Mato Grosso é atualmente o campeão brasileiro em uso de agrotóxicos e o Brasil se configura desde 2006 como liderança mundial do uso de defensivos. O grande problema é que essa realidade está longe de mudar. Conforme relata a engenheira agrônoma e técnica da FASE (Fundação de Assistência técnica Social e Educacional) Francileia Paula de Castro, isto se dá principalmente por falta de políticas públicas e de assistência rural.
“A maioria dos agricultores, principalmente os menores, não sabe como realizar uma produção orgânica. Sem informações, eles acabam optando pela produção mais rápida”, pontua.
Para esses produtores a situação fica ainda mais complicada quando buscam financiamento para a produção. Na hora da avaliação do crédito rural, as instituições financeiras solicitam para o agricultor o pacote verde. Este pacote contempla as notas fiscais de agrotóxicos, de adubos e sementes modificadas geneticamente. Diante dessas informações, os bancos avaliam os riscos e liberam o crédito. Já no caso de uma produção orgânica, fica pouco viável para quem não possui capital de investimento.
O mesmo problema é visto na busca da certificação do alimento orgânico, já que a legislação prevê uma série de normativas para qualificar o produto. As empresas que fazem as qualificações cobram pelas visitas técnicas. As embalagens também são mais caras do que as comuns.
Em Mato Grosso o problema da logística também ajuda na oneração do produto, já que a maioria dos orgânicos não é produzida no estado.
Em Mirassol D’Oeste, pequenos produtores montaram uma indústria agroecológica para certificação do produto orgânico através de uma parceria com entidades de controle social. Desta forma, passaram a receber a certificação com valores mais reduzidos, segundo a agrônoma Francileia.
“Se este tipo de atuação fosse mais divulgado, tenho certeza que a agricultura orgânica seria muito mais viável e teria um grande aumento no estado. O grande problema é a falta de incentivo até mesmo de informação gerada pelos governos municipais e estaduais e pelo governo federal. Enquanto esta atitude não mudar, o agronegócio continuará cada vez mais forte e a saúde da população mais frágil”, alerta.
Recentemente, dados da Associação Brasileira de Saúde Coletiva, entidades de pesquisa e organizações sociais apresentaram um dossiê de mais de 500 páginas, contendo todos os impactos do consumo dos alimentos com agrotóxicos, para o Ministério da Agricultura. De acordo com o relatório, até a água potável apresenta níveis elevados de envenenamento.
Por Mayla Miranda – Da redação
Fotos: Pedro Alves