Cidades

Empresa pede curso superior até para recepcionista nos EUA

Um exemplo é o escritório de advocacia Busch, Slipakoff & Schuh, em Atlanta, cidade que viu uma alta considerável em seu número de moradores com diplomas de curso superior. Como outros empregadores norte-americanos, o escritório só contrata pessoas que tenham no mínimo um diploma de graduação, mesmo para funções que não requeiram capacitação universitária.

O requisito se aplica a todos os funcionários, incluindo recepcionistas, assistentes de pesquisa jurídica, pessoal administrativo e os encarregados dos arquivos. Até o mensageiro do escritório, que recebe salário da ordem de US$ 10 por hora para levar documentos da empresa para o fórum e vice-versa, tem um diploma de graduação pleno.

"As pessoas com formação universitárias pensam mais em suas carreiras", diz Adam Slipakoff, o sócio diretor do escritório. "Fazer uma faculdade significa que eles assumiram um compromisso sério para com os seus futuros. Não estão pensando apenas no salário."

Economistas já definiram esse fenômeno como uma "inflação de diplomas" e ele vem ganhando força constantemente no mercado de trabalho norte-americano. Em todos os setores e regiões geográficas, muitos postos de trabalho que não costumavam requerer diploma universitário -assistente odontológico, agente de carga, auxiliar de escritório, técnico de seguros- agora requerem diplomas com frequência cada vez maior, de acordo com a Burning Glass, companhia que analisa anúncios de emprego de mais de 20 mil fontes on-line, entre as quais grandes fóruns de empregos e sites de empregadores de pequeno e médio porte.

O rigor crescente quanto aos pré-requisitos para empregos força um rebaixamento ainda maior na posição das pessoas com nível inferior de educação, e ajuda a explicar por que o índice de desemprego para os trabalhadores com no máximo um diploma de ensino médio é duas vezes mais alto do que para os trabalhadores com diplomas de graduação – 8,1% ante 37%.

Alguns cargos, como os de gestão de logística e cadeia de suprimentos, tornaram-se mais técnicos e por isso hoje existem capacitação mais avançada do que era o caso no passado. Mas, em termos mais amplos, porque tantas pessoas fazem cursos superiores hoje em dia, aquelas que não os fazem são muitas vezes vistas como menos ambiciosas ou menos capazes.

Além do que o mercado favorece muito os empregadores, no momento.

"Quando você recebe 800 currículos para cada anúncio de emprego publicado, é preciso haver critérios de filtragem", diz Suzanne Manzagol, que trabalha com recrutamento de executivos no Cardinal Recruiting Group, a empresa de recursos humanos que o Busch, Slipakoff & Schuh e outras empresas da região de Atlanta usam em suas buscas de candidatos a postos executivos.

De todas as regiões metropolitanas dos Estados Unidos, a de Atlanta recebeu um dos maiores influxos de pessoas com formação universitária nos cinco últimos anos, de acordo com uma análise de dados de recenseamento realizada por William Frey, demógrafo da Brookings Institution. Em 2012, 39% das ofertas de empregos para secretários e assistentes administrativos na região metropolitana de Atlanta requeriam diploma superior, ante 28% em 2007, de acordo com a Burning Glass.

"Quando comecei a trabalhar com recrutamento, em 2006, um diploma universitário não era necessário para esses cargos, mas o número de candidatos era muito menor", diz Manzagol.

Mesmo que não estejam exatamente aplicando o conhecimento adquirido em seus cursos de ciências políticas, finanças e marketing de moda, os jovens formandos empregados pelo Busch, Slipakoff & Schuh se declaram agradecidos até mesmo pelos postos de escritório mais chatos e repetitivos.

"Melhor que trabalhar em um lava-rápido", diz Landon Crider, 24, o polido mensageiro do escritório.

