCSPA também trabalha com o Programa de Bolsa Permanência, do governo federal. Neste caso, o aluno recebe uma verba. Para aplicar, ele precisa ter uma renda per capita menor que um salário mínimo e meio, e a soma das bolsas que ele recebe não podem exceder o valor de um salário e meio. Além disso, o estudante precisa ter uma carga horária diária de cinco horas.
O MEC investiu mais de R$ 1 bilhão em assistência a alunos das instituições federais de educação superior nos últimos cinco anos. Entre 2008, ano da criação do Pnaes, e 2012, o volume destinado ao programa quadruplicou – passou de R$ 126,3 milhões para R$ 503,8 milhões. A previsão de investimento para este ano chega a R$ 603 milhões.
Somente em bolsas de assistência estudantil, o número de estudantes atendidos pelo Pnaes cresceu de 13.306, em 2008, para 66.139, em 2011. Em termos de investimento, o volume passou de R$ 19,8 milhões para R$ 181,7 milhões – um aumento de 900%.
Fonte: Terra