Os dez anos longe do Planalto contrastam com o início meteórico dos tucanos. Criado como um "partido de quadros" por integrantes à esquerda do PMDB insatisfeitos com a falta de espaço, o PSDB chegou à Presidência após somente seis anos de existência, com Fernando Henrique Cardoso.
"Fomos para o poder precocemente", diz o deputado federal Marcus Pestana (MG), 53, fundador do partido.
Para ele, a vitória foi fruto de "eventos acidentais da história": a queda de Fernando Collor, a nomeação de FHC para ministro da Fazenda de Itamar Franco e finalmente o bem-sucedido Plano Real.
A campanha vitoriosa ficou marcada ainda pela controversa aliança com o PFL (atual DEM), que empurrou os tucanos para o centro no espectro político-partidário.
Foi em 1994 também que começou a polarização com o PT, enterrando a aproximação de 1989, quando os tucanos apoiaram Lula no segundo turno, contra Collor.
"Aquela reação do PT no início do governo, de 'Fora FHC', foi uma pisada na bola", afirma o dirigente paulista e fundador Raul Christiano, 54. "Hoje, nada nos reaproxima, cada um tem seu caminho estratégico."
Com a vitória de Lula, em 2002, o PSDB passou a ser a principal força de oposição.Perdeu no segundo turno de novo para Lula, em 2006, e em 2010, quando Dilma Rousseff venceu a disputa.
Para 2014, há mudanças importantes. Depois de quatro candidatos com trajetória em São Paulo, o mineiro Aécio Neves já é tido como candidato -antecedência inédita na era pós-poder.
O tucano aparece com 14% das intenções de voto na pesquisa Datafolha realizada no início do mês. Está tecnicamente empatado com Marina Silva (16%), enquanto Dilma lidera com 51%.
Embora a antecipação do consenso em torno de Aécio seja motivo de celebração entre os tucanos, o engajamento dos colegas paulistas na campanha ainda é uma incógnita. Tanto José Serra quanto Geraldo Alckmin se ressentem com a falta de empenho de Aécio durante as campanhas presidenciais de 2006 e 2010.
O desgaste maior é com Serra, que vem ameaçando deixar o partido por falta de espaço. Uma eventual candidatura em 2014 teria potencial para tirar votos de Aécio.
Discurso
A pouco mais de um ano da eleição presidencial, outro desafio tucano é achar um discurso capaz de fazer frente aos petistas.
"O PSDB tem muito conteúdo, mas ainda não conseguiu, nos últimos anos, alguém que pudesse transformar esse conteúdo em palavras de ordem e bandeiras e que pudessem ser percebidas com mais facilidade pela população. Esse é o grande desafio", diz Christiano.
Para Pestana, outro ajuste é a defesa mais veemente do governo FHC, que ele chama de "transformador" em áreas como estabilidade econômica e telecomunicações.
"Ficamos equivocadamente acuados com alguns temas, como a privatização. Era fácil enfrentar: nós saímos de 500 mil celulares para 200 milhões de celulares, e a população entenderia isso", disse o deputado, fiel aliado de Aécio.
Pestana afirma ainda que a construção de um discurso enfrenta um novo desafio com as manifestações dos últimos dias pelo país. "Cabe ao PSDB, sob a liderança do Aécio e da nova executiva, fazer a leitura correta desse novo momento."
Folha