O grande perigo está sendo apresentado pelos agricultores que foram obrigados a deixar a região de Suiá-Missú por conta da desintrusão dos não índios dos mais de 165 mil hectares da reserva xavante Marãiwatsédé, no nordeste de Mato Grosso. Com a sequência de chuvas na região e falta de aplicação de fungicidas, muitas lavouras já apresentam focos da doença.
A falta de planejamento na retirada dos produtores pode causar mais danos para o estado do que para as famílias retiradas da região, alerta o agricultor Paulo Vieira Gonçalves que também teve de deixar a área.
“É um absurdo tudo o que está acontecendo no estado, nem deixaram ao menos os agricultores realizarem a colheita de cerca de 4 mil hectares na região, e esta falta de senso pode prejudicar até agricultores que não têm nada a ver com isso. Não é possível que eles não vejam o que está bem debaixo dos seus próprios narizes, a ferrugem é um fungo que é transmitido pelo vento, e o saldo desta irresponsabilidade pode ser trágico para o setor”, desabafou o agricultor.
Após diversos alertas dos agricultores da região, o Ministério da Agricultura enviou para a Fundação Nacional do Índio (Funai) um laudo técnico alertando para a necessidade do controle sanitário nas plantações de soja na área indígenas de Suiá-Missú, para que a ferrugem asiática não se espalhe para os cerca de 100 mil hectares de lavouras no entorno. Exames laboratoriais realizados em amostras colhidas nas lavouras da região comprovaram os focos de ferrugem asiática.
Em resposta à solicitação, a Funai chegou a conceder quatro dias para a realização do trabalho, tempo insuficiente considerando a extensão das áreas plantadas. Diante da situação, a Aprosoja solicitou ao Mapa que realizasse vistoria na área para convencer o governo federal a tomar providências preventivas.
Sem capacidade de alojamento, cidades ficam lotadas
Além das lavouras, as cidades vizinhas à área também sofrem diretamente com a desocupação: o município de Alto da Boa Vista, a 1.064 km de Cuiabá, é o mais afetado diretamente, já que perdeu 72% do seu território.
Segundo o prefeito do município, Leuzipe Domingues Gonçalves (PMDB), a tragédia anunciada vem fazendo ainda mais vítimas com a falta de apoio às cidades afetadas pela desocupação. As cidades estão lotadas e não têm capacidade para abrigar tantas famílias, o que gera uma reação em cadeia, como falta de escolas e de saneamento básico e, principalmente, de moradias.
“Estas pessoas que viviam de forma decente do seu próprio sustento, hoje estão aqui na cidade sem as mínimas condições. O município também não pode fazer muita coisa por eles, já que perdemos a maioria da nossa receita. Na tentativa de amenizar o impacto inicial, com ajuda do governo, nós alugamos casas e alojamos algumas famílias e estamos disponibilizando cestas básicas, mas não podemos garantir esta ajuda por muito tempo”, alerta o gestor.
Mayla Miranda – Da Redação