E ele sabe bem do que está falando. Quando estudava na Universidade Estadual da Geórgia e nos meses posteriores à sua formatura, ele trabalhou lavando carros na locadora Enterprise Rent-a-Car. Antes de começar no escritório da advocacia, foi rejeitado para o posto de agente de locação na Enterprise -um cargo que também requeria diploma -, segundo a empresa porque não tinha experiência em vendas.

Seus colegas de trabalho recentemente formados também passaram por essa falta de oportunidades, e alguns encontraram empregos em restaurantes ou lojas enquanto aguardavam uma oportunidade melhor.

"Devo mais de US$ 100 mil em crédito educativo, no momento", conta Megan Parker, que ganha US$ 37 mil ao ano como recepcionista do escritório. Ela se formou no Art Institute of Atlanta em 2011, com diploma em moda e gestão de varejo e passou meses atendendo a noivas rudes em uma loja fina, e trabalhando em outras lojas, enquanto procurava um emprego em escritório.

"É provável que eu jamais consiga pagar aquela dívida, mas não quero pensar nisso agora", ela diz. "Pelo menos este é um lugar ótimo para trabalhar."

O risco de contratar pessoas com diplomas superiores para postos que requerem qualificações muito inferiores é o de que elas deixem seus empregos assim que encontrarem algo melhor, especialmente se a economia continuar melhorando.

Slipakoff afirmou que sua empresa não tem visto um giro muito grande de pessoal, em larga medida porque está se expandindo rapidamente. O escritório tinha cinco advogados em 2008 e agora tem 30, com mais 15 funcionários de apoio, e não faltaram promoções.

"Eles esperam que você cresça, e querem que você cresça", diz Ashley Atkinson, que se formou na Georgia Southern University em 2009, com um diploma em estudos gerais. "Você não fica restrito ao posto inicial."

Um ano depois de ser contratada como arquivista, por volta de outubro de 2011, ela recebeu duas promoções, para cargos no marketing e na gerência administrativa do escritório. O mensageiro Crider recebeu atribuições adicionais no mês passado, e agora ajuda com as cópias e com os cálculos de horas trabalhadas. Ele diz que está aproveitando a oportunidade para aprender mais sobre o mercado jurídico, porque planeja estudar Direito a partir do ano que vem.

A maior história de sucesso do escritório é a de Laura Burnett, que em menos de um ano passou de arquivista a principal assistente de pesquisa jurídica na divisão de litígio do escritório. Os sócios se impressionaram tanto com sua competência nos arquivos que decidiram que ela estava apta para o novo posto.

"E me deram um aumento, também", diz Burnett, que se formou em 2011 na Universidade do Oeste da Geórgia.

O cargo de assistente de pesquisa jurídica, que tradicionalmente oferecia a pessoas com nível mais baixo de educação o acesso a empregos mais bem pagos, não requer mais que um diploma de licenciatura curta, de acordo com o manual de ocupações do Departamento do Trabalho norte-americano, mas ainda assim é um cargo superior ao de arquivista. Burnett tem duas irmãs, e acha que tem o melhor emprego entre elas. Uma das irmãs se formou na mesma universidade que ela e está trabalhando em processamento de coberturas de seguro; a outra, que abandonou a universidade, é mais uma dos muitos jovens desprovidos de diploma que não conseguem encontrar empregos.

Além das oportunidades de promoção que a prática cria, contratar apenas pessoas com graduação universitária reforça a camaradagem do escritório, diz Slipakoff, que responde pela maioria das contratações e costuma favorecer candidatos que, como ele, tenham estudado na Universidade da Flórida. Há muitas piadas sobre os times de futebol americano das universidades do pessoal, por exemplo, e os enfeites de Natal do ano passado eram figuras coloridas com os mascotes dessas equipes – crocodilos, pássaros, lobos, águias, tigres e panteras; quase todas as universidades em que os funcionários estudaram estavam representadas.

"Se tivéssemos um funcionário com diploma de supletivo, algo assim, ele poderia se sentir ofendido com a atmosfera social do escritório", diz Slipakoff. "Há algo de coesivo, um traço de união, por termos todos feito faculdade".

Fonte: FOLHA.COM

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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