Para o doutor em Sociologia e coordenador do Núcleo Interinstitucional de Estudo da Violência e da Cidadania (NIEVCI) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Naldson Ramos da Costa, os sucessivos governos democráticos, eleitos após a ditadura, não conseguiram tirar toda a corrupção existente nas estruturas institucionais. E a precariedade dos serviços públicos motivou as pessoas a irem para as ruas lutar por seus direitos.
“Essas manifestações foram superadas apenas pelas Diretas Já, e marcam um momento muito importante para a sociedade, que vivenciou longos regimes de exceção com os governos ditatoriais”, pontua o especialista, lembrando que governos legitimamente eleitos, em pleitos limpos, vêm há décadas frustrando a sociedade, que ainda espera por serviços públicos – saúde, educação, transporte e segurança – de qualidade. “A população quer meios mais transparentes e eficientes de controle fiscal”, diz ele.
Vilson Nery, um dos líderes do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), comemorou a grande adesão dos mato-grossenses à manifestação nacional e pontua alguns motivos que favoreceram o cenário atual. “A corrupção no serviço público e nos contratos com a administração desviam bilhões de reais do dinheiro que seria destinado a dar escolas com ensino de qualidade e merenda decente para nossas crianças e jovens. A corrupção desvia o sagrado dinheiro dos remédios e hospitais para os cofres de empresas privadas (geralmente de propriedade de políticos, seus parentes ou correligionários)”, pontua o ativista.
“Esperamos que este seja apenas um começo e que traga bons hábitos ao cenário político brasileiro”, opina o juiz federal Julier Sebastião ao comentar a grande onda de manifestações que invade o país, especialmente contra a corrupção.
No que se refere à Copa 2014, que também tem sido alvo de protestos, o magistrado observa que esses questionamentos são válidos na medida em que várias prioridades sociais do Brasil não têm sido atendidas e os governos federal, estaduais e municipais não têm investido. “Nosso país tem, sim, condições de realizar um evento de grande porte, ao mesmo tempo em que prioriza os setores essenciais”.
As manifestações continuam em Cuiabá, no interior do Estado e Brasil afora. A pressão popular já levou o Governo Federal e o Congresso a votarem, em caráter emergencial, medidas para atender o clamor das ruas. A presidente Dilma Rousseff anunciou que vai destinar 75% do pré-sal para a educação e 25% para a saúde, o Senado aprovou projeto que torna a corrupção crime hediondo, e também foi anunciado um plebiscito para definir as prioridades do país. A PEC 37, que diminuía o poder do Ministério Público, também foi reprovada.
Por Sandra Carvalho e Diego Fredericci
Foto: Pedro Alves