Internacional

Brasileiros enfrentam pobreza e doenças para construir escola na África

 
Depois de arrecadar dinheiro pela internet, em festas e rifas, o jornalista Vinicius Zanotti e o construtor Fabio Ivamoto Peetsaa embarcaram rumo ao país no começo do ano. O plano é concluir o projeto até julho.
 
Na comunidade de Fendell, periferia da capital Monróvia, eles trabalham sem descanso para erguer o prédio de bambus. Os dois vivem num galpão, ao lado da futura escola, sem energia elétrica e água encanada. As baterias das câmeras fotográficas e do computador são carregadas graças a um inversor de energia, que utiliza a bateria de um carro para funcionar. A alimentação é precária e o medo de doenças, uma constante. 
 
"O grande lance é que, pela falta de recursos, adotamos um padrão de vida tipicamente liberiano, o que de certa forma nos deixa mais vulneráveis. Melhorar nossa alimentação é uma coisa extremamente necessária", diz Zanotti, que coordena a iniciativa. Ele conta que parte da equipe de liberianos que ajuda na construção da escola já contraiu doenças, principalmente a malária. Questionado sobre o que o motiva a viver por tanto tempo nessas condições, o jornalista não hesita. "As crianças. Acho que elas têm direito a um local mais digno de estudo."
 
A ideia de construir a escola surgiu em 2010, quando Zanotti viajou à Libéria para realizar o sonho da adolescência de visitar a África. No país ele conheceu o trabalho de Sabato Neufville, um liberiano que construiu um galpão com bambu para organizar aulas para cerca de 300 crianças da comunidade. Foi lá, também, que contraiu febre tifoide e malária e precisou estender a viagem que seria de 15 dias para mais de dois meses. Nesse tempo, gravou imagens do local e coletou depoimentos que se transformaram no documentário Escola de Bambu. O vídeo de 15 minutos foi premiado em diversos festivais e tornou-se o mote da campanha para construir um novo prédio, com condições dignas de estudo para as crianças da comunidade.
 
A matéria-prima da escola sustentável continua sendo o bambu, mas o projeto também utiliza taipa de pilão, filtro biológico de bananeira e um gerador de energia fabricado com ímãs de HDs de computador quebrado e rodas de bicicleta, inventado por Peetsaa. O modelo da escola foi desenvolvido pelo arquiteto brasileiro André Dal’bó, que viajou para a Libéria em março e permaneceu lá por 35 dias.
 
Segundo Zanotti, já foram construídos quatro módulos com três salas de aula em cada um. A estrutura de bambu do primeiro módulo está concluída e a estrutura do segundo módulo deve ser finalizada esta semana. "Tivemos um atraso de apenas duas semanas, diante das dificuldades de se construir na Libéria. As empresas aqui são poucas e 90% das mercadorias são importadas."
 
Projeto ainda depende de doações
 
Para concluir a escola, Zanotti estima que ainda são necessários R$ 30 mil – o valor total do projeto é de cerca de R$ 250 mil. Doações podem ser feitas por meio de uma conta criada pelo grupo e pela compra de produtos – como canetas e DVDs – no site www.escoladebambu.com. Familiares e amigos dos "bambuzeiros", como são chamados os voluntários, ainda fazem rifas e festas para arrecadar dinheiro. No último fim de semana, por exemplo, os pais do jornalista organizaram uma feijoada em Campinas (SP), onde residem, para angariar fundos para o projeto.
 
Zanotti conta que o grupo procurou ajuda de ONGs e outras instituições internacionais para concluir a escola, mas não obteve sucesso. "Sempre dizem que eles têm os próprios projetos. Quem nos ajuda são os brasileiros, pessoas comuns, que, quando podem, fazem doações", afirma. 
 
Família e futuro
 
No dia 29 de janeiro deste ano, quando Zanotti se preparava para embarcar para a Libéria, o pai do jovem escreveu um depoimento emocionado no Facebook sobre a trajetória do filho. Ele disse que sonhava em ver o garoto estudando nos Estados Unidos ou na Europa, aprendendo idiomas e tudo sobre tecnologia da informação, mas que o jovem cresceu e optou por ajudar a transformar destinos de crianças pobres. "Na globalização em que os interesseiros vislumbraram a possibilidade do enriquecimento, esses meninos enxergaram a oportunidade de resgatar um grão de areia no oceano de dívidas que acumulamos com os nascidos no continente africano", escreveu Carlos Alberto Zanotti.
 
Mais de três meses depois, o jovem diz que o incentivo da família foi fundamental para criar a coragem de abandonar tudo pela escola de bambu. "Tenho certeza que eles têm perdido noites de sono nestes meses que estou aqui, no mesmo lugar que tenho um histórico de malária e febre tifoide. Porém, me deram força, um abraço apertado e desejaram muita sorte quando sai do Brasil", diz Zanotti, ao relembrar o medo das doenças.
 
Ele ainda diz que quer retornar ao Brasil quando a escola ficar pronta e começar a pensar em procurar emprego e tocar a vida adiante. "Acho que, chegando (perto) dos 30 anos, preciso me atentar para minha vida pessoal e carreira, pensar em casar, ter filhos, estabilizar a vida, ter minha casa. Já são três anos em meio de Escola de Bambu", completa. Pelo menos ele vai poder contar aos filhos que ajudou a mudar a vida de mais de 300 crianças que, sem educação, teriam seu destino maculado pela miséria e violência.
 
Fonte: Terra

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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