Esportes

Governo gasta R$ 63 mi em arenas e contraria Dilma

 
O despejo de dinheiro público federal em estádios para treinos do Mundial começou a ocorrer no final de maio e se estendeu pelo mês de junho deste ano. Durante esse período, o Ministério do Esporte assinou convênios e empenhou (destinou dinheiro para determinado fim) recursos para essas arenas que poderão servir como centro de treinamentos para seleções – isso se forem escolhidas pelos times.
 
Coincidentemente, no dia 21 de junho, a presidente Dilma Roussef declarava que jamais permitiria que recursos do orçamento federal fossem usados para a reforma de “arenas” em detrimento de setores prioritários como saúde e educação. Naquele momento, ela se prendia a um aspecto técnico para negar investimento em locais que serão usadas em jogos do Mundial, já que havia dinheiro de uma empresa estatal, incentivo fiscal e juros subsidiados nas reformas e construções. E o Ministério do Esporte afirmava: “não há um centavo do orçamento da União direcionado à construção ou reforma das arenas para a Copa.”  Mas essa argumentação não resiste ao uso direto do dinheiro do governo para a modernização de estádios para realizar treinos de seleções.
 
É importante lembrar que, na Africa do Sul, a Fifa aumentou em US$ 100 milhões o orçamento dos organizadores locais para melhorias nos centros de treinamentos de seleções. No Brasil, quem vai pagar boa parte dessa conta é o governo federal. Tanto que a conta do investimento em CTs já chega a cerca de R$80 milhões, com a soma de outros seis projetos de centros que não são em estádios.
 
O Ministério do Esporte até já informara que destinaria dinheiro aos CTs públicos. Só não explicou que o montante do investimento seria tão alto, nem que seria destinado a arenas.
 
O blog fez um levantamento em todos os pagamentos feitos pelo Ministério do Esporte neste ano para encontrar todos os convênios relacionados à Copa-2014. Encontrou gastos previstos em 13 Estados do Amapá ao Rio Grande do Sul. Vários deles estão longe das cidades-sedes do Mundial, e de qualquer acesso fácil a aeroportos centrais.
 
Um exemplo disso é o Estádio Zerão, em Macapá. Está a 1071 km de Manaus, o local de jogos mais próximos, e tem limitadas possibilidades de vôos para o restante do país. Nem por isso deixará de receber R$ 4,1 milhões da União para se adaptar ao ‘padrão Fifa’. O Mangueirão, também longe 1.146 km de Fortaleza, cidade-sede mais próxima, terá outros R$ 2,3 milhões para o mesmo fim. Outros Estados que estão fora do circuito dos jogos como Santa Catarina, Goiás e Alagoas também terão os seus estádios reformados com a desculpa da Copa-2014.
 
Ressalte-se que a utilização dos CTs no Mundial dependerá da escolha das seleções. Se nenhum dos times optar pelo local, ele ficará de fora da competição. Outra observação relevante é que times nacionais de países fracos economicamente costumam atrair poucos turistas, ou jornalistas. Ou seja, o impacto financeiro para a cidade pode ser quase nulo se um país pequeno adotar a cidade.
 
Há, sim, casos de seleções que optam por centros mais distantes, como ocorreu com a Espanha na Copa-2010. Mas, em geral, tentam escolher lugares em que conseguem ter acesso a aeroportos centrais em no máximo duas horas. Tanto que os espanhóis estavam a menos de 200 km da capital Johanesburg.
 
Central, São Paulo é o Estado que receberá o maior investimento federal em CTs, com dinheiro destinado a arenas em São José dos Campos, São Caetano, Guarujá, São Bernardo, Piracicaba e Itu. O Anacleto Campanella, com R$ 6 milhões, e o Estádio Martins Pereira, em São José dos Campos, representarão os maiores gastos com cerca de R$ 6 milhões cada um. Nenhum deles recebe uma média de público significativa durante a temporada.
 
Questionado sobre esses investimentos em arenas pelo blog, o Ministério do Esporte afirmou que entende que isso é um legado para as cidades. “Uma das missões do Ministério do Esporte é o fomento à prática esportiva e o aprimoramento dos equipamentos públicos esportivos em todo o território nacional. (…) Como parte do plano de nacionalização da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos e da construção do legado esportivo dos dois eventos, um conjunto de equipamentos está sendo reformado para atender às diversas regiões do País, em particular às cidades que não serão sede dos torneios.”
 
O argumentação de que há um legado pós Copa fica bastante prejudicada ao se constatar que Macapá, Guarujá, Maringá, Tocantins, entre outros beneficiados, estão longe de ser grandes centros do futebol nacional. Ou seja, a necessidade de ter estádios novos é, no mínimo, questionável.
 
Para o Ministério, porém, só estar na lista de CTs oficiais para Copa representa uma oportunidade de negócios para as cidades. Não foi explicado que negócios poderiam ser obtidos por um município simplesmente por estar em uma relações de candidatos a receber seleções no Mundial, sem nenhuma garantia de eficácia.
 
Mais importante do que isso, perguntado sobre a contradição do gasto com estádios e o discurso da presidente Dilma, o ministério se recusou a responder.
 
 
Blog Rodrigo Mattos/UOL

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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