“Tem gente que ainda acha que o risco de choque de um asteroide é uma coisa de ficção científica. Mas, isto é absolutamente real. Já aconteceu no passado”, conta o doutor em Ciências pela USP e editor-chefe da revista Scientific American Brasil, Ulisses Capozzoli.
O DA14 vai passar muito perto da Terra, levando em conta as distâncias no espaço. “A passagem deste asteroide há mais ou menos 27 mil km de distância é muito pequena. Isto deve servir para nós como um alerta”, afirma Capozzoli.
Esta pequena montanha voadora, na máxima aproximação da Terra, atingira magnitude 8 (unidade de brilho). Portanto, ele não será visível a olho nu. O limite de observação para o olho humano, num céu escuro, está entre as magnitudes 5 e 6.
O asteroide da série Apollo (que penetra o interior da órbita da Terra em torno do Sol), de 45 metros de diâmetro (meio campo de futebol) não oferece risco de colisão com o planeta, porém o cientista tem a certeza de que outro asteroide do tipo irá atingir a Terra no futuro – e temos que estar preparados para isso.
O asteroide DA14 se desloca pelo espaço a aproximadamente 28 mil km/h. Portanto, com tanto peso e tão rápido, o choque de um asteroide do mesmo tamanho que o DA14 com a Terra seria equivalente a uma nova bomba atômica, como a jogada na cidade de Hiroshima na Segunda Guerra Mundial. “Imagine um martelo desse vindo do espaço, viajando a quase 30 mil km/h pesando 130 mil toneladas. É literalmente uma martelada na superfície da Terra. No caso deste asteroide, as estimativas que estão sendo feitas é que esta energia seria equivalente a de uma bomba atômica”, explica o cientista.
O cientista explica que a destruição seria significativa se a colisão acontecesse em uma área urbanizada – afinal, como a humanidade presenciou durante a guerra, tal energia seria capaz de pulverizar uma cidade média.
“Uma série de asteroides e cometas já atingiram a superfície da Terra. As estimativas do ponto de vista astronômico é que existem, pelo menos, 4.700 asteroides que podem se chocar com a Terra. Uma parte deles têm dois a três quilômetros de diâmetro. Este atual tem só 45/50 metros”, alerta o editor-chefe da revista Scientific American Brasil.
Capozolli aponta para casos passados para justificar sua opinião. A cratera de Barringer, em Winslow, no Arizona (EUA) é um exemplo clássico. A cratera tem pouco mais de um quilômetro de diâmetro e 200 metros de profundidade. A estimativa é que o marco tenha sido criado por um meteorito (ou bólido) há 50 mil anos. O tamanho do bólido que atingiu o Arizona? O mesmo tamanho do asteroide que vai passar “raspando” na Terra na sexta!.
Além disso, Ulisses não descarta a possibilidade de que a Terra possa ser atingida por um asteroide vindo de um “ponto cego”. “A Terra está girando em torno do Sol. Suponha que você está girando em torno de um tambor, em um pátio, pode vir uma pedrada nas suas costas e você não ver direito. Este tipo de asteroide é mais difícil ainda de ser identificado. Há alguns anos atrás, um asteroide de 400 metros passou também próximo da Terra”.
“Não é aquela ideia tola do fim do mundo de 21 de dezembro de 2012. Isto aqui é real”, comenta o cientista. Isto acontece, pois este tipo de material é uma espécie de “entulho do sistema solar” que transita na órbita do sol. No Brasil, há seis crateras confirmadas de quedas de asteroides.
As duas hipóteses mais levantadas pela ficção para defender a Terra de um choque também foram comentadas pelo cientista: destruir o asteroide com um míssil ou acoplar uma nave para desviar o corpo celeste. O problema na primeira hipótese, segundo Ulisses, é criar uma chuva de corpos menores.
“A maior lição que a gente pode tirar é as pessoas se convenceram de que [o risco de choque com um asteroide] não é uma ameaça velada. Um asteroide vai se chocar com a Terra – é certo que vai acontecer. A questão é quando”, comenta Ulisses Capozzolli. O cientista ainda afirma que precisamos estar prontos para o momento que um desastre como este for iminente.
O especialista também alerta que a humanidade precisa se preparar para o impacto psicológico que a queda de um corpo celeste deste tamanho pode causar. Capozolli considera que um acontecimento como este pode mexer com o moral dos seres humanos e causar uma histeria generalizada.
“Nós estamos em um estágio de desenvolvimento de ciência e tecnologia onde temos a obrigação de pensar nessa ameaça e unir todo esse conhecimento para fazer a defesa”, comenta o cientista.
De acordo com o doutor em Ciências, a única forma de prevenir sociedade deve dar mais atenção para a comunidade científica e financiar esforços para a construção de mais observatórios e iniciativas de vigilância e patrulhamento do céu para identificar astros que podem se chocar com a Terra.
FONTE: PrimeiraHora | R7