Dois ex-membros de um esquadrão especial da polícia londrina disseram ao jornal The Guardian que usaram carteiras de identidade e outros documentos emitidos com o nome de crianças mortas.
O procedimento teria sido repetido por outros policiais com cerca de 80 identidades de crianças, diz o jornal. A prática era conhecida há pelo menos uma década, mas a polícia londrina informou que "atualmente" ela não é autorizada.
O esquadrão especial em questão é o SDS (Special Demonstration Squad), encarregado de infiltrar grupos britânicos considerados subversivos e violentos e que deixou de existir em 2008. Em comunicado, a polícia metropolitana de Londres disse ter "recebido uma queixa formal (a respeito da prática), que está sendo investigada pelo departamento de conduta profissional".
Segundo a polícia, serão apurados "esquemas (usados no) passado de identidades secretas utilizados por policiais do SDS".
À paisana
Acredita-se que os policiais integrantes da SDS buscassem registros de crianças mortas com datas de nascimento semelhantes às deles próprios e se fizessem passar por elas. O objetivo seria proteger a identidade dos policiais caso suas atividades fossem questionadas.
Documentos também obtidos pelo The Guardian indicam que os dois policiais consultados usaram os documentos falsos entre 1968 e 1994. Também está sob escrutínio a acusação de que um policial do esquadrão teria se infiltrado em grupos ativistas ambientais e tido – à paisana – relações sexuais com duas integrantes.
Ken MacDonald, ex-diretor da Promotoria Pública, pediu nesta segunda-feira que seja instalado um inquérito público para investigar as atividades secretas da polícia do país e garantir que o uso de identidades de mortos não seja mais praticado.
MacDonald disse considerar "completamente impróprio" que policiais tenham usado identidades de crianças e se relacionado com pessoas que investigavam. "São exemplos de áreas em que a polícia perdeu completamente sua bússola moral e fracassou em estabelecer limites", declarou.
Ele disse também não saber como essas unidades policiais operavam nem o quanto a cúpula da polícia londrina sabia de sua atuação. "Precisamos de um inquérito público a respeito para termos a certeza de que esses procedimentos não estão sendo usados atualmente."
O chefe da polícia Alex Marshall criticou o roubo de identidade de crianças, mas disse acreditar que um inquérito público "gastaria muito dinheiro e levaria muitos anos". Marshall afirmou que uma comissão recémcriada vai definir limites para operações secretas da polícia.
Fonte: Último Segundo | BBC BRASIL