Internacional

Empresas ocidentais ficam sob pressão por desabamento em Bangladesh

Oficiais da polícia e da indústria culparam os chefes das oficinas de costura de garantir que a estrutura do prédio era boa, levando à decisão de permitir que 3 mil operários voltassem ao trabalho. O proprietário do prédio Rana Plaza, cujo colapso no dia 24 deixou até agora mais de 500 mortos , foi preso quatro dias depois do acidente .
 
Empresas ocidentais que haviam prometido tomar medidas pela segurança das fábricas de Bangladesh que produzem suas mercadorias vinham sendo pressionadas a tomar uma atitude desde um incêndio mortal em novembro. Ativistas que vasculharam os escombros encontraram rótulos e documentos que ligam as fábricas a grande marcas europeias e americanas, como Children’s Place, Benetton, Cato Fashions, Mango e outras.
 
PVH, a empresa-mãe das marcas Calvin Klein e Tommy Hilfiger, e Tchibo, uma varejista alemão, endossaram um plano no qual os varejistas ocidentais financiariam os esforços de segurança anti-incêndio e as melhorias estruturais nas fábricas de Bangladesh – embora queiram que outras empresas assinem o contrato antes.
 
O Wal-Mart se recusou a participar desse esforço. Mas, em janeiro, anunciou que exigiria que as fábricas corrigissem rapidamente quaisquer violações de segurança e demitiria qualquer empreiteiro que utilizasse fábricas não aprovadas ou pouco seguras. Três semanas atrás, o Wal-Mart prometeu US$ 1,8 milhão para criar um instituto de saúde e segurança em Bangladesh para treinar 2 mil gerentes de fábricas sobre segurança contra incêndios.
 
No dia 25, as autoridades do Bangladesh iniciaram uma investigação sobre o colapso, enquanto a polícia fez acusações de negligência contra o proprietário do edifício, Mohammed Sohel Rana , seu pai, e os proprietários de quatro fábricas no prédio. A Suprema Corte de Bangladesh também emitiu uma intimação a Rana, que está envolvido na política local do partido governista a Liga Awami.
 
A principal questão levantada foi por que as fábricas de roupas nos andares superiores do edifício Rana Plaza em Savar, no arredores da capital Daca, operavam normalmente quando a estrutura desabou no dia 24. Os líderes do setor continuaram responsabilizando Rana e o que classificaram como falsas afirmações de que a estrutura era segura. Várias empresas ocidentais de vestuário emitiram declarações reconhecendo que haviam utilizado oficinas no prédio e expressaram suas condolências.
 
A varejista britânico Primark confirmou que usava uma fábrica no segundo andar do prédio e disse estar "chocada e profundamente triste com esse terrível incidente". A empresa também disse que estava envolvida havia vários anos com organizações não governamentais e outros varejistas "para rever a abordagem da indústria de Bangladesh relacionados aos padrões das fábricas do país".
 
Mas algumas empresas ocidentais, incluindo a Benetton, negaram ter utilizado os serviços das fábricas de lá apesar de terem sido encontrados documentos a vinculando às oficinas de costura no Rana Plaza. Defensores dos operários disseram ser possível que os subcontratantes estivessem utilizando as fábricas sem o conhecimento das empresas.
 
O que está cada vez mais claro é que o colapso não foi uma surpresa. Incêndios em oficinas já mataram centenas de trabalhadores da indústria de vestuário na última década. Ao mesmo tempo, muitos edifícios fabris são precários e pouco seguros. Segundo os bombeiros de Bangladesh, os andares superiores do Rana Plaza foram construídos ilegalmente.
 
Um dia antes do colapso, a notícia sobre as rachaduras no prédio começou a se espalhar. Nazmul Huda, repórter da TV local, disse que correu para o local, mas que homens contratados pelo proprietário do edifício o impediram de entrar no prédio para filmar os danos.
 
O governo de Bangladesh declarou 25 de março como dia de luto nacional, mas a ira e a indignação podiam ser presenciadas nas ruas. Centenas cercaram um edifício industrial no centro de Daca, indignadas pelo fato de que fábricas de vestuário continuavam operando no local, e atiraram tijolos nas janelas, exigindo que o trabalho fosse interrompido. Milhares de outros trabalhadores de vestuário também participaram de protestos em distritos industriais ao redor da capital.
 
Bangladesh é o segundo maior exportador mundial de vestuário, e a indústria têxtil nacional depende de uma fórmula de baixos pagamentos da qual o salário mínimo é de cerca de US$ 37 por mês.
 
As exportações de vestuário são um fator crítico para a economia de Bangladesh, o que cria pressão para manter os salários baixos e os trabalhadores disciplinados. Os sindicatos são quase inexistentes na indústria. O sindicalista Aminul Islam foi morto no ano passado em um caso que ainda não foi resolvido.
 

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